O dólar vai subir

17 de fevereiro de 2022
Neste ano, acumulamos quase R$ 50 bi de entrada de estrangeiros. Pelo fato do nosso mercado estar tecnicamente comprado, na ponta oposta esse efeito foi muito grande. O que sabemos é que a posição técnica e preço são importantes e eles se deterioraram. Some isso a notícias ruins e o dólar sobe. Entenda no Relatório de hoje.

Caro(a) leitor(a),

O mercado de câmbio é considerado por muitos um dos mais difíceis: economistas constantemente erram suas previsões. Mudanças macroeconômicas internas relevantes, às vezes, têm pouco impacto na sua trajetória e porque metade do par tradicional, o dólar-real, é a moeda de outro país, vem sofrendo toda uma série de influências globais, ocasionalmente, fica difícil achar a casualidade que nossos cérebros gostam de enxergar todo dia. 

Faz parte do modus operandi de qualquer trader tentar buscar padrões para aquilo que vemos no dia a dia, isso torna o caos menos desafiador e traz aquele grau de confiança necessário para se entrar numa operação.

Nesse sentido, um dos maiores erros para um trader é simplificar um ativo, principalmente baseado na sua trajetória recente. E mais grave, simplificando-o para um movimento unidimensional como o que está sendo dito hoje: fluxo de entrada de estrangeiro. 

Neste ano, acumulamos quase 50 bilhões de reais de entrada de estrangeiros, em mais de 40 dias de fluxos consecutivos. Pelo fato do nosso mercado estar tecnicamente extremamente comprado posicionado na ponta oposta, com brasileiros com posições recordes em BDRs e criptoativos, a nossa bolsa largada nas mínimas e, com a maioria dos maiores fundos multimercados com posições pessimistas (perdendo dinheiro enquanto o mercado melhorava), esse efeito foi muito grande, stopando diversos players e pegando muitos de surpresa (não nós, como publicamos em outros Relatórios Especiais para comprar bolsa brasileira: A recuperação na bolsa americana ontem: sinal amarelo!”; “Dólar: agora cai?”; e “Começou o grande movimento. Você faz parte dele?”).

O tempo passou, o fluxo continuou e se juntaram a eles, os brasileiros que repatriaram capital e fundos que agora estão majoritariamente de forma otimista. Além disso, o preço mudou muito, se incluirmos o carrego. Os nossos US$ 5,13 em dólar de hoje são menores que os US$ 4,92 de julho. Isso importa muito porque, agora, a nossa bolsa em dólar já subiu 33%, portanto, o técnico está bem pior e o consenso acha que não temos risco aqui. 

E não muito tempo atrás, o consenso achava literalmente o contrário. 

No final de dezembro do ano passado, quando o dólar operava a US$ 5,70, o Banco Central vendeu 17 bilhões de dólares americanos em leilões de swap para fazer frente ao grande fluxo de saída sazonal (mais que o dobro da entrada de estrangeiros este ano).

Esse volume de saída é o dobro do que vimos nos últimos 40 dias, e na época, o consenso era ter posições compradas justamente por causa das saídas. Como sabemos, essa estratégia deu muito errado porque não temos como saber quando esse fluxo reverte, e, às vezes, acontece de forma muito brusca.

No final, o que sabemos é que a posição técnica importa, e ela se deteriorou. Os riscos no campo macroeconômico interno, com a inflação colocando os Banco Centrais em sinucas de bico, fizeram com que o risco se deteriorasse. E temos até novas tensões no campo geopolítico nas cadeias de logística. Preços piores, notícias piores: risco versus retorno pior.

E vamos lembrar que o grande impulso para o movimento no câmbio foi a queda nos juros. Quando ela começou e foi para as mínimas, o dólar foi subindo. O final da alta já está no horizonte e, na curva, vemos quedas este ano. Se a parte cíclica do mundo macro voltar a fazer preço, já podemos ver os juros caindo e com isso, a volta da pressão de compra no câmbio.

Nunca é fácil comprar, nunca é fácil vender. E mais do que tudo, nunca é algo simplório.

Um abraço,
Rodrigo Natali

Nota de editor: quer conhecer a carteira que ganhou enquanto o dólar subiu e caiu? Assine a série Você Gestor, liderada por mim, Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inversa, ex-diretor de câmbio do Unibanco e do Itaú Unibanco, e com apoio de Nícolas Merola, analista CNPI.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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