Caro(a) leitor(a),
Num dia em que se diz que a guerra está chegando ao fim, com gostinho amargo de derrota para Vladimir Putin, inicia-se uma outra, esta comercial.
Refiro-me aos fertilizantes.
Vamos aos fatos:
Muita gente fala que o mundo depende do petróleo russo, afirmação que não deixa de ser em parte verdadeira. Mas a dependência crítica mesmo é dos fertilizantes produzidos por aquele país.
Só para fazer uma analogia, no grande choque do petróleo de 1973 não houve falta do produto. O que aconteceu foi que a Arábia Saudita e outros países da OPEC diminuíram a produção e exportação de óleo cru. Foi a época do embargo.
Agora temos o choque dos fertilizantes.
Quando o conflito começou, as exportações ucranianas desses insumos na prática pararam. Depois das sanções contra a Rússia, a resposta do Kremlin foi proibir a exportação de fertilizantes, praticamente, tirando do mercado dois dos maiores produtores mundiais.
Sem eles, a produtividade cai e, por via de consequência, os preços dos alimentos sobem. Não apenas isso, temos uma produção global menor, frente uma demanda que quase não muda.
Alguns países, como a Índia, por exemplo, já estão se apressando em fazer acordo com Moscou, garantindo suas cotas de amônia e potássio. Afinal de contas, são um bilhão e quatrocentos milhões de bocas para alimentar.
Aqui no Brasil, a próxima safra já irá sofrer com a falta de fertilizantes.
E não estou falando apenas de grãos e outros produtos agrícolas. A produção de proteína animal (gado, suínos e aves) também fica encarecida por causa das rações, feitas de soja, milho, sorgo, etc.
No orçamento dos ricos, o peso dos alimentos, mesmo que dobrem de preço, não pesa tanto. Já os pobres passam fome, já que seus salários são quase todos consumidos na mesa.
Ao iniciar a guerra, talvez Vladimir Putin não tenha dado tanta importância aos fertilizantes, se concentrando mais em tanques e mísseis. Agora deve estar se dando conta de que os países que quiserem comer terão de fazê-lo em sua mão.
Ivan Sant’Anna
Nota do editor: Ivan Sant'Anna também escreve, com exclusividade, todas as segundas, terças e quintas-feiras para a coluna Warm Up PRO que você pode assinar clicando aqui.