As decisões do FED e do BACEN

17 de março de 2022
Apesar da alta, a política monetária americana nunca foi tão expansionista quanto agora e, mesmo assim, o FED escolheu ser mais dovish. No Brasil, fomos mais neutros e estamos vivendo um momento bem diferente de ciclo econômico.

Caro(a) leitor(a),

Em um dia histórico, os bancos centrais brasileiro e americano se reuniram para decidir os próximos passos para a política monetária de cada país. De certa forma, ambos surpreenderam um pouco o mercado, sendo mais expansionistas (dovish), mas as consequências dessa decisão devem ter impactos muito diferentes.

Começando pelo Brasil, existia uma parte do mercado que acreditava em uma alta maior do que os 100 pontos base que nos levou aos atuais 11,75% de juros ao ano. Por essa ótica, fomos dovish. Mas sendo sincero, mesmo se a alta fosse de 125 pontos base, o impacto seria praticamente irrelevante.

Estamos falando de um país que, de um ano para cá, saiu de um patamar de 2% para juros contratados nas taxas futuras de 13% e que já se encontra com uma grande probabilidade de ter um ano com recessão, apesar de ser eleitoral. Basicamente, estamos em uma economia que está muito distante de estar hiper aquecida, algo que é evidente quando observamos até mesmo a dinâmica da bolsa de valores.

Não faria o menor sentido o nosso BC atacar o impacto de uma alta de commodities via juros. Seria melhor fazer como no passado e ajustar a meta para não parecer que estamos atrás da curva, porém, a instituição liderada por Campos Neto talvez não tenha credibilidade para isso. Além disso, no comunicado foi adiantado que a próxima alta deve ser de mais 100 pontos base, o que quase garante que deveremos ter os juros acima de 13% no fim do ciclo.

Já nos Estados Unidos, a interpretação é mais simples. O FED subiu os juros em 0.25%, quando parte do mercado esperava 0,50%, sendo assim, dovish. Alguns comentam que a instituição compensou isso dizendo que o banco central norte-americano indicou, por meio de suas previsões, que teremos 6 altas adicionais ao longo do ano. No entanto, quem já estudou a história das previsões do FED e o que realmente acontece, sabe que isso não serve para muita coisa. E, de fato, eles não adiantam suas decisões, diferentemente do nosso BC.

Além disso, foi encerrado o estímulo quantitativo por meio da compra de títulos públicos e privados na casa de 30 bilhões de dólares por mês. Isso também é relevante uma vez que o Tesouro americano vai ter que se financiar, agora, totalmente no mercado e não mais com a ajuda do seu banco central.

Em minha análise, o principal destaque foi a decisão do Powell em ficar, novamente, atrás da curva. Talvez isso tenha acontecido porque, depois de ver o Nasdaq 20% abaixo de sua máxima apenas dois dias antes, ele tenha tentado ajudar o mercado, que tem entendido que juros mais baixos como algo bom para as bolsas pelos últimos 15 anos.

No entanto, em um momento em que a inflação atinge patamares nunca vistos por gerações, deixar isso para depois pode ter o efeito contrário.

Há um ano, quando as sementes desse movimento já haviam sido plantadas, os juros americanos reais correntes eram de cerca de 3% negativos. Agora, com números que não param de surpreender para cima e depois de já se ter mostrado errado ao diagnosticar o movimento inflacionário como temporário, nos encontramos com juros correntes negativos em 7%.

Ou seja, apesar da alta, a política monetária nunca foi tão expansionista quanto agora e, mesmo assim, o FED escolheu ser mais dovish. Da mesma forma que o nosso mercado previa uma alta nos juros para 6% no fim do ciclo e estamos vendo que será mais que o dobro, corremos o risco de ver a mesma coisa nos Estados Unidos. Afinal, alta de juros você sabe como começa, mas não sabe como termina.

Rodrigo Natali

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Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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