Caro(a) leitor(a),
Nas duas últimas semanas, os juros dos títulos da dívida americana de 10 anos saíram de 1,67% ao ano para 2,42%, um movimento de 75 pontos base. Não estamos falando de um título curto, estamos falando do bond que é referência para toda a dívida do mundo emitida em dólares.
Tal desvalorização, até o momento, é a maior registrada em um único mês desde 1973. A perda de valor do estoque da dívida chega perto dos 6%, o que causou uma destruição de riqueza de 2,3 trilhões de dólares apenas nos títulos emitidos pelo tesouro americano. Ao mesmo tempo, nos contratos futuros de Fed Fund, a taxa básica de juros americana (que atualmente se encontra em 0,25% ao ano) também passou por uma alta relevante de juros, com a taxa para o fim do ano precificada em 2,25% ao ano.
Essa alta de 200 pontos base está distribuída em 6 reuniões do FOMC. A grosso modo isso deve se dar por meio duas altas de 50 pontos base nas próximas duas reuniões e mais quatro altas de 25 pontos base nas remanescentes.
Estes movimentos de alta volatilidade fazem, como consequência indireta, que os mercados de renda fixa para emissão fiquem disfuncionais: por um tempo indeterminado as empresas ficam sem conseguir emitir dívida para captar recursos, dado que a taxa de referência não para de se deteriorar.
Além disso, temos um choque da VaR nesses títulos livres de risco, uma vez que a volatilidade implícita saiu de 7% para 14%. Isso afeta o balanço dos bancos (inclusive os centrais), as margens de garantia das operações em bolsa, o custo de financiamentos imobiliários, resumindo, tudo.
No entanto, essa dinâmica foi acompanhada de uma alta dos ativos de risco em geral, com destaque para as bolsas, que também fazem um movimento raro de quase seis altas consecutivas. Isso, para mim, é contraintuitivo, mas acontece. Em um prazo maior, um desses dois ativos tende a se descolar e ir na mão oposta. Não sabemos se será a bolsa ou se a renda fixa que irá cair, mas esse movimento não tende a durar.
Assim, podemos olhar para dentro de casa para vermos melhor esse mesmo fenômeno: no Brasil, o mesmo aconteceu no primeiro semestre do ano passado, quando os juros e a bolsa subiram juntos. No nosso caso, foi a bolsa que não aguentou.
Rodrigo Natali
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