Mercadores da Noite #303: Gabinete Sombra – Gabinete de Mentira

19 de novembro de 2022
Acho bom o PT pôr as barbas de molho e acabar com essa mania de “assembleísmo”. Como se boas ideias surgissem de um bando de contrários, cada qual querendo provar que seu programa é o melhor para o país.

Olá, leitor(a),

Na Inglaterra, todos os ministros são membros da Casa Baixa (que é quem dá as cartas) do Parlamento – House of Commons – Câmara dos Comuns.

Governo e Oposição se sentam em bancadas, em forma de pequenas arquibancadas, situadas uma em frente à outra. Entre elas uma mesa, em cima da qual há diversas caixas com documentos.

Na bancada da Situação (partido no poder), o primeiro-ministro, ou primeira-ministra, fica no centro da primeira fila (a mais baixa), tendo os membros do Gabinete ao seu lado.

São frequentes exclamações de apoio ou de rejeição ao orador do momento. Nessas horas, o speaker (presidente da Casa) se limitar a impor; order, order, order... Não raro, sem sucesso.

Quanto mais alto estiver sentado um parlamentar, menor sua importância. Lá na última fila estão sentados os novatos, marinheiros de primeira viagem.

Do outro lado da mesa, a Oposição obedece aos mesmos critérios. O assento do líder fica bem em frente ao do primeiro-ministro. Ao redor dele, os integrantes do Gabinete Sombra. Sim. Gabinete Sombra (Shadow Cabinet).

Na Situação temos o vice primeiro-ministro, que no momento é o chanceler ou secretário de Estado, o chanceler do Erário (Chancellor of the Exchequer, equivalente ao nosso ministro da Fazenda), o secretário de Estado para a Comunidade Britânica (Commonwealth), o secretário para Assuntos do Interior, o secretário de Defesa, o secretário de Saúde e Assistência Social, além de outros.

Para cada um desses integrantes do Gabinete, há um membro da Oposição cuja função e marcá-lo em cima. São os homens e mulheres do Gabinete Sombra.

Se o país é assolado por um vírus mortal, como está acontecendo desde 2020, e o Secretário de Saúde cresce de importância, o mesmo acontece com o Sombra que cuida do mesmo assunto para a Oposição.

No momento, o país é governado pelos Conservadores, sendo Rishi Sunak, um hinduísta, o primeiro-ministro.

Caso caia o governo, e assumam os trabalhistas, Sunak vai ao palácio de Buckingham e entrega sua carta de renúncia ao rei Charles III, que a aceita sem argumentar.

Horas depois, chega à residência oficial Sir Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista. Charles imediatamente lhe pede que forme um novo governo.

Embora não obrigatoriamente, cada um daqueles ministros sombra deixa de ser de mentirinha e assume seu cargo no governo, ciente de todos os problemas da pasta, já que vinha marcando em cima o titular do posto.

No Brasil, pela primeira vez, a partir de 1º de janeiro de 2023 teremos algo parecido.

O Sombra principal, Jair Messias Bolsonaro, já tem até escritório montado. Serão dois andares com diversas salas em Brasília, ao lado da sede de seu partido, o PL.

De lá, ele poderá vigiar cada passo de seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como Bolsonaro elegeu poderosas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado, no Legislativo a marcação será homem a homem, tal como nos Comuns Britânicos.

Há outro trunfo da futura oposição. Ela já consegue reunir multidões nas ruas das principais cidades brasileiras, geralmente em frente a unidades das Forças Armadas.

Como dizia Ulysses Guimarães, “a única coisa que mete medo em político é o povo nas ruas”.

Enquanto isso, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, está montando um Gabinete de Mentirinha.

Outro nome não poderia ser dado aos 290 indivíduos que formam o governo de transição, por larga margem o maior número já reunido para essa função.

A lei prevê, e remunera, 50 pessoas para conduzir os passos necessários para a transferência de poder.

Ou seja, para cada “oficial de transição”, vamos chamá-los assim, há quase cinco voluntários que estão ali por puro patriotismo, pagando suas refeições, passagens e hospedagem do próprio bolso.

Tem ex-jogador de futebol, economista de esquerda, economista liberal, economista que não é economista, índio, quilombola, ator, atriz, etc.

Há até gente disposta a assumir o sacrifício de se mudar para Brasília e lá ficar durante quatro anos servindo, agora de maneira oficial, a pátria com grande desprendimento.

Acho bom o PT pôr as barbas de molho e acabar com essa mania desde que o partido foi fundado. Estou me referindo ao “assembleísmo”. Como se boas ideias surgissem de um bando de contrários, cada qual querendo provar que seu programa é o melhor para o país.

De minha parte, cada vez mais me convenço, e isso começou lá pelos anos 1960, que o mercado de ações é, no longo prazo, um excepcional investimento. Desde que as empresas nas quais você investe não tenham nenhuma ligação com o governo e não dependam dele em absolutamente nada.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna.


Nota do editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO e que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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