Caro leitor,
Na última sexta-feira, 23 de fevereiro, a Inversa realizou, num dos estúdios de sua sede, o evento Lendas do Mercado.
Mediado pelo Frederico (Fred) Rosas, o encontro virtual, transmitido pela internet com exclusividade para os assinantes dos cursos Seu Mentor de Investimentos (protagonizado por mim) e do Clube dos 5 (de responsabilidade do Marink Martins), foi uma experiência única para quem teve oportunidade de assistir ao debate, que durou quase duas horas.
Foi uma ocasião rara de se ver quatro profissionais que fazem as mesmas coisas (acompanhar, estudar, analisar e “treidar” os mercados) só que com métodos e approaches totalmente distintos.
Vou começar pelo André Machado, que se sentava na extrema esquerda do “U” de bordas abertas disposto em frente às câmeras.
Para o André, não vai haver eleições no Brasil em 2018, a Coreia do Norte não está fazendo testes nucleares, o FED não ameaça acelerar o aumento das taxas de juros. Mas, por favor, não tirem conclusões precipitadas. Ele não é um alienado. Trata-se de um day trader, que raramente carrega posições de um dia para o outro e que não raro fica comprado ou vendido por apenas alguns minutos.
Em seu ofício, André é como o primeiro cobrador numa disputa de pênaltis decisiva. Para ele, tal como no caso do jogador, o que interessa é ir até a marca fatal e, de lá, fazer o gol. Não adianta ficar pensando sobre a taça que poderá vencer naquela disputa. Seu negócio é lançar a bola entre os três paus, fora do alcance do goleiro. Os day traders também são assim.
“Vou comprar aquela opção de Vale por 74 centavos e vender por 80. Se o mercado cair, faço um stop a 72."
O André disse que ganha em mais ou menos metade dos seus trades e, obviamente, perde na outra metade. Acontece que naquelas operações que dão certo, o lucro é três vezes maior do que o prejuízo das perdedoras.
Entre o André Machado e o mediador Fred estava o Marink Martins, o “rei da madrugada”.
Não tire conclusões precipitadas, caro leitor. O Marink não atravessa a noite nos bares e boates da Zona Sul do Rio, onde mora, enchendo a moringa.
É o rei da madrugada porque, enquanto os demais traders ainda dormem, ele está estudando os fechamentos dos mercados no Extremo Oriente, o andar das bolsas europeias e os prognósticos para Wall Street e São Paulo no dia que está para começar. Só assim pode escrever e distribuir sua newsletter, devorada pelos investidores e traders que o seguem.
Marink Martins é um cara erudito. Eis, por exemplo, um parágrafo escolhido ao acaso de uma de suas mais recentes newsletters:
“Dito isso, os mercados parecem ter superado um grande teste – uma normalização da volatilidade – e tal fenômeno tende a contribuir para a atratividade dos mercados emergentes. De acordo com a analista da Gavekal, temos um cenário favorável a tal mercado ancorado no crescimento econômico americano, retomada cíclica europeia, pouso suave na China e preço do petróleo mais elevado. Em sua opinião, tal cenário poderá ficar ainda mais favorável caso os EUA comecem a exportar dólares via um maior déficit em conta corrente por lá.”
No dia em que você, amigo leitor ou amiga leitora, se surpreender entendendo tudo que o Marink escreve, já estará com um mestrado de trader. Por isso é que ele é o homem de cinco milhões.
Na meia-lua do estúdio, entre o Marink Martins e eu, havia o Fred Rosas, mediador do evento. Coube a ele escolher, entre nós quatro, André, Marink, eu e o Marcio Noronha, quem deveria responder aos e-mails de cada assinante.
Sentado na ponta direita do quarto de roda estava o Noronha, o papa dos grafistas, dos analistas técnicos ou, para quem já é iniciado nos jargões do mercado, dos trend followers.
Se alguém escolher o gráfico de um mercado qualquer, digamos feijão vermelho negociado na Tokyo Commodity Exchange, e perguntar ao Marcio Noronha o que é que ele acha, ele vai achar, mesmo se esse alguém omitir o nome da mercadoria.
“O mercado está num nítido canal de alta”, o Marcio poderá dizer. “Espere a cotação tocar no suporte (linha inferior do canal) e compre com um stop aqui (aponta com um facho de laser para algum ponto ligeiramente abaixo do suporte)."
Para o Noronha, tal como acontece na maioria das vezes com o André Machado, não interessa se a vaca da reforma da Previdência foi para o brejo ou se o Supremo vai decidir assim ou assado. Se a intervenção militar no Rio vai dar resultado.
O que vale para ele são linhas, figuras, suportes, resistências, gaps, ilhas de reversão, fundos redondos, cabeça e ombros, cabeça e ombros invertidos. É assim que trabalham os grafistas. Ou, melhor, os trend followers.
Eu conheci o Marcio Noronha em 1967. E, desde então, acompanho sua carreira, os livros que publica e as traduções que faz de obras em inglês (sempre sobre análise técnica).
Pois bem, falta falar de mim, situado entre o Fred e o Noronha em frente às câmeras.
Como já fui investidor cauteloso, investidor destemido, investidor irresponsável, como a vida já me “stopou” diversas vezes, como já acordei rico e dormi pobre, como já fretei jatinho porque meu avião estava atrasado, para dois meses depois comer sanduíche de mortadela na hora do almoço, me senti à vontade naquela fauna.
Em certo momento tive grande alegria ao perceber que, ao menos naquele momento, éramos todos vencedores. O André Machado com seus trades de poucos minutos, o Marink Martins com suas análises de conteúdo tão atuais quanto profundas, o Marcio Noronha com técnica tão perfeita que beira a bruxaria e, finalmente, eu com as quase 180 mil pessoas que leem minhas newsletters todas as semanas.
Foi uma manhã incrível que a Inversa nos proporcionou, tanto aos que debatiam no estúdio quanto aos assinantes que nos acompanharam de suas casas ou de seus escritórios.
Se esse tipo de evento já existisse quando eu comecei no ofício em 1958, o mercado financeiro do Brasil seria muito mais desenvolvido. Mas é bom saber que está no caminho certo, correndo atrás do prejuízo.
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