Caro leitor,
Há aproximadamente um ano, poucos dias antes do Carnaval de 2017, muitas coisas mudaram em minha vida. Mudaram ao mesmo tempo, num ritmo alucinante.
Para começar, eu acabara de lançar um livro, Voo cego, que não fez o mesmo sucesso dos meus outros três relatos de tragédias aéreas. E pesquisava havia dois anos um desastre ocorrido com um DC-10 da United Airlines em 1989.
Outras coisas aconteciam, sendo uma delas o primeiro dia de aposentada de minha mulher, após 50 anos de trabalho.
Para um casal que sempre ficou separado nas chamadas horas úteis, nós considerávamos um desafio passar 24 horas por dia na mesma casa, coisa que, antes, só acontecia nos fins de semana, feriados e férias. Agora teria de ser para valer, dia sim, dia também.
Só para pôr um desfecho nessa novelinha conjugal, e não deixar o caro leitor em suspense, quero declarar que entre os carnavais de 2017 e 2018 foi tudo bem entre nós dois, a não ser por algumas brigas quando assistimos a um jogo de futebol na TV, mesmo que fosse do campeonato do Uzbequistão. Se eu torço por um time, ela escolhe o outro.
Mas voltemos àquele dia em que tudo mudou. Insucesso literário, wife full time, dúvida se abortava o novo livro ou não, etc.
Uma semana antes, eu tinha recebido um convite da Olivia Alonso para conversarmos em São Paulo a respeito de vir a escrever uma newsletter semanal para a Inversa. Ela me conhecia de meus livros, eu já lera seus artigos, mas nunca tínhamos nos encontrado pessoalmente.
E lá fui eu de ponte aérea para São Paulo, justamente no primeiro dia de meu casamento em tempo integral, que por isso acabou sendo o D – 1.
As conversas com a Olivia foram ótimas. Acertamos os termos da newsletter, que seria publicada todas as quartas-feiras (depois passaria para as segundas). A ela demos o nome de Os Mercadores da Noite, dos 17 livros que escrevi o que fez maior sucesso. Seus direitos de filmagem foram inclusive vendidos para o cinema.
Como sofro de arritmia cardíaca, tenho um reloginho especial, de pulso, marca Fitbit, que registra os batimentos de meu coração, que devem ficar na frequência de 60 a 80 por minuto.
Pois bem, quando eu estava acertando as coisas com a Olivia, o reloginho se pôs a vibrar porque a pulsação subira para alarmantes 182 batidas.
Ela quis que eu fosse a um hospital próximo, mas preferi voltar para o Rio, onde minha mulher marcou uma consulta na unidade coronariana da Casa de Saúde São José, em Botafogo, da qual devo ser o paciente mais antigo, pois nasci lá em 1940.
Se morresse antes de chegar ao hospital, não seria uma tragédia. Sempre quis partir de repente. Se acontecesse no voo da ponte aérea, melhor ainda. Sempre desejei bater as botas num avião.
Não aconteceu nem uma coisa nem outra, caso contrário você, leitor, não estaria lendo este texto e eu, muito menos, o escrevendo. Mas a coisa era séria. Ao chegar na São José, me puseram imediatamente no CTI.
No dia seguinte, após longo e sofrido jejum, inclusive sem beber água, fiz um Ecodoppler Transesofágico, procedimento através do qual os médicos enfiam goela abaixo do paciente um aparelho que vai verificar, in loco, sob anestesia geral, se há um coágulo no coração.
Como não havia, enfiaram pelo mesmo tubo respiratório dois fios desencapados (força de expressão; liberdade poética) que deram um baita choque em meu coração. Que, assustado com a truculência, voltou a bater entre 60 e 80, tal como bate até hoje (neste instante está a 61).
Pois bem, foi nesse contexto que começou meu relacionamento com a Inversa: dúvida sobre estabilidade conjugal; venda fraca de livro recém-lançado; coração saindo pela boca.
Mas o que se seguiu não podia ter sido melhor.
De uma newsletter semanal passamos para duas. Uma delas, com tema atualíssimo, é publicada. A outra, atemporal, vai para o acervo (pode ser que o ritmo cardíaco caia para zero e, sendo assim, eles continuem me publicando, como se vivo estivesse; convenhamos que é um tremendo marketing: “o morto que escreve sobre política, economia e mercados”).
Passei também a colaborar com o Trading Journal, projeto a cargo do José Castro, publicação para assinantes que sai todas as segundas-feiras. Como se não bastasse, a Inversa e eu estamos trabalhando num evento surpresa, que deve ser divulgado ainda neste semestre e para o qual escrevo textos maiores.
Juntando as newsletters (publicáveis e “acerváveis”), os textos do Trading Journale as crônicas já prontas do Projeto Surpresa, escrevi, desde aquele dia chave de reversão, 115 artigos, o que dá uma média aproximada de um a cada três dias. São 640.990 caracteres “com espaço" até agora.
Mas não ficou nisso. Protagonizei a série O Investidor do Século, com cenas de estúdio e externas, dei oito aulas, sendo a última presencial, do curso Seu Mentor de Investimentos e participei de várias seções de perguntas e respostas com os assinantes.
A Inversa lançou uma versão impressa do livro Os Mercadores da Noite, que se esgotou rapidamente. O mesmo título foi disponibilizado em e-book.
A newsletter Os mercadores... já é distribuída para mais de 170 mil assinantes, uma lotação completa do Maracanã, isso na época em que no estádio cabia esse tanto de gente.
Poucas vezes na vida um trabalho me satisfez tanto. E vejam que já fui roteirista da TV Globo, escritor de livros-reportagem, inclusive com viagens ao Paquistão e ao Afeganistão, operador de pregão nas bolsas do Rio e de Chicago, traderinternacional, piloto, paraquedista, jogador de futebol de automóveis (autobol) e conheci uns 50 países.
Na Inversa trabalho com pessoas que poderiam ser meus filhos e até meus netos. Gente que me remoça, que me faz pensar em planos para daqui a dez ou vinte anos, eu que já tenho 77. Gente com quem eu tomo minhas canas (Jack Daniel’s) no final do dia, isso após eles terem trabalhado exaustivamente por mais de dez horas e eu não raro outras tantas.
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