Investigador Financeiro #4 - Você é parte da minoria?

14 de fevereiro de 2018
Apenas um grupo seleto de brasileiros

Olá.

Quando comecei a falar para amigos e familiares que eu estava investindo, muitos deles pediram dicas.

Eu respondia que não sou especialista, mas isso não importava. As pessoas queriam saber como eu tinha começado e no que estava investindo.

Desde então, ajudei algumas pessoas próximas. Ontem, terça-feira de Carnaval, por exemplo, eu estava auxiliando a minha namorada a cumprir uma de suas metas para 2018: começar a investir direito. Ela estava cansada de ganhar pouco em aplicações ruins e queria garantir o seu futuro.

Abrimos uma planilha de Excel e fomos preenchendo o documento apenas com respostas a perguntas simples:

Quanto você tem na poupança? Quanto precisa de colchão de liquidez? O que sobra para investir? Qual é seu perfil de investidora?

Conforme ela ia respondendo a cada questão, eu explicava um conceito de investimento. No final, ela entendeu as explicações e fez as próprias escolhas. Criou sua primeira carteira com renda fixa e variável.

Confesso que me surpreendeu o desejo dela de aplicar logo de cara na Bolsa, pois muita gente tem medo de investir em ações. Os desconfiados lembram só das crises e preferem não buscar os retornos maiores da renda variável.

Mas minha namorada entende que é importante investir em ações e optou por colocar uma uma pequena parte do seu dinheiro nesse mercado.

Minha irmã também me pediu ajuda, no ano passado. Também tinha dinheiro guardado na poupança e entendeu que poderia buscar melhores rendimentos. Mas, ao contrário da minha namorada, estava muito mais insegura.

Eu expliquei que, para perder o medo de investir, ela poderia começar comprando alguns títulos do Tesouro Direto, como eu havia feito.

Lembro que, após muito relutar, investi 10 mil reais no Tesouro Selic. Eu estava com tanto medo que apliquei um valor que não me causaria problemas caso algo desse errado.

Ou seja, eu estava tratando o meu primeiro investimento fora da poupança, o Tesouro Selic (um dos títulos mais conservadores da renda fixa), como se fosse parte do meu portfólio de risco.

Por isso, quando minha irmã expressava as suas inseguranças, eu a entendia.

No entanto, quando ela finalmente superou seus receios e tirou o dinheiro da Poupança, ela cometeu um erro. Algo que eu havia avisado para não fazer. Mas a necessidade de se sentir segura e o medo de perder dinheiro a levaram diretamente a um equívoco.

Eu comecei a pesquisar para entender o motivo do erro da minha irmã, que vou revelar daqui a pouco.

E a minha busca me levou aos dados sempre surpreendentes sobre os investidores do Brasil.

De acordo com informações do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), existem cerca de 100 milhões de cadernetas de poupanças abertas. Isso mesmo, milhões. No entanto, apenas 350 mil dessas contas têm mais do que 10 mil reais, o que mostra que a maioria dos brasileiros não consegue guardar muito.

Outra pesquisa, desta vez do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), mostra que a Poupança continua sendo o investimento preferido de 61% dos brasileiros. Os motivos para ficar na aplicação, de acordo com os entrevistados, são a segurança e o desejo de evitar perdas.

E isso é muito interessante: pois a Poupança não é o investimento mais seguro e já proporcionou prejuízos, como em 2015, quando seus rendimentos perderam para a inflação.

Mas para as pessoas o que importa é a sensação de estar protegido. Não é ganhar mais, mas o sentimento de não perder o que já foi conquistado. No final, a sensação de andar para trás é o que mata.

Minha irmã já era uma “vitoriosa” por conseguir economizar, o que apenas poucos conseguem, e superar seus medos de sair da Poupança. Investindo no Tesouro Direto, ela se juntou ao grupo seleto dos 565.758 investidores ativos nos títulos do governo (de acordo com dados consolidados de 2017).

No entanto, seus receios não estavam totalmente superados e, por isso, cometeu um deslize.

Ao invés de investir por uma corretora independente, que geralmente cobra taxas zero de administração para o Tesouro Direto, ela investiu pelo seu banco, que em geral cobra taxas mais altas. Quando eu apontei que ela estava perdendo dinheiro, ela falou que não confiava nas corretoras e estava “mais segura” investindo pelo banco.

Ela não seguiu meu conselho, mesmo eu tendo explicado que o título ficava registrado em seu nome e que não importava se a corretora falisse.

Não teve jeito. Ela ignorou e fez o caminho mais complexo, pois os bancos não querem que você invista no Tesouro – desejam seu dinheiro aplicado nos produtos deles.

Ela brigou com a gerente e conseguiu aplicar por meio da corretora do banco, pagando uma taxa que não precisava.

Apesar de eu ter ficado chateado com ela, entendo que, no final, minha irmã só queria descansar a cabeça no travesseiro sabendo que o seu dinheiro estava na aplicação mais segura possível.

Não foi a melhor escolha, mas ela conseguiu dar o primeiro passo.

Então, se você está entre as Então, se você está entre as 500 mil pessoas que investem em títulos do Tesouro, ou os 600 mil investidores da Bolsa, ou 1 milhão de cadastrados em uma das exchanges brasileiras de criptomoedas, ou tem outros produtos financeiros, já faz parte de um grupo seleto. Parabéns!

A exemplo da minha irmã e da minha namorada, todos têm um perfil diferente. Mas quem investe está comprando o futuro. São otimistas de que ele será melhor do que o presente. Se você está fazendo isso, é parte da minoria! (Se você não sabe como começar, acesse aqui. Em todas as edições da série A Carta, o Pedro faz sugestões para diferentes perfis.)

Se não é, ainda dá tempo. Se o ano só começa depois do Carnaval no Brasil, feliz ano novo e bem-vindo ao time dos que acreditam no futuro.

Conheça o responsável por esta edição:

Andre Zara

Especialista em Investimentos para Leigos

André Zara é autor da newsletter “Investigador Financeiro” e sócio da Inversa. Participa das publicações Investidor Completo e Crypto Evolution e, em sua carreira, já colaborou com publicações da Folha de São Paulo, d’O Estado de São Paulo, da editora Abril e do Sebrae-SP. É investidor, empreendedor, entusiasta do mercado de criptomoedas e de projetos de disseminação da cultura de investimentos no Brasil.

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