Global Investor #75: O que há em comum entre Xi Jinping e Mark Zuckerberg?

27 de outubro de 2022
Nesta nova edição, Marink Martins traça um paralelo entre o totalitarismo chinês com um que se faz presente em empresas americanas que "empurraram" em seus investidores um polêmico sistema de governança corporativo, o uso de um sistema duplo de classes de ações, o "dual class system".

Bem-vindo(a) a mais uma edição da newsletter Global Investor! 


Um dos principais eventos desta semana foi Xi Jinping assumindo o seu terceiro mandato e a cena ao final do 20º Plenário do Partido Comunista Chinês, que ocorreu no último domingo (23). De forma constrangedora, Hu Jintao, que foi o líder da China durante o começo do millennium por quase 10 anos, foi praticamente removido do plenário. 

Essa atitude foi uma demonstração de força de Xi Jinping que, agora, não somente assume esse inusitado terceiro mandato, mas também ainda não nomeou o seu sucessor. Isso traz uma certa obscuridade ao processo como um todo que, por sua vez, vem se manifestando através do preço das ações chinesas. 

Diante disso, vimos as ações chinesas sofrerem muito! Na segunda-feira (24), elas despencaram e aqui no Brasil, o ETF XINA11 (um espelho da carteira EMS CHINA) sofreu negativamente.

Mas, o objetivo desta edição é traçar um paralelo entre os regimes totalitários: o que ocorre na segunda maior economia do mundo com o que ocorre no mundo corporativo norte-americano. 

Como assim? Acontece que o  sistema de governança corporativa pode se tornar extremamente problemático e, de fato, isso já vem demonstrando sinais de exaustão em uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, a META, dona do Facebook.

A META não é apenas a empresa que controla o Facebook e o Instagram, mas também o WhatsApp, muito usado aqui no Brasil, bem como muitas outras empresas. 

Sabe-se que a META foi fundada pelo desenvolvedor Mark Zuckerberg que fez um IPO da empresa em 2014 e vendeu boa parte de suas ações. Entretanto, essa é uma empresa que tem um sistema de governança corporativa conhecido como “dual class” — sistema duplo de ações —-, com ações ordinárias classe A e ações ordinárias classe B

A classe A, está destinada ao público e a investidores de forma geral. Para cada ação classe A, o investidor tem direito a um voto. Já a classe B pertence a Mark Zuckerberg e a um grupo bem próximo. Cada ação classe B proporciona o direito a 10 votos em assembleias. Sendo assim, na META - Facebook, vemos uma espécie de regime totalitário como o que vemos na China. 

Aqui, fazemos a tentativa de trazer à tona um problema que se faz presente há anos nos Estados Unidos. Enquanto o mercado subia, poucos reclamavam, mas agora que o mercado ficou mais difícil, no qual entramos no bear market, tem muita gente reclamando. 

A ação da META despencou, caindo 60% da máxima. E, Brad Gerstner, fundador da Altimeter Capital que detém 0,1% da Facebook, o equivalente a 300 milhões de dólares, escreveu uma carta para Zuckerberg, tornou-a pública, discutida até na CNBC, a qual ele criticava a atitude do fundador do Facebook em investir bilhões de dólares no Metaverso. 

O Metaverso é algo, até o momento, um tanto obscuro, vem drenando muito capital da companhia e fazendo com que a lucratividade da empresa sofra e o preço da ação caia significativamente. 

Hoje, a ação da META, se comparada há um tempo, negocia com a metade de um P/L, assim como também é a metade do P/L de seus pares. Isso porque Zuckerberg, assim como Xi Jinping, deseja fazer o “Common Prosperity!”, utilizando o Metaverso. 

Entretanto, ele deseja fazer isso sozinho. Em tese e em termos de governança corporativa isso é possível, pois através desse sistema de dual class americano, ele controla cerca de 70% dos votos em assembleia. 

Brad Gerstner escreveu e reconheceu o sucesso do empresário, mas pediu por meio de sugestões que: “A Facebook deve cortar 20% da sua mão de obra”; “A empresa deve cortar 20% do CAPEX”; “Deve limitar o CAPEX para o Metaverso somente em 5 bilhões”; “É o momento de se manter em forma, Mark!”. 

Será que Mark irá ouvir essas sugestões? É possível que sim…

No entanto, se faz necessário prestar atenção neste sistema de governança corporativa extremamente problemático nos Estados Unidos e que não é uma exclusividade da META - Facebook, pois, o mesmo tipo de sistema acontece na Google com seus fundadores e controladores das ações com direito a votos. O mesmo ocorre com a empresa SNAP de Evan Spiegel, a situação é ainda pior porque os detentores de ações negociadas em Bolsas não têm direito a voto algum.

E, algo similar ocorre na empresa brasileira XP Inc. que é negociada lá fora. Os detentores de uma classe especial na XP possuem ações com superpoderes.

Sabemos que quando tudo está caminhando bem, isso é pouco importante, porém, em momentos de adversidades, o jogo muda! Está mudando para a META - Facebook e poderá mudar para muitas outras! 

Fique muito atento a essa questão!
 

Aguardo você na próxima edição!

Um grande abraço,
Marink Martins.
 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

A Inv é uma Casa de Análise regulada pela CVM e credenciada pela APIMEC. Produzimos e publicamos conteúdo direcionado à análise de valores mobiliários, finanças e economia.
 
Adotamos regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela Comissão de Valores Mobiliários em sua Resolução nº 20/2021 e Políticas Internas implantadas para assegurar a qualidade do que entregamos.
 
Nossos analistas realizam suas atividades com independência, comprometidos com a busca por informações idôneas e fidedignas, e cada relatório reflete exclusivamente a opinião pessoal do signatário.
 
O conteúdo produzido pela Inv não oferece garantia de resultado futuro ou isenção de risco.
 
O material que produzimos é protegido pela Lei de Direitos Autorais para uso exclusivo de seu destinatário. Vedada sua reprodução ou distribuição, no todo ou em parte, sem prévia e expressa autorização da Inversa.
 
Analista de Valores Mobiliários responsável (Resolução CVM n.º 20/2021): Nícolas Merola - CNPI Nº: EM-2240