Global Investor #44: Por trás da decisão saudita - A precificação do petróleo em iuanes

24 de março de 2022
O anúncio de que os sauditas estariam avaliando a possibilidade de vender seu petróleo para a China em iuanes é algo de extrema importância.

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A decisão ou a consideração por parte dos sauditas em precificar o seu principal produto, o petróleo, em iuanes é algo diferente do que eles vêm realizando desde a Segunda Guerra Mundial quando foi acordado entre o então presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, e o rei saudita, Abdul Saud, que todo o petróleo produzido por lá fosse precificado em dólares. 

Agora, caso os sauditas decidam vender o seu petróleo para a China precificado em iuanes, essa relevante cogitação pode abalar o dólar como reserva de valor global. 

Obviamente, o dólar não vai deixar de ser reserva de valor global, mas a moeda chinesa tende a ganhar uma maior relevância global. E o que estaria por trás dessa nova iniciativa saudita?

Louis Gave, o fundador da casa de pesquisa Gavekal, que explora esse tema há muito tempo, escreveu um capítulo sobre essa decisão no livro Clash of Empires. E Gave, recentemente, também publicou um artigo ressaltando três possibilidades que justificariam essa iniciativa saudita.

A primeira tem a ver com a dinâmica geopolítica do Oriente Médio em que Gave fala sobre uma certa frustração dos sauditas e do governo dos Emirados Árabes no que diz respeito ao tratamento dos Estados Unidos no Egito ao permitirem o desenvolvimento da irmandade muçulmana, a aproximação da Síria com a Rússia entre outras questões relacionadas ao Irã.

Todos esses pontos vêm gerando muitas frustrações por parte dos sauditas e dos Emirados Árabes, de forma que isso possa ser um aviso aos Estados Unidos.

A segunda possibilidade levanta outro tema muito importante! Ao ver as sanções que o Ocidente implementou com relação ao Banco Central russo (congelando as suas reservas internacionais), fez com que os ativos dos oligarcas russos fossem, de certa forma, bloqueados e apreendidos. 

Certamente, isso faz com que milionários residindo em países cujos governos sejam ditatoriais — como o governo saudita —,  possam se questionar: “será que vale a pena guardar fortunas em dólares ou euros enquanto esses montantes possam ser congelados a qualquer momento por um simples comando no computador?”.

Já o terceiro tema explorado por Gave diz respeito ao próprio poder de barganha da Arábia Saudita com a China. Se o país comunista chinês estiver comprando o petróleo da Rússia, denominado em iuane, a China pode dizer aos sauditas: “adoraria comprar o seu petróleo, mas comprar dos russos, pagando em nossa própria moeda, é mais conveniente para nós”. Isso, de certa forma, anularia o poder de barganha dos sauditas. 

Por essas três razões, a Arábia Saudita pode estar considerando promover uma das maiores transformações globais que pode afetar diretamente o nível de atratividade do dólar!

Espero que tenha gostado da edição!

Um grande abraço,
Marink Martins. 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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