Global Investor #68: Incertezas Cambiais diante da reunião do G20 em Bali

8 de setembro de 2022
Vivemos um momento de elevada volatilidade cambial. A moeda americana vem se valorizando frente às moedas de seus principais parceiros globais e tal movimento vem se intensificando na medida em que o mercado se adapta a um discurso mais "hawkish" por parte da autoridade monetária dos EUA, o FED.

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Vivemos em uma época de elevada volatilidade cambial em que o dólar vem se valorizando fortemente contra o euro, o iene japonês, o iuane chinês e também contra o won sul-coreano. A moeda americana está fortemente contra todas as moedas que os Estados Unidos têm elevado nível de relação comercial e, quando isso ocorre, muitos problemas são gerados!

Hoje, vemos uma certa crise cambial rondando países fronteiriços e países como o Paquistão e o Egito, não conseguem acessar o mercado de capitais e os dólares necessários para cumprir com as suas obrigações externas. 

No passado, quando o dólar esteve muito forte, houve uma certa coordenação global para reverter essa situação. Foi então que o Acordo de Plaza, que aconteceu há 37 anos no Hotel Plaza situado em Nova York, onde cinco ministros representantes da economia dos países que faziam parte do G5 (EUA, Inglaterra, França, Japão e Alemanha), de uma forma coordenada fez com que o dólar se desvalorizasse frente às moedas dos superavitários da época, o Japão e a Alemanha. 

Essa foi uma estratégia que deu muito certo e o dólar se desvalorizou entre os anos de 1985 e 1987, até que se fez necessário um novo acordo para estabilizar as moedas e assim aconteceu o acordo que ficou conhecido como o Acordo de Louvre em 1987

Anos mais tarde, em 2016, quando o mundo parecia caminhar para um colapso, em uma reunião do G20 em Xangai, um novo acordo surgiu, fazendo com que a moeda chinesa, dessa vez, com a China sendo o grande parceiro comercial americano, parasse de se desvalorizar. Isso contribuiu para uma reflação das commodities, o preço do petróleo reagiu e o preço do minério de ferro, assim como o de outros metais, se valorizaram naquela ocasião. 

Mas, e agora? Será que há espaço para uma ação coordenada global que vá fazer com que o dólar se desvalorize?

Em novembro deste ano, teremos uma reunião do G20 que ocorrerá em Bali e, talvez, conte com a presença de Xi Jinping e Vladimir Putin. Será que há espaço para uma ação coordenada global? Caso haja e o dólar venha a se desvalorizar, é bem possível que diversos ativos que estão, hoje, bem depreciados (ativos em mercados emergentes e ativos brasileiros, por exemplo) voltem a se valorizar bem!

Mas, se não houver, como será que o mundo transitará? 

Essa é uma grande questão! Mas, especulando essas possibilidades, é bem menos provável que haja um acordo desta vez porque vivemos uma espécie de guerra cambial no momento

A moeda chinesa, que esteve tão forte por muito tempo, quando o dólar valia por volta de 6,35 iuanes, hoje, a moeda americana está precificada por cerca de 7 de iuanes.

Embora a China viva uma enorme crise imobiliária, uma das maiores de todos os tempos, pois a China, com suas cidades fantasmas e seus investimentos em infraestruturas e em construção civil, será que chegou a hora de pagar a conta?

Bem, a China está registrando um superávit comercial entre 80 e 100 bilhões de dólares por mês. Com esse registro comercial de aproximadamente 1 trilhão de dólares em 12 meses, será que faz sentido o dólar se valorizar frente ao iuane? 

Mesmo diante dessa enorme crise imobiliária que a China vem enfrentando, a tese apresentada pela casa de pesquisa Gavekal nos diz que o valor total de um pacote que seja suficiente para resolver essa questão da construção civil chinesa é algo que deva envolver um montante de 1 trilhão a 2 trilhões de iuanes — 150 a 300 bilhões de dólares — para um país que está registrando um superávit comercial na faixa de 1 trilhão anual.

A China não somente passa por essa crise no setor de construção civil, mas também vem enfrentando os impasses relacionados à Covid-19 de uma forma sem precedentes e que choca o mundo.

Na opinião de Louis Gavekal, a China é dominada por políticos que cresceram lendo o pequeno livro vermelho de Mao Tsé-Tung, uma obra que fala sobre estratégia de guerrilhas, onde nunca se deve enfrentar o oponente de frente, mas sim “ir comendo pelas beiradas”.

A China pode estar realmente fazendo isso, ela que tem o controle de capitais e vem cada vez mais acumulando reservas, gradualmente vem tentando desenvolver a sua indústria de semicondutores. Um país que por muito tempo apresentava uma vulnerabilidade energética, agora, está comprando e garantindo o acesso a um petróleo e a um gás muito barato proveniente da Rússia, assim, manipulando a sua moeda para conseguir vantagens competitivas contra os Estados Unidos. 

Novembro está chegando e com o último mês do ano, chega a reunião do G20 que ocorrerá em Bali! Será que teremos o acordo cambial nos moldes daqueles vistos em 1985 e 2016?  

Espero você na próxima edição!

Um grande abraço, 
Marink Martins

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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