Global Investor #57: A manipulação da taxa de juros no Japão vai continuar?

23 de junho de 2022
Tomar dinheiro barato no Japão e investir em títulos brasileiros tem sido uma das operações mais rentáveis do ano. No entanto, há quem acredite que a próxima eleição no Congresso japonês poderá ser um evento catalisador para uma mudança na manipulação da curva de juros praticada pelo Banco do Japão (BoJ)...

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Tomar dinheiro barato no Japão para investir em taxas elevadas no Brasil têm sido uma das operações financeiras mais rentáveis de 2022, sendo realizada por investidores institucionais, grandes players do mercado, que fazem o conhecido carry trade

O carry trade é uma operação que já rendeu lucros de mais de 30% neste ano e, por essa razão, muitos e grandes investidores dos Estados Unidos e do Brasil, agora, estão preocupados com a taxa de juros no Japão. 

O Japão, mesmo diante do atual cenário inflacionário e dos custos da energia (petróleo, gás natural) subindo significativamente, segue mantendo uma taxa de juros estável. Ao verificar a taxa de juros de curto prazo do país, é possível ver que ela ainda está negativa e a taxa de 10 anos continua fixa em 0.25.

Isso porque há diversas pressões para que essa taxa suba e para que os preços dos títulos desçam. Mas, o Banco do Japão (BoJ), o Banco Central do país, vem comprando esses títulos, dessa forma, mantendo essa taxa artificialmente estável. Essa é uma dinâmica conhecida como yield curve control, uma manipulação da curva de juros. 

Há razões específicas para que o Japão continue realizando essa dinâmica: o país é extremamente endividado e, se o custo de sua dívida subir muito, isso irá, praticamente, tomar toda a sua receita tributária, por isso, o Japão mantém essa taxa de juros real negativa. Isso é uma espécie de repressão financeira. 

Esse é um tema que vem despertando alguns debates. O especialista Udith Sikand, por exemplo, começa a desconfiar que essa postura, talvez, esteja atingindo um certo limite, afinal, é possível ver que o iene vem se desvalorizando muito, sendo essa uma das razões para o enorme retorno nessa operação carry trade.

Como sabemos, de forma geral, quando uma moeda se desvaloriza muito, isso traz pressões inflacionárias para o seu país. No Japão, há pressões, mas não tão elevadas, pois a taxa de desemprego deles é baixíssima, de apenas 2,5%.

Bem, embora o Japão seja um grande importador de energia, as pressões até este momento ainda não são tão alarmantes. Contudo, com a chegada da eleição de uma importante parte do Congresso japonês em 10 de julho deste ano, é possível que  esse evento possa ser o catalisador de uma mudança… 

Por enquanto, não há como atribuir probabilidades, mas as mudanças nesse yield curve control parecem ser baixas. Porém, caso isso ocorra, as repercussões chegarão para todos. 

Nos Estados Unidos, certamente, é possível observar os japoneses vendendo ativos (títulos de renda fixa, ações) e repatriando recursos para o Japão. Um desmonte do carry trade em relação à moeda brasileira também pode afetar o nosso mercado.

E isso não é motivo para preocupações, mas esse é um importante tópico para estar no radar, caso notícias aconteçam, dessa forma, você estará mais preparado!

Na próxima semana, você irá conferir uma edição sobre o NIP, a posição dos investidores estrangeiros nos Estados Unidos, pois, um desmonte ou uma retração no NIP é algo que ainda está por vir e que deverá ocorrer e se intensificar ainda este ano. 

É preciso aguardar!
 

Espero você na próxima edição!

Um grande abraço, 
Marink Martins

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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