Global Investor #52: Dólares e Drones

19 de maio de 2022
A presença de drones nas guerras é algo transformacional. Os drones, por serem baratos, vêm sendo utilizados em diversos conflitos com muita eficácia. Nesta nova edição, você entende a relação entre este evento e o processo de reciclagem de dólares.

Bem-vindo(a) a mais uma edição da newsletter Global Investor! 

O Brasil é um dos maiores detentores de reservas internacionais e, hoje, tem algo próximo de 300 bilhões de dólares em reservas, porém, nem sempre foi assim. No fim dos anos 90, o Brasil tinha poucas reservas e sofreu com a sua instabilidade monetária.

A Argentina sofreu mais ainda e os países asiáticos como a Indonésia, Tailândia, a Malásia e a Coreia do Sul padeceram com a crise no continente. E, boa parte dos mercados emergentes tentaram não repetir o erro, evitando a vulnerabilidade e, consequentemente, acumularam muitos dólares em reservas internacionais, assim como fez o Brasil.

Esses dólares são reciclados nos Estados Unidos e outros países (como é o caso do Brasil) investem em títulos do tesouro americano. Outros países acabam não somente comprando os títulos, mas também investindo em compras de ações dos EUA.

Os árabes, além da compra de títulos e ações, compram armamentos dos Estados Unidos devido às instabilidades no Oriente Médio. A Arábia Saudita, por exemplo, sempre contou com o auxílio no que diz respeito à defesa dos Estados Unidos. 

Boa parte dos dólares que o Oriente recebe em virtude da venda de petróleo do país norte-americano, é destinado para aquisições de aviões da Lockheed Martin, sistemas antimísseis, entre outras.

Porém, alguns estrategistas nos chamam a atenção para essa garantia de defesa oferecida pelos norte-americanos que, nos últimos anos, tem sido falha. Afinal, foi possível acompanhar uma série de ataques às operações sauditas. Saudi Aramco, por exemplo, já foi alvo de iranianos e dos rebeldes do Iêmen.

Analisando esses ataques, um fato curioso é a presença de drones muito eficientes que, ao contrário dos aviões da Lockheed Martin, são extremamente baratos.

Um desses drones é o Switchblade 300 que custa em torno de seis mil dólares, o que nem se compara com todo o investimento em um avião de guerra como um F-35 (com custos de até 340 milhões de dólares), além do investimento de dois milhões de dólares em treinamentos de pilotos.

Louis Gave, da casa de pesquisa e análise Gavekal, menciona que foram os drones que fizeram uma grande diferença na batalha entre Armênia e Azerbaijão. Especula-se também que a Ucrânia vem fazendo uso desses drones com bastante eficácia e dificultando os ataques russos.

Desse modo, esse processo de reciclagem de dólares não só é ameaçado por uma necessidade decrescente dos árabes em comprar armamentos dos Estados Unidos, como também pela postura do país que vem tratando o seu dólar como uma “arma”.

No passado, os americanos multaram o banco francês BNP Paribas por intermediar uma operação entre a França e o Sudão que, naturalmente, passou pelo Swift (Sistema de Transferências Internacionais) dominado pelos Estados Unidos.

O país liderado por Joe Biden está sendo criticado pelo modo como vem congelando as reservas da Rússia, do Afeganistão e também como vem tratando as relações com os oligarcas russos. De maneira coletiva, os EUA estão bloqueando determinadas contas sem chances de defesa.

Essa mensagem passada para todo o mundo, principalmente para os grandes bilionários, é um alerta de que, talvez, deixar as reservas nos Estados Unidos não seja uma boa alternativa, pois o seu país pode ser o próximo da lista.

Portanto, temos um mundo mais polarizado! Os Estados Unidos e o dólar continuarão fortes e não deixarão de ser importantes, no entanto, é essencial perceber que o dólar tende de abrir espaço para nova uma moeda… Essa que pode ser de outro império que tenha a China e a Rússia como protagonistas.

E, principalmente, caso a China consiga o acesso à compra do petróleo russo por meio do pagamento em sua própria moeda, o país comunista chinês passará a herdar um privilégio dos europeus que, anteriormente, compravam o gás natural russo pagando em euros, o que muito em breve não será mais possível.

O resultado dessa dinâmica indica que, a taxa de juros na China (historicamente mais alta que na Europa e nos Estados Unidos), possivelmente, agora, caia um pouco e o custo de capital na Europa suba.

Esse é um ponto muito relevante em relação às próximas ramificações na precificação dos ativos.

Espero você na próxima edição!

Um grande abraço, 
Marink Martins. 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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