Global Investor #46: Prepare-se para o massacre dos "Baby Boomers"!

7 de abril de 2022
Engana-se aquele que pensa que o envelhecimento de uma população é um fenômeno que contribui para taxas de inflação mais baixas.

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A geração americana dos "Baby Boomers" — os nascidos entre 1946 e 1964 — é a mais rica de todos os tempos. Quando chegou ao mercado de trabalho no início dos anos 80 promoveu uma forte revolução e contribuiu para um longo período deflacionário que dura até hoje. O problema é que agora eles estão se aposentando. 

Engana-se aquele que pensa que o envelhecimento de uma população é um fenômeno que contribui para taxas de inflação mais baixas. Estes temas são tomando como base os gráficos abaixo:

No gráfico à esquerda, é possível observar uma classificação do trabalhador entre consumidor de capital e provedor de capital. Sempre começamos a nossa vida como consumidor de capital e isso, normalmente, perdura até os 34 anos, mesmo já atuando no mercado de trabalho. 

Em média, as pessoas se transformam em provedores de capital após os 34 anos, quando elas de fato começam a poupar dinheiro. Ao poupar dinheiro, o trabalhador contribui para que esse capital fique disponível para a sociedade e para grandes empresários, assim, esses podem colocar boas ideias em práticas.

E, ao ter muito dinheiro sendo fornecido para a sociedade, o resultado é um excesso de liquidez que, normalmente, resulta em taxas de juros mais baixas.

Mas, quando a situação é inversa, o número de trabalhadores classificados como provedores de capital é menor e a situação é de mais escassez, menos liquidez e taxas de juros mais elevadas. 

O segundo gráfico, da direita, demonstra essa classificação entre consumidor e provedor de capital, sendo possível observar justamente uma situação muito importante, pois, ali, vemos um cenário que ocorreu nos Estados Unidos. Uma situação em que a geração dos Baby Boomers foi muito populosa e começou a chegar no mercado de trabalho justamente em 1980, um período um tanto tumultuado.

O ano de 1980 foi subsequente à crise iraniana de 1979, que jogou o preço do petróleo nas alturas e que provou uma inflação elevada que teve que ser combatida pelo presidente do Fed da época, Paul Volcker.

O Volcker adotou uma postura rígida elevando a taxa de juros do Fed Funds para um patamar consideravelmente alto, contribuindo para abaixar a inflação, mas, houve outros fatores… A inflação é um sistema complexo!

Um fator necessário a  ser enfatizado é justamente a chegada dos Baby Boomers, que se transformaram em provedores de capital, resultando no grande bull market da renda fixa nos Estados Unidos! Movimento esse que começou na época do aperto monetário de Volker e dura até hoje. 

Há quem diga que esse período deflacionário fez com que a taxa de juros de 10 anos dos EUA saísse de um patamar elevado para um baixo, podendo se alongar por mais tempo. Outros julgam que já estamos no fim e um período inflacionário está por vir.

É muito interessante refletir: se os Baby Boomers chegaram e contribuíram para um forte período deflacionário, é natural pensar que a saída deles do mercado de trabalho observe justamente o oposto agora.

Se a chegada foi deflacionária, a saída tende a ser inflacionária! Mas, e as outras gerações? 

 


Logo após os Baby Boomers, tivemos a geração X (nascidos entre 1965 e 1980) e, na sequência, a geração dos Millennials (1981 – 1997).

Bem, essas gerações estão trabalhando e se transformando. Provavelmente a geração X já é provedora de capital e os Millennials estão se tornando provedores de capital.

Contudo, nos Estados Unidos, essas gerações são patrimonialmente pequenas demais comparadas aos Baby Boomers, que detêm 70% da riqueza do país. A geração de 1946 a 1964 ganhou muito dinheiro e o que possui de ganho de capital acumulado é incomparável, porém, agora, eles estão se aposentando e se transformando em consumidores de capital. 

Enquanto os Baby Boomers começam a atingir os 70 anos, eles começam a gastar mais dinheiro com viagens, comprando imóveis, mas também podem começar a gastar com despesas médicas, algo natural da vida!

A saída dos Baby Boomers dos mercados, de certa forma, resultará em uma venda persistente de ações.

Mas, será que as gerações X e Millennials vão comprar essas ações? Se sim, é natural que tenhamos uma maior pressão vendedora. Esse é o massacre dos Baby Boomers!

A venda será contínua ao longo de diversos anos, mas não é apenas isso: ainda temos um fenômeno inflacionário porque, com o fim do bônus demográfico (relação entre número de pessoas que trabalham e as que já estão inativas) e quando essa relação começa a se deteriorar, a tendência é de haver pressões inflacionárias. Basta observar o que está ocorrendo neste período pós-pandêmico.

E para esse cenário, nos Estados Unidos dá-se o nome de “grande renúncia” — The Great Resignation — um fenômeno que viu muita gente se aposentando de forma precoce por razões sanitárias, mas também devido ao efeito riqueza. Com isso, as ações subiram demais e as pessoas tiveram esse luxo de se aposentar de forma precoce. 

No entanto, agora observamos uma escassez de trabalhadores! Está faltando mão-de-obra nos EUA e é possível observar uma pressão nos preços e nos salários. Um fenômeno ocorrido nos últimos dias e que corrobora com essa visão é que finalmente um grupo de trabalhadores da Amazon conseguiu se organizar e fundar um sindicato, algo que a empresa vinha lutando contra por anos.

A força, agora, está com os trabalhadores, porque eles, ao contrário dos anos 80 em que eram abundantes, são um tanto escassos, pelo menos nos EUA. 

Espero que tenha gostado da edição!

Um grande abraço, 
Marink Martins. 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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