Do Mercado #59: O plano de governo de Lula e Alckmin

6 de julho de 2022
No dia 20 de junho, a chapa Lula-Alckmin publicou uma “carta” ao povo brasileiro versão II, com 121 pontos principais para um plano de governo com competências que, caso implementadas, impactarão diretamente na sua vida!
 

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No dia 20 de junho, a chapa Alckmin-Lula publicou uma “carta” em nome dos partidos que formam a base dessa coalizão, direcionada ao povo brasileiro, que apresenta 121 principais pontos que serão a base do plano de governo, esse que será anunciado em breve.

Ainda não é possível saber se esse plano sairá antes ou após às eleições presidenciais, caso o candidato Lula e seu partido sejam eleitos.  

Esse atual modelo de documento apresenta muitas semelhanças com a carta (versão I) publicada em 2002, que tinha como foco alguns determinados pontos como, por exemplo, o não pagamento da dívida interna e da externa. 

No mesmo período, há 20 anos, houve uma “corrida de ativos brasileiros”, então a bolsa e os títulos despencaram e, apenas em um único dia, tivemos uma saída de 1 bilhão de dólares em reservas. Isso fez com que a vitória do candidato Lula fosse prevista. 

Na prática, através da primeira carta, para não assumir um país “quebrado”, o PT (nas palavras de Lula e da coligação na época) anunciou que não faria o que havia prometido nos últimos 16 anos, passando a ser pró-mercado, ter responsabilidade fiscal e contratar um presidente do Banco Central que tivesse experiência em setor privado. Bem, essas e outras declarações criaram a famosa frase “Lulinha, paz e amor”. 

Ao longo do tempo, essa postura se provou muito inteligente, promovendo credibilidade ao partido, fazendo com que os ativos brasileiros tivessem um desempenho espetacular e assim permanecem durante 10 anos. 

No começo, o sucesso desse modelo foi tanto que, devido toda uma estratégia, disfarçou os eventos que viriam a seguir e, quando o mercado se deu conta do que estava enfrentando, já era tarde demais. Diante desse cenário, o Brasil praticamente já havia encomendado a crise de 2016. 

Mas, o que essa segunda carta nos diz?
 

Esse novo documento trouxe 121 questões, algumas de característica subjetiva e outras objetivas, vejamos.

O modelo atual está mutilando as conquistas sociais, mas no modelo novo isso voltará a ser uma prioridade. Além disso, a carta deixa claro que o compromisso a qualquer tipo de investimento será baseado na ideia ESG (governança social e ambiental). 

Esse é um dos focos desse candidato, afinal, estamos falando sobre um governo de esquerda. Não somente aqui no Brasil, mas em outros países (como nos Estados Unidos) é possível ver problemas associados com o preço do combustível, porém, mesmo assim, os democratas não dispensam a utilização dos combustíveis fósseis e essa mesma postura se repete na Europa. 

O texto da carta também foca a volta do Brasil na participação dos governos, dos organismos multinacionais e multilaterais. É fato que desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República, o país tem assumido um papel bem coadjuvante. Por outro lado, sabemos que o PT tem uma maior capacidade de organização e acesso às relações internacionais.

Um amplo amparo a todos os grupos sociais e a todos trabalhadores também faz parte dos 121 pontos. As novas regras que vieram após a reforma trabalhista e uma reestruturação do sindical também estão descritas no documento. 

Eles também retomam o assunto sobre os aumentos de gastos com alimentação, saúde, segurança pública, educação, mas, até então, não houve uma menção de onde virá todos esses recursos, apenas comentam que vão acabar com o Teto de Gastos e que vão tentar evitar a sonegação e cobrar mais impostos dos ultra-ricos.

Outra prioridade recai sobre a posição da mulher na sociedade, enfatizando a pretensão do equilíbrio salarial em todas as categorias profissionais. 

Eles também estão preocupados em focar em proteger todas as classes por meio de uma política racial, expandindo as cotas, além da proteção ao adolescente, à criança, aos povos indígenas, minorias que, segundo o governo, estão sob fortes ameaças.

Outro tópico presente no documento refere-se ao combate à inflação, não especificando como farão isso, mas criticando a atual política, afirmando que ela não funciona. Além disso, também pretendem mexer na política de preços da Petrobras, a qual desejam evitar a privatização, assim como da Eletrobras e dos Correios. 

Para o mercado financeiro, eles dizem que pretendem reduzir a volatilidade da nossa moeda atuando de forma mais intervencionista, isso é, vendendo as nossas reservas para fazer o dólar cair. Embora o Banco Central seja independente, essa seria uma atitude aplicada pelo governo. 

Também é mencionado que 66 milhões de brasileiros estão endividados e para solucionar isso, vão utilizar os bancos públicos e os privados para acabar com esse problema através de renegociações.

É claro, as posições agrícolas, a tecnologia, as políticas de segurança pública e os programas sociais, tomaram conta de vários parágrafos do documento, além da enfatização de que serão um governo transparente atuando no combate à corrupção. 

Nesta carta, há diversas questões preocupantes, pois, não existem explicações claras sobre de onde virão os recursos para aplicar todos esses direitos. Por enquanto, o único discurso claro é sobre como eles vão acabar com o teto de gastos: começando a cobrar impostos dos super-ricos.  

O governo também pretende dar força aos sindicatos, declarando que, de forma peculiar, pretendem criar grupos de participação direta em atividades do Congresso. 

Bem, esse é um modelo que provoca efeitos diferentes, em ativos diferentes, o CDS — Credit Default Swap — pioraria e o mercado de pré também ficaria complicado, pois esse governo deseja muita expansão de crédito e investimentos direto através do Estado. Com isso, grandes e ruins gastos seriam uma tendência, tornando a inflação mais forte, dessa forma, forçando os juros a ficarem mais altos que, para o longo prazo, resultaria em algo negativo.

E para o assunto “Bolsa” realizamos um Relatório Especial no qual comentamos sobre as ações que performariam bem de acordo com cada governo Carteira Lula e Carteira Bolsonaro”. 
 

Aguardo você na próxima edição!
 

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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