Do Mercado #62: Quando o mercado precifica as eleições…

27 de julho de 2022
Estamos vivenciando um momento de mercado muito importante: as eleições presidenciais estão cada vez mais próximas. Diante de tantas possibilidades e buscando um cenário político mais claro, podemos confiar nas pesquisas eleitorais?
 

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Diariamente, ouvimos ser necessário esperar que as eleições aconteçam para, então, tomarmos decisões sobre onde e como operar os investimentos.

Mas, historicamente, durante várias eleições, o mercado foi capaz de precificar movimentos certeiros antes que os resultados eleitorais fossem determinados. 

Às vezes, o favoritismo de um candidato, na opinião da estatística, faz com que os dados sejam mais objetivos, porém, todos estamos sujeitos às surpresas e às famosas mudanças de última hora. Já presenciamos esse fator por diversas vezes e não apenas no Brasil.

Nas eleições argentinas de 2015, quando Mauricio Macri foi eleito, o mercado, de forma antecipada, já tinha percebido que talvez ele fosse o primeiro candidato não peronista em 40 anos. Prevendo isso, o mercado analisou e constatou que isso traria grandes mudanças para o país. 

E, após os resultados eleitorais, o mercado fez um rally! A Bolsa argentina chegou a subir 100%! Inicialmente, as previsões foram contrariadas e quando Macri foi eleito, o mercado dos nossos vizinhos viveu as suas máximas, mas, claro, as severas quedas vieram na sequência. Com isso,  os preços nunca mais voltaram a se estabilizar. 

Isso é, o mercado “previu” que Macri venceria as eleições, começou a adiantar os movimentos e quando os resultados se confirmaram o oposto aconteceu. 

Já nos Estados Unidos, em 2016, o esperado era  que Hillary Clinton venceria as eleições, pois as pesquisas apontavam 85% de chances para Hillary contra 15% para o candidato Donald Trump.  No entanto, embora todos os “poréns”, Trump venceu afirmando que faria movimentos pró-mercado, principalmente através de cortes de taxação. E, já no dia seguinte, o mercado fez um rally. Essa foi uma reação que, embora tenha sido surpreendente, foi muito positiva. 

Ainda utilizando os Estados Unidos como exemplo, nas últimas eleições em novembro de 2020, o mercado julgava que se Biden fosse eleito, as coisas iriam piorar muito. E ele venceu! 

Houve sim uma certa volatilidade inicial, porém, ainda em novembro daquele ano, um rally muito forte começou e ultrapassou as máximas da pré-pandemia, levando o índice S&P aos 4.750 pontos, algo que ninguém previu. Esse foi mais um exemplo de repentinas mudanças nos mercados. 

Falando de Brasil, na última eleição em que o ex-presidente Lula foi reeleito, no ano de 2011, época em que o candidato pregava o seu discurso anti-mercado, falando sobre o não pagamento de dívida externa e interna, o mercado avaliou que o petista ganharia as eleições presidenciais e começou a movimentar os preços alinhados com essa expectativa. Com isso, vimos o maior nível de estresse nos mercados dos últimos 25 anos no Brasil.

Entretanto, após o candidato soltar a “carta ao povo brasileiro”, afirmando que não faria diversas coisas e confirmando isso via atitudes, o cenário foi melhorando. Entre 2002 e 2007, tivemos um dos maiores rallies já visto na história do Brasil.

Após o impeachment de Dilma Rousseff, seu vice, Michel Temer, assumiu a presidência e o mercado começou a melhorar em determinados aspectos, não havendo uma grande surpresa nas eleições de 2018. Simultaneamente, uma onda “anti-esquerda” e pró-mercado também começou, auxiliando na evolução de Jair Messias Bolsonaro que passou de minoria de apoio ao candidato vencedor nas eleições. 

Na época, quando Bolsonaro assumiu a presidência, as expectativas do mercado eram boas, contudo, grande parte desse cenário foi sendo decepcionado a partir de grandes erros do Banco Central sendo evidenciados e tanto Bolsonaro quanto Paulo Guedes se mostrando mais populistas e menos pragmáticos, contribuindo com a “volta da esquerda”.

Nos últimos dois meses, com a falta de avanço do favoritismo de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais e o avanço positivo do Lula, uma parte da deterioração, devido ao fiscal, já está entrando no preço.

Com tudo mais constante, e caso o Lula seja eleito, o impacto será muito menor, pois as pessoas já estão se preparando para uma determinada forma de política e adequando suas carteiras e investimentos de acordo com essas expectativas. Porém, caso esse cenário se altere, mudanças significativas nos preços vão acontecer. 

Bem, mas o que fazer enquanto todos esses prospectos não se solidifiquem? A resposta é um pouco mais subjetiva e não trivial porque isso depende muito de como as pessoas vão reagir às pesquisas e se essas análises entregarão uma conjuntura política mais clara conforme as eleições vão se aproximando.

Ainda estamos descobrindo o que precificar e quais as probabilidades. No entanto, dados históricos nos fazem lembrar que, muitas vezes, o mercado está sujeito a prever o candidato certo, o movimento errado e vice-versa. 
 

Aguardo você na próxima edição!
 

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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