Do Mercado #58: Câmbio - dólar a R$ 5,20, e agora?

29 de junho de 2022
O dólar se movimenta a cada minuto e, diariamente, a sua cotação fecha sob valores diferentes, pois os inúmeros fatores globais (sejam os econômicos, conflitos, ou eventos), influenciam diretamente na dinâmica do câmbio. Dessa forma, ter a certeza para onde a moeda está indo, é um grande desafio.
 

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Prever as direções do câmbio é um questionamento de muitas pessoas, pois essa é uma dinâmica que está associada a diversos fatores. Às vezes, o câmbio obedece aos fluxos, outras vezes mais os fundamentos, mas também há ocasiões em que ele segue uma dinâmica própria e passa a olhar para outras moedas, como aconteceu com as pressões durante o mês de junho deste ano. 

Mas, daqui para frente, o que vale a pena considerar para tentar prever a direção do dólar? 

No atual nível, o câmbio parece ter muito mais oportunidades para cair do que para subir, porém, é preciso analisar ambas as perspectivas! 

As pessoas estão olhando consideravelmente para a recente dinâmica do dólar! No Brasil, a moeda americana tem subido quase que diariamente alinhada com o movimento lá de fora. 

O dólar americano realizou a sua maior alta dos últimos 20 anos, principalmente contra as moedas do G10 (iene, euro e até mesmo a libra), uma questão que indica que pode haver muito espaço para que a moeda americana caia contra essas moedas em geral, afinal, hoje, esses países apresentam políticas ainda mais estimulantes do que os Estados Unidos, com isso, há uma fuga para essas moedas também. 

Esse capital tende a caminhar para os países que estão realizando uma política monetária contracionista, principalmente com os juros mais altos. Mas, no Brasil, o que há de bom no Real? Bem, o primeiro ponto a destacar é o nível!

O nível importa muito, pois vender o dólar a US$ 5,70 é uma questão, já vender o dólar a R$ 4,70 é outra. Nesse sentido, há dois meses, o Brasil já estava a 15% acima da mínima dos R$ 4,68, e agora estamos mais próximos da máxima, a 8% abaixo dos R$ 5,70. Bem, analisando esses níveis e realizando as comparações, isso mostra que Brasil está muito mais longe das mínimas do que das máximas.

Em segundo lugar, os fundamentos no Brasil indicam que as contas estão muito mais equilibradas e se compararmos os dados de dezembro de 2021, o nível de patamar, hoje, é muito maior. Estamos entre os países com o nível mais alto de juros nominais, mesmo o Brasil ainda não sendo um país subdesenvolvido e isso é algo muito importante para o câmbio. 

O câmbio responde aos juros curtos e foi possível observar isso acontecendo com os países que tiveram problemas com a sua moeda, como a Turquia e a Rússia. Quando se faz necessário controlar a moeda, os países sobem os juros significativamente para atrair capital, fazendo com que a moeda reverta a direção. 

Já os superávits na balança comercial têm feito recordes mensais, graças ao nível atual das commodities, principalmente aquelas que o Brasil mais exporta. Mas, enquanto essas commodities permanecerem nesse nível mais elevado historicamente, o Brasil, além dos juros altos, terá um fluxo de capital mais positivo. 

Olhando para outros ativos brasileiros, o câmbio se mostra mais resiliente, já a Bolsa, com juros altos, é um cenário complicado, e nesse ativo, houve grandes perdas de investimentos e fluxo redestinados. 

O investidor pessoa física está deixando de abrir conta na bolsa de valores, isso é visível, já que cerca de 100 bilhões de reais saíram dos fundos multimercados e dos fundos de investimentos em ações. Esse é um dinheiro que, provavelmente, teve uma parte destruída porque a Bolsa caiu e outra parte foi destinada à renda fixa e aos juros. 

Analisando a Selic, existem instituições que oferecem mais rendimentos do que o CDI de retorno. Para esse mercado, houve uma grande mudança do fluxo que há um ano se mostrava mais “fechado”. 

Quando falamos do ativo Bolsa, é preciso entender sobre os juros e saber que a nebulosidade sobre as eleições presidenciais brasileiras e qual será a política adotada pelo candidato vencedor são motivos que provocam grandes mudanças, por isso, a Bolsa é o ativo mais complicado

No mercado de Pré também é possível enxergar essa mesma dinâmica, pois, agora, temos uma resiliência da economia brasileira já que a inflação ainda não está caindo como esperado, portanto, será preciso esperar ainda mais tempo para que os juros caiam. 

No mercado de prefixado também é difícil prever alguma direção porque se na parte curta é possível que a pressão continue, já na parte longa vemos uma forte dependência do fiscal, e aqui o problema se repete: a indecisão sobre as eleições presidenciais. 

Analisando os três principais ativos: dólar, pré e câmbio para o atual momento, o câmbio parece ser o mais favorável e com menor risco. É preciso lembrar que estamos diante de um momento o qual as pessoas estão pessimistas.

Quando um ativo parece seguir uma direção, de repente, isso pode mudar e esse começar ir para o outro lado, principalmente o dólar. Isso aconteceu quando o dólar bateu a low, e a mesma coisa vale para fluxo. Quando começamos a julgar que o fluxo só vai de saída, o câmbio sobe, e sob novo patamar novo, ele começa a ficar mais interessante para determinados importadores e assim ele acaba mudando novamente. Logo, a sua própria dinâmica faz com que o dólar seja pressionado a voltar à média. 

Nesse sentido, acreditamos que o nosso dólar tem um espaço grande devido aos seus fundamentos internos, e acreditamos também que o dólar lá fora tem um espaço para se depreciar, dado que ele está na máxima de 20 anos. Contudo, somos vendedores, ainda mais quando os indícios mostram que os juros — carrego —, que remunera o nosso capital vendido no câmbio a R$ 5,25,  provavelmente, após a próxima reunião do Copom devem vir com mais uma alta. 

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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