Do Mercado #53: A falha da B3 na revisão de fluxo estrangeiro

25 de maio de 2022
No fim de semana passado, a B3 anunciou o seu erro de metodologia nos cálculos de fluxo de capital estrangeiro. Foram mais de 110 bilhões de reais de diferença! Essa falsa impressão impactou muitos investidores e diversos setores do mercado. E agora, quais serão as consequências dessa revisão?
 

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No começo deste ano, vimos recordes no número de capital estrangeiro entrando na Bolsa brasileira e diariamente os dados se mostravam grandiosos, inflando cada vez mais o fluxo, chamando a atenção de diversos órgãos de imprensa. 

Os grandes veículos foram rápidos e manchetes como a capa do jornal O Estado de S. Paulo, apresentaram chamadas como: “o estrangeiro entra com 90 bilhões de reais no mercado nacional em 2022”.

Porém, conforme essas e outras notícias foram saindo, a B3 comunicou, por meio de uma nota, que havia cometido um erro de metodologia ao realizar o cálculo destes valores, e os “corrigiu”, apresentando uma nova revisão que passou de 90 bilhões para 63 bilhões de reais.  A B3 também afirmou que revisaria o cálculo referente a 2020 e 2021.

No último sábado, dia 21 de maio, a Bolsa brasileira anunciou que o valor referente a 2021 foi ajustado e mostrou que o fluxo de capital passou de 70 bilhões positivos para 7 bilhões negativos e sobre o ano de 2020, 31 bilhões negativos anteriormente anunciados, agora são 37 bilhões negativos. 

Evidentemente, houve um exagero por parte da B3! Em 2022, a soma apresentava o valor de 6 bilhões de entrada de capital de estrangeiro. Já em 2021, esse valor estava nos 77 bilhões e neste ano foram somados mais 30 bilhões. Até a semana passada, essa conta fechava em mais de 110 bilhões, porém, um dado completamente errado. Esse é número extremamente desproporcional. 

A importância em relação a esses dados, sejam eles micro ou macro, é que eles ajudam a criar uma narrativa que faça sentido na avaliação dos investimentos.

As consequências desse erro são várias e uma delas foi que, no ano passado, a maioria dos IPOs realizados pelas pequenas empresas saíram com múltiplos altos. Isso porque acreditava- se que existiam estrangeiros entrando com 70 bilhões no mercado brasileiro. Na bolsa americana, os múltiplos também eram altos como se os estrangeiros estivessem pagando aqui no Brasil exatamente o que eles estavam pagando lá fora e, de certa forma, isso fazia sentido. 

O investidor brasileiro acreditava que devido a essa entrada dos estrangeiros, para conseguir entrar nesse IPO, era preciso ter que pagar um preço historicamente elevado porque infelizmente os estrangeiros estavam no mercado puxando os preços para cima.

Porém, conforme os dados reais, não era isso que estava acontecendo e os brasileiros estavam pagando preços recordes sozinhos.

A possibilidade era de que, sem esses erros de dados, os IPOs teriam melhores valores para compra e os preços seriam, certamente, mais baixos. Atualmente, na média, as ações despencaram em até 80%.

Ainda neste ano, com a falsa impressão de entrada diária de capital estrangeiro na Bolsa, ficou muito mais fácil a venda de dólares e a aplicação em bolsa, pois, no dia seguinte, mais fluxos estrangeiros aconteciam. Logo que comprovado que essa impressão e esse fluxo estava errado, o dólar subiu de R$4,64 para R$5,00, praticamente no período de um dia — uma alta de 5% —  com grandes depreciações. Esse é um movimento incomum, mas que foi provavelmente causado  por essa falsa impressão.

Portanto, os fatos são extremamente importantes! Infelizmente, ainda não é possível saber quais serão as consequências jurídicas dessa grande falha que prejudicou diversos investidores que operavam em cima desses números.

Vamos acompanhar esse desfecho!

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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