Do Mercado #46: O primeiro trimestre do ano

4 de abril de 2022
Nesta nova edição, Rodrigo Natali analisa o primeiro trimestre de 2022, especificamente o retorno e o desempenho dos fundos multimercados. O que podemos aprender com esse movimento?
 

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Dois períodos específicos resumem bem esse começo de trimestre. Entre 10 de janeiro e o começo do mês de março, a Bolsa e o dólar, separadamente, realizaram as suas lows ao nível de preço. Em 10 de janeiro realizaram as suas máximas.

Dividindo esses períodos, primeiramente, houve uma apreciação no índice dos fundos multimercados de 3% — a indústria, na totalidade, subiu 3% — , e no mês de março subiu 3.5%. No entanto, ao olhar a Bolsa em dólar e observar o EWZ (ETF brasileiro mais líquido do mundo operando em Nova York), como uma forma de medir essas apreciações,  a subida foi de 26% entre 10 de janeiro e o começo de março. Durante o terceiro mês do ano, o EWZ subiu 13%.

Apesar de os fundos subirem consideravelmente nesse mesmo período, anteriormente, quando a Bolsa subiu 22% da mínima, os fundos subiram 3%. E, agora com uma subida de 13%, os fundos subiram apenas 3.5%. Obviamente um pouco mais do que antes, porém esse é um movimento bem menor.

Mas, como isso se explica sabendo que neste trimestre houve uma quantidade muito grande de dinheiro que saiu dos fundos multimercados, de muitos fundos de Bolsas e da indústria de gestão em geral?  

Os fundos e os riscos foram aumentando conforme o mercado foi seguindo. Talvez, isso seja evidente ao olhar as cotas dos fundos. Em meados de janeiro, enquanto a metade da indústria caía, a outra metade subia e isso é como se estivessem praticamente zerados em termos de apetite a riscos.
 

Conforme o índice foi subindo e o dólar caindo, os fundos foram comprando mais Bolsa e vendendo mais a moeda norte-americana, principalmente no câmbio que os grandes fundos alocaram por ser mais líquido em comparação à  Bolsa.

Os fundos não começaram a pegar o movimento desde o início e, muito pelo contrário, foram se alocando conforme o mercado foi melhorando de preço, algo natural e compreensível dado a dinâmica da própria indústria. Afinal, eles tiveram um ano passado ruim dado que o ano foi muito difícil, abaixo do CDI, com a Bolsa caindo, o dólar subindo e a taxa de juros também subindo consideravelmente.

O cliente padrão (pessoa normal), entenderia uma gestão que não performou bem como no ano passado, mas ao olhar a Bolsa subindo 15% ao mês e comparar com o seu fundo (caso ele não esteja performando positivamente), esse investidor tende a retirar (sacar) o dinheiro e acaba se decepcionando com o negócio.

O investidor não pode e não vai se contentar ao sofrer perdas e nenhum ganho quando o mercado retorna, ainda mais hoje em dia que o CDI está muito competitivo (por volta dos 13% ao realizar um papel um pouco mais longo). 

Esse curso de alta acaba forçando as pessoas a entrarem nele, mesmo não tendo muita base, notícia, ou grandes novidades que justifiquem algo. Esse é um movimento retroalimentado!

E uma forma de tentar saber o momento em que o fundo está prestes a expirar, é observar se todos os fundos estão com a mesma oposição e sendo afetados da mesma forma. Ou seja, quando um cai, todos caem e cabe ao investidor perceber que a volatilidade aumentou.

Constatamos os mercados com dificuldade em realizar novas altas e sabemos que quem entrou forçado foi, basicamente, obrigado a ter uma posição otimista sobre um preço pior, mais alto, e sob um dólar mais baixo. Quando o investidor é pressionado a fazer isso, ele permanecerá atento e posicionado para quando a dinâmica mudar, imediatamente sair da posição e zerar. 

Se por um acaso o trigger para essa zerada chegar simultaneamente para todo mundo, por exemplo, devido a um dado externo novo, esse movimento provocará uma tensão e todos vão querer realizar a mesma movimentação ao mesmo tempo, justamente em um momento em que a liquidez está caindo. 

Sabemos que um aumento da posição em cenários de alta liquidez não é otimismo com relação a dados e notícias novas, pelo contrário! 

O cenário macroeconômico tem sido o pior da margem e esse movimento começou com short squeeze e se transformou, praticamente, em um long squeeze. Uma circunstância em que, quem está comprado é obrigado a ficar ainda mais comprado, tende a continuar nesse movimento e, eventualmente, será rompido, como já vimos acontecer por diversas vezes na história.


Essa não é uma novidade, mas o movimento é de aspecto totalmente incomum. 
 

Espero que tenha gostado dessa nova edição!

 

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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