Do Mercado #45: Movimento incomum nas treasuries

28 de março de 2022
Os sinais demonstram que o mercado não está saudável e que a volatilidade deve permanecer por mais tempo. Com isso, é preciso manter ainda mais prudência, pois esse é apenas o começo de uma longa batalha contra os juros e a inflação mais alta nos Estados Unidos.
 

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Durante a última semana, foi possível observar um fenômeno incomum. Uma das maiores movimentações no mercado de taxas, não vistas desde 1973, aconteceu em março de 2022. 

Os títulos públicos americanos perderam valor, e com isso, suas taxas abriram. E, utilizando como referência um título de 10 anos, chegaram a abrir por volta de 60 basis. Ao calcular a influência no preço do bond, vemos que o impacto é de quase 6% nesse que é o título referência para todo o mercado de capital, não somente o americano, mas para todos os títulos de dívidas de empresas americanas ou denominadas em dólares (que operam sempre acima das treasuries).

E, quando a treasury perde valor e a taxa de juros sobe, é como se todos os títulos denominados em dólar também perdessem o valor e mais taxas subissem, até mais do que a própria treasury, dado que ela é a base, é o título livre de risco.  Logo, ele é o título que tem o beta menor e, teoricamente, é menos volátil do que todos os outros do mercado. 

Quando outro título se desvaloriza, a desvalorização tende a ser maior que a própria treasury. Algo que complementa esse movimento e torna-o praticamente único, é que no mesmo momento em que os juros subiram consideravelmente, a Bolsa americana também subiu e o dólar caiu no mercado internacional. 

Esse é um movimento incomum, pois o normal, quando esse cenário acontece, é ver o dólar se apreciando. É possível observar isso, praticamente todas as vezes em que há uma decisão dos Bancos Centrais de países desenvolvidos. Quando os juros vêm acima do esperado, a moeda do país imediatamente se aprecia e, consequentemente, quando os juros chegam mais baixo, ela se deprecia.
 

 

Houve esse grande movimento nas treasuries e, em contrapartida, o dólar se depreciou. Isso chama atenção porque é algo extremamente incomum na dinâmica dos ativos americanos e de países desenvolvidos, mas é bem comum para países não desenvolvidos  países de emerging markets , como é o exemplo do Brasil. 

Durante a crise argentina, por exemplo, os juros ultrapassaram de nível, a dívida despencou e o Peso Argentino desvalorizou enquanto a Bolsa subia, pois as pessoas estavam procurando formas de se proteger da inflação e, normalmente, o mais comum é comprar ativos reais e a Bolsa é um ativo real.

Esse movimento visto nos Estados Unidos pode ser a consequência do medo de uma postura mais dovish (mais favorável às taxas de juros) do Fed por não conseguir segurar a inflação a ponto de, brevemente, a dinâmica do mercado americano estar replicando de um mercado emergente. Algo incomum.

O que continua sendo recomendado é manter-se na mesma linha! Quanto mais novos e incomuns eventos acontecem, mais sinais de que o mercado não está saudável aparecem, e sinais de que, talvez, o mercado mais volátil permaneça por mais tempo.

A mensagem continua a mesma! É necessário ser mais prudente e não permanecer alavancado, ter menores posições e mais caixa. Esse é apenas o começo de uma longa batalha contra os juros e a inflação mais alta nos Estados Unidos. 

Espero que tenha gostado dessa nova edição!

 

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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