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Na quarta-feria da semana passada, duas importantes notícias ganharam destaque: a decisão de juros do Banco Central norte-americano e a decisão do Banco Central brasileiro.
Atualmente, há um grande contraste ao analisar e comparar cada país. No exterior, os americanos iniciaram as altas de juros no ciclo de aperto monetário (que teve início quando o governo começou a diminuir o tamanho das compras mensais de 120 milhões chegando a zero após a reunião) e estão apenas no começo.
O FED subiu os juros em 25 pontos base, abaixo das expectativas que estavam divididas entre 25 e 50 pontos. Mas o mercado, com uma mentalidade de que juros mais baixos é algo positivo (o que necessariamente não é uma verdade), gostou!
Talvez a reação do mercado tenha sido positiva por ele estar condicionado a pensar sempre de uma mesma maneira. Todas as vezes em que o FED abaixa os juros, o viés para o mercado é bom. Mas, agora pode ser diferente!
O mercado deixa de entender que, durante os últimos meses, a alta da inflação americana foi tão grande e tão forte que, agora, o juro real está a quase 7% negativo, isso supondo que a inflação está rodando a 7% e o cenário nacional está a 0%.
As condições financeiras nunca foram tão superestimadas como agora e os Bancos Centrais deveriam ser muito mais agressivos e austeros de modo a passar mais confiança para as pessoas entenderem que a inflação pode e será contornada.
Afinal, ao mesmo tempo em que a Bolsa se animou, as taxas de juros futuras e de títulos mais longos continuaram se deteriorando e subiram cerca de 50 pontos base em uma semana. Esse é um grande movimento considerando que um bond vale 2%, e sair de 1.5% para 2% é completamente diferente de um bond que vale 13 e sobe 13.5.
Lembrando que os treasuries, títulos públicos americanos, são a base de todo o financiamento do mundo. Todo bond (títulos de investimento no exterior) é calculado em um spread over treasury para avaliar quanto determinado título vale acima da treasury.
Quando a base da economia mundial sobe 0.5%, as taxas de todo o mundo ficam mais caras. Estamos no começo do movimento e essa é uma batalha difícil, pois há gerações que não sabem o que é viver uma inflação tão alta nos Estados Unidos.
Todos sabem como o movimento de juros começa, mas não como ele termina. No Brasil, quando a alta começou, as pessoas acreditavam que acabaria em 6% e já estamos nos aproximando dos 12%, o dobro da previsão inicial.
Ainda por aqui, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) também chegou um pouco abaixo das expectativas (que estavam entre 100 e 125 pontos base) porém, esse parâmetro é, decerto, um pouco irrelevante. O país não está com uma economia superaquecida nem com uma inflação em ascensão como a americana que ganhou forças nos últimos meses.
De forma geral, o estágio do Brasil está mais próximo do fim, por mais que ainda possamos presenciar uma ou até duas decisões em breve, enquanto os Estados Unidos estão no começo. Essa é uma diferença significativa ao comparar as duas situações.
No Brasil, achava-se que o mercado estaria tranquilo e pronto para uma alta, mas quando ela começou nossa Bolsa realizou máximas para depois cair. Já no exterior, vemos o mercado realizando um rali e, eventualmente, apenas será possível saber como isso vai se comportar conforme o tempo passar e os juros mais altos fizerem parte do cotidiano das pessoas.
A mensagem continua! É preciso estar com um pouco mais de caixa e menos exposto a riscos, recorrendo, por exemplo, às empresas exportadoras. Além disso, recomenda-se muita resiliência.
Espero que tenha gostado dessa nova edição.
Um grande abraço,
Rodrigo Natali.