Global Investor #63: O pessimismo de Kaletsky com a bolsa americana

3 de agosto de 2022
Anatole Kaletsky, um dos fundadores da Gavekal, que por muito tempo fora considerado um "perma-bull" (extremamente otimista) em relação às ações de empresas americanas, nos últimos meses, vem comparando a guerra entre a Rússia e a Ucrânia com a guerra do Yom Kippur e seus efeitos nefastos no que diz respeito à inflação global.

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Anatole Kaletsky, um dos fundadores da casa de pesquisa Gavekal, se mantém pessimista com os atuais preços da economia e das ações americanas.

Anatole, por muito tempo, realizou análises certeiras e esteve do lado otimista durante toda a década passada. Os seus argumentos foram aqueles que fortaleceram as ações de tecnologia americana, pois, anteriormente, víamos o custo do dinheiro muito baixo e um banco central que injetava liquidez sob um mundo, de certa forma, “patrocinado por um custo energético mais baixo”, devido à revolução do gás e do petróleo de xisto.

O Shale gás fez toda a diferença na década passada, mas agora, na visão de Kaletsky, a guerra entre a Rússia e Ucrânia mudou tudo! De forma análoga, ele compara o que ocorreu entre 1973 e 1974, quando o conflito entre Israel e os países árabes modificaram os cenários. 

Na época, o custo da energia subiu bastante e, assim como os atuais, muitos investidores que vinham de um tremendo otimismo dos anos 60 (pelas ações de Nifty Fifty que brilhavam naquela década), estavam olhando para qualquer oportunidade de compra. Mas uma queda mais severa ocorreu e o Fed, comandado na época por Arthur Burns, cometeu alguns equívocos e Anatole pensa que Jerome Powell (atual presidente do Fed) tende a fazer o mesmo! 

O pessimismo de Anatole está ligado ao custo energético mais elevado e também ao fato de que uma recessão deve se instaurar nos Estados Unidos em algum momento dos próximos 18 meses e, caso isso aconteça, os investimentos das empresas e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o famoso Capex, serão afetados drasticamente. 

Sendo assim, essas grandes empresas que, ao longo dos últimos anos, gastaram quase 3% de seus markets caps destinados à recompra das ações, provavelmente, irão ver essa taxa cair para um nível mais próximo de 1%, essa que já era uma média considerada antes da "grande década" onde vimos um forte crescimento das big techs

Bem, já temos um cenário em que vemos o mercado imobiliário sofrendo bastante nos Estados Unidos, afinal, os preços subiram de forma significativa, o que é conhecido como housing affordability ou a capacidade de compra dos consumidores americanos que vem caindo. 

É certo que otimistas dizem que o desemprego nos EUA permanece baixo e que o cidadão americano tem muito dinheiro em caixa (em conta-corrente), mas, normalmente, quando há uma recessão como essa que se apresenta para o mercado, ela é proveniente do business invest — investimento das empresas — o qual reside esse risco maior! 

E, é justamente isso que fará com que as empresas americanas tenham que mudar as suas prioridades no que diz respeito aos investimentos, fazendo com que sobre menos caixa para rentabilizar o acionista. 

Por isso, Kaletsky e muitos outros especialistas dos mercados financeiros argumentam que o mais provável é vermos a bolsa americana negociando a múltiplos bem mais baixos.  

Nos anos 70, vimos uma bolsa que caiu por um determinado momento, quando negociava múltiplos de 17 vezes, e sofreu uma compressão de múltiplos que chegou até 8 vezes.

No entanto, ninguém está observando para tamanha queda nesse momento, mas uma queda para níveis 15 vezes lucro projetado, o que parece bem razoável. 

Aguardo você na próxima edição!
 


Um grande abraço, 
Marink Martins

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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