Do Mercado #50: Intervenções do BC e seus instrumentos

5 de maio de 2022
O Banco Central do Brasil realiza intervenções para conter os movimentos de crises, uma postura adotada quando o mercado parece estar estressado...
 

Bem-vindo(a) a mais uma edição da newsletter Do Mercado

O Banco Central do Brasil realiza intervenções para conter os movimentos de crises, uma postura adotada quando o mercado parece estar estressado. 
O BC brasileiro, se porta diferente dos outros Bancos Centrais que adotam outras condutas. Por exemplo, o BOJ — Banco Central do Japão — que, de modo a tentar segurar e proporcionar otimismo para o mercado, compra ações da Bolsa via ETFs. Atualmente, é estimado que o BOJ tenha mais de 10% de todas as ações japonesas, algo diferente do BC.

O Banco Central do Brasil não costuma vender opções para acalmar o mercado, diferentemente do Banco Central do México, o Banxico, que para tentar segurar o movimento de desvalorização do peso mexicano, por inúmeras vezes, já vendeu as opções, por exemplo.  Por aqui, o que se vê são ações mais tradicionais!

O Câmbio!

No câmbio, o BC costuma operar de três formas: por meio do leilão de pronto ou de spot, do leilão de linha (empréstimo feito aos Bancos) e do leilão de derivativos, também conhecido como leilão de swap reverso. 

O leilão de pronto acontece quando, efetivamente, o Banco Central retira os dólares da conta de reserva do governo e passa para a conta de reserva dos bancos que podem manter os dólares em suas próprias contas ou vender para um cliente que deseja realizar remessas para fora. Com isso, o dólar sai do sistema financeiro nacional.

Esses leilões acontecem por diversos motivos: interesses em derrubar a cotação da moeda ou irrigar o sistema para um eventual período sazonal no qual o mercado tem mais saídas e também se dá por algo mais comum, como as demandas dos bancos.

Normalmente, quando o BC decide vender os dólares e isso se dá por pedidos de outros bancos. As pessoas acreditam que essa dinâmica é uma atitude pró-ativa por parte do BC e por decisões de Roberto Campos Neto.

Existe uma conexão direta entre os líderes com determinados Bancos que têm o acesso às operações do Banco Central em Brasília — no caso do câmbio —. Daí então são apresentadas as justificativas (problemas de liquidez, muita remessa, posições de câmbio vendida). Há um limite para essas operações e, quando esse limite chega, o BC pode realizar um leilão de spot

Se o BC julgar que as razões que explicam tais pedidos forem passageiras, de repente, ele pode decidir não vender o spot e apenas vender essa linha (empréstimo). O BC empresta moedas para os bancos vendidos em dólar equilibrado, mas com a promessa de que o empréstimo será devolvido.
Na data de devolução, o BC pode prolongar e continuar rolando indefinidamente. Porém, se em algum momento ele perceber que o dinheiro que saiu não irá voltar, definitivamente, ele realiza o leilão de spot

Quando o Banco Central julga haver um determinado movimento especulativo ou uma sazonalidade mais focada em dinheiro que entra e sai muito rápido, ele se posiciona via derivativo! E ao observar o tipo de saída financeira, não somente a especulativa, ele realiza o leilão de swap reverso, isso é, vender contratos de dólar futuro para as suas contrapartes (que podem ser qualquer tipo de pessoa).

Normalmente, isso se concentra nos fundos, mas, hoje, o estoque vendido de câmbio de swap está em 5 bilhões de dólares! Ou seja, para cada 0,01 centavo que se movimenta na rotação do câmbio, o resultado financeiro é de 100 milhões de reais todas as vezes em que o câmbio se altera. 

Essa prática vem aumentando no Banco Central, pois, antigamente, essa era uma dinâmica realizada para fazer uma contrapartida do movimento de derivativos dentro da B3.

Hoje, Paulo Guedes e Roberto Campos acreditam que esse modo de operação é vantajoso, considerado o melhor e preferível ao leilão de spot. Pois, em eventos extremamente graves, apesar de anexado ao câmbio, o contrato futuro na BMF — Bolsa de Mercadorias & Futuros — é pago em reais. Essa é uma forma de manter as reservas em dólar e ter uma dívida em moeda brasileira. 

Em outubro de 2001, o mercado ficou com pouquíssimas reservas e começou a cobrar um prêmio para ter esses contratos futuros. Basicamente, havia uma diferença entre o câmbio oficial e o câmbio futuro: o dólar futuro operava 10% abaixo do dólar oficial. Hoje, acontece o contrário!

Outra forma de intervenção que podemos identificar no pré, quando as taxas começam a abrir significativamente, é quando os títulos caem de valor e as taxas começam a disparar. Diante disso, o Banco Central pode abrir uma recompra dos títulos do Tesouro, emitindo papel-moeda para começar a comprar os títulos. Dessa forma, proporciona uma saída para o mercado visto que a principal posição dos players sempre é estar comprado em títulos pré, já que esses são uma contraparte do Tesouro nacional que se financia e financia o nosso governo por meio da emissão desses títulos. 

Em determinados momentos, em que há uma mudança de percepção de inflação, observação de movimento das taxas de juros, crise externa ou crise fiscal interna, o Banco Central vem ao mercado para tentar segurar e controlar tal movimento.

Quando esse cenário aconteceu anteriormente, o BC adotou essa postura e apresentou um resultado funcional, o mercado se equilibrou e acabou voltando para um patamar mais alto do que o anterior, deixando de oscilar como antes.
 

Espero que tenha gostado da edição!

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

A Inv é uma Casa de Análise regulada pela CVM e credenciada pela APIMEC. Produzimos e publicamos conteúdo direcionado à análise de valores mobiliários, finanças e economia.
 
Adotamos regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela Comissão de Valores Mobiliários em sua Resolução nº 20/2021 e Políticas Internas implantadas para assegurar a qualidade do que entregamos.
 
Nossos analistas realizam suas atividades com independência, comprometidos com a busca por informações idôneas e fidedignas, e cada relatório reflete exclusivamente a opinião pessoal do signatário.
 
O conteúdo produzido pela Inv não oferece garantia de resultado futuro ou isenção de risco.
 
O material que produzimos é protegido pela Lei de Direitos Autorais para uso exclusivo de seu destinatário. Vedada sua reprodução ou distribuição, no todo ou em parte, sem prévia e expressa autorização da Inversa.
 
Analista de Valores Mobiliários responsável (Resolução CVM n.º 20/2021): Nícolas Merola - CNPI Nº: EM-2240