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Na semana passada, acompanhamos a ata do Federal Open Market Committee (FOMC) e, como já esperado, os economistas se debruçaram sobre o documento de modo a descobrir alguma pista acerca do plano que o Banco Central norte-americano procura executar com relação à política monetária do país.
É possível dizer que não é preciso muita interpretação, pois algumas coisas são fatos. O Fed, explicitamente, disse que, se não fosse pelo começo dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, teria subido os juros na última reunião em 50 basis points, ao invés de 25 basis points. Na época, os mercados reagiram muito mal, mas a maioria já se recuperou, e alguns sob níveis até mais altos que antes do conflito.
A ata reflete toda a conversa sobre o que aconteceu durante o começo de março e, na época, não tínhamos os atuais dados para realizar uma completa avaliação. No mesmo período, eles adotaram uma postura mais conservadora com medo dos impactos no mercado financeiro devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Outro aspecto que ficou evidente, é que o Fed já tem um plano adiantado de como fazer o programa de redução de seu balanço financeiro, deixando os títulos (comprados durante a fase contrária anterior) vencerem. Assim, de certa forma, enxugaram um pouco dos dólares que eles fizeram chegar até os Bancos quando monetizaram a dívida no processo contrário.
Além disso, no começo, o tom sério de Jerome Powell em relação à inflação e à maioria dos diretores do Banco Central americano, julgavam que a inflação seria transitória e passageira.
No entanto, mudaram o discurso e, na última ata, chegaram a dizer que a inflação é muito mais abrangente e persistente, manifestada na parte curta, média e longa da curva dos juros e, que para combater essa problemática, será necessário adotar uma postura ainda mais drástica e mais forte, entrando até mesmo no campo de juros positivos e real restritivos.
Esses foram os pontos mais relevantes do mais recente anúncio do Fed. A ata também trouxe números como o limite de 95 bilhões por mês, 65 bilhões de treasuries e 30 de Mortgage-backed securities, resultando em um ritmo de cerca de 1 trilhão por ano para limpar o balanço do movimento que o Banco Central norte-americano deseja diminuir.
Interpretando tudo isso, essa é uma previsão muito ambiciosa e, na prática, os parâmetros podem ser bem menores.
O Fed pode não estar tão preocupado como eles dizem estar e, quando o Banco Central norte-americano é um pouco mais altista em seu discurso, no exato momento de entregar a política monetária, essa pose muda.
A impressão que se tem é que o Fed sempre adota a tendência de postergar mais as coisas e o mercado também tem essa impressão. Normalmente, o mercado americano escuta muito a instituição, olhando o Comitê de Política Monetária como um órgão extremamente importante com opiniões que devem ser ouvidas e seguidas à risca. Mas, agora, tem sido diferente!
Desde que o Fed errou o diagnóstico da inflação, que deveria ser transitória e passageira e que, hoje, está sendo considerada a maior inflação desde 1980, acarretou falta de credibilidade do Banco Central norte-americano.
Embora o documento ata se apresente, de certa forma, mais altista, o que também chama a atenção é que as taxas de 30 anos subiram 6 basis points após a apresentação do documento, e no dia seguinte, mais 9 basis points.
Esses são movimentos significativos e quase provocaram a queda de 1.5% bonds americanos (a base de todos os bonds longos das empresas, das taxas de financiamento das casas).
Essa foi uma reação e um movimento típico ao assistir um Banco Central adotando uma postura mais firme, mas sem a credibilidade de que irá cumprir tais declarações.
O que antes era algo impensável, atualmente, o modo como o mercado vem reagindo diante do Fed parece estar mudando.
O Banco Central norte-americano acredita que vai conseguir manter o controle, entretanto, o mercado já não pensa assim e julga que o Fed não vai conseguir manter o controle sob todos os pontos, já que a dívida americana nunca foi tão grande na história em termos absolutos, em relação ao PIB, entre outras problemáticas que seguem afetando o longo prazo e a Bolsa.
Espero que tenha gostado da edição!
Um grande abraço,
Rodrigo Natali.