Caro leitor,
O título desta newsletter representa o que acho que vai acontecer no mercado brasileiro de ações nos próximos meses.
De três coisas, tenho a mais profunda convicção de que:
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As eleições presidenciais não serão vencidas pela esquerda populista e fisiológica e muito menos pela esquerda radical.
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A inflação e as taxas de juros, nominais e reais, continuarão em níveis historicamente baixos, quase que em patamares de países desenvolvidos.
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Por mais que os chamados movimentos sociais façam estardalhaço, seus ídolos de barro estão mesmo preocupados em se livrar da cadeia.
Amanhã mesmo, Dia 1º de Maio, uma grande manifestação está sendo esperada em Curitiba.
“Grande quanto?”, eu pergunto. “Um milhão de pessoas, 500 mil, 200 mil?”.
Nada disso. Serão apenas aqueles grupos de sempre, MST, MTST, CUT, com suas bandeiras vermelhas e slogans anacrônicos.
“Então por que o verbo ‘ziguezagueando’?”, o leitor pode estar contrapondo. “Se os fundamentos são sólidos, teremos um bull market na Bovespa.”
O problema, respondo eu neste diálogo de mentirinha, é que não há muitas expectativas de que o próximo presidente será um liberal.
Para fundamentar minha tese de que o mercado vai subir, mesmo que em zigue-zague, acho bom desenvolver um pouco meu raciocínio sobre os personagens do cenário político que prevalecerá até as eleições, começando pelo presidente Michel Temer.
Antes de mais nada, ninguém o teme. Trata-se de um legítimo exemplar de pato manco prematuro. Já não escolhe ministros, a não ser aqueles que ficam trocando de gabinete na Esplanada. Refiro-me, é claro, a Moreira Franco, Eliseu Padilha, Geddel (não, perdão, o Geddel já se foi), etc. Provavelmente o presidente nem sabe o nome de todos os seus ministros.
Temer, o não temido, toma conhecimento das operações da Polícia Federal pelo Bom Dia Brasil. É refém do Congresso Nacional, ao qual, que nem Fausto, vendeu a alma em troca de levar seu mandato até o fim. Suas medidas provisórias estão caducando, uma a uma, nas casas do Legislativo.
Michel vai repetir Sarney que, em 1989, viu as eleições para sua sucessão serem disputadas por 21 candidatos, todos de oposição. Atravessando a praça dos Três Poderes e passando do Planalto para as cuias do Congresso, é curioso constatar que muitos senadores estão se “downgradeando”. Vão disputar um assento na Câmara para manter o foro privilegiado, coisa que o Lula e o Sérgio Cabral, se tivessem sido espertos, teriam feito em 2014.
Ainda contornando a praça, chegamos ao egrégio Supremo Tribunal Federal, o verdadeiro protagonista da política (isso mesmo, da política) nos últimos tempos.
Qualquer brasileiro que esteja minimamente antenado com os fatos sabe de cor o nome de cada um dos onze ministros da Corte e, mais do que isso, tem opinião formada sobre eles.
Para infortúnio do Brasil, a maioria das decisões do STF tem sido tomada por 6 a 5. E, quando é em uma das turmas, por 3 a 2.
Bom salientar que ali, tal como nas peladas de várzea, bola dividida é da defesa. Basta que um dos integrantes da Suprema Corte pegue uma gastroenterite e falte à sessão para que uma mudança essencial para o destino do país tome rumo diferente daquele que a imensa maioria da sociedade quer.
Ainda no ambiente do STF, acontece o absurdo dos absurdos. Os caras têm o direito de pedir vista. Nem Emílio Garrastazu Médici teve tanto poder. Médici ao menos consultava os outros generais e o Conselho de Segurança Nacional antes de tomar uma de suas decisões institucionais.
No Supremo, não. A votação está em 6 a 1, portanto decidida, quando um juiz da Corte interrompe a sessão:
“Eu peço vista!”, proclama. Abre a beca, empurra o microfone como se tivesse nojo do equipamento, ergue-se triunfalmente e se retira do plenário com o processo debaixo do braço. Segundo os professores Rubens Glezer e Eloísa Machado, da FGV Direito SP, em certas situações o pedido de vista “é utilizado como uma opção política do ministro.”
Como se pode perceber, não é patente minha dizer que aqueles doutos senhores agem politicamente.
Em abril de 2014, o ministro Gilmar Mendes pediu vista de um processo no qual já havia 6 votos contrários à sua posição. Só deu seu parecer dezessete (sim, dezessete) meses mais tarde. Provavelmente aguardava um transplante de córnea.
Pois bem, são essas pessoas e esses organismos que irão influenciar os acontecimentos até eleições. Por isso que, embora eu ache que a Bolsa vai subir muito, haverá tombos.
Serão rasteiras vindas do Planalto, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do STF e, não podemos nos esquecer, do cenário internacional.
Cada um desses tombos, seja lá por qual motivo, deve, em minha opinião, ser encarado como ponto de compra de ações. Como acredito que qualquer que seja o eleito (contando com petistas e psolistas fora do páreo), ele, ou ela, irá fazer as reformas necessárias. Simplesmente porque são necessárias e o cara, ou a cara, vai ter de governar por quatro anos.
Reparem que sempre que o Ibovespa chega perto dos 87.653 pontos, que é o recorde de todos os tempos, alcançado em fevereiro deste ano, sofre uma queda.
Em algum momento das próximas semanas acredito que o mercado romperá suas máximas.
Algumas empresas estão começando a se recuperar da recessão, o país começa a crescer. Estatais como a Petrobras estão sendo privatizadas na surdina, vendendo ativos.
Nos Estados Unidos, pela primeira vez em muitos anos, as taxas de juros estão positivas. Ligeiramente positivas, mas positivas. Enquanto a inflação, medida pelo Índice de Preços do Consumidor (CPI, na sigla em inglês), está em 2,4 por cento ao ano, os títulos de 10 anos do Tesouro americano pagam 2,75 por cento. Parece nada, e é quase nada mesmo, mas não acontecia desde 2009.
Já mencionei isso em outras crônicas para a Inversa, mas o mercado sempre antecipa os fatos. O Brasil chegou a um ponto de onde seria difícil piorar. A virada já aconteceu, embora quase imperceptível.
Buy on dips, insisto. Mas se prepare para os trancos do zigue-zague.
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Um abraço,
Ivan Sant'Anna