Sunday Notes #18 - Um presente para toda a vida

24 de dezembro de 2017
Tudo por um Iphone 7

Sunday Notes

Olá, leitor. Aqui é a Olivia. Hoje, o Marink Martins vai contar a você uma história pessoal. Como vocês sabem, a Inversa é uma publicadora de ideias de pessoas que julgamos interessantes para você em sua vida de investidor. Hoje, o Marink conta como ele ajudou o seu sobrinho de 16 anos a investir em opções na Bolsa para realizar um desejo: comprar um celular.  Um abraço e Feliz Natal!


Oi. 

Desde meados de 2014, quando o preço do petróleo começou a despencar, Matheus, na época com 14 anos, sentia que o clima em sua casa ficara mais tenso. 

Seu pai, um dedicado engenheiro de petróleo, vivera todo o “boom” da indústria, atuando por diversas petrolíferas tanto no Brasil como no exterior.

Ainda criança, crescera habituado a churrascos em fins de semana em que seu pai e amigos se esforçavam para discutir assuntos corriqueiros em inglês, em uma tentativa educada de não alienar colegas expatriados que, mesmo morando há mais de um ano no Brasil, ainda não conseguiam se comunicar na língua local.

A mudança de humor no setor, em conjunto com um cenário político brasileiro cada vez mais preocupante, conseguiu ser rapidamente detectada pelo adolescente ao observar que seu pai, sempre brincalhão e barulhento, passara a dialogar em um tom um tanto fúnebre com colegas que ligavam para ele comunicar sobre recentes perdas de emprego.

De repente, aquela viagem previamente programada para Disney fora cancelada, e o ato de sair do quarto sem apagar as luzes passou a ser motivo de irritação para seus pais.

Em 2015, apesar da pouca idade, de tanto ouvir as discussões de seus pais a respeito de um orçamento mais enxuto, Matheus já sabia que se o preço do petróleo ficasse abaixo dos 30 dólares a situação em sua casa poderia piorar, e muito.

Sabia também, como se fosse um já formado engenheiro, que a revolução do "shale oil”era o grande vilã por trás dessa fase de “vacas magras” afetando sua vida.

Afinal, seu pai, apesar de toda sua notoriedade e expertise, poderia ser o próximo a perder o emprego nesse mundo que rapidamente transitara de uma situação de escassez para uma de abundância no que se referia à commodity, que uma vez fora conhecida como o “ouro negro”.

Passados quase dois anos, já no fim de 2016, o clima na casa de Matheus já era outro. Seu pai se mantinha firme e forte como um grande especialista representando os interesses de multinacionais posicionadas para tirar proveito do Pré-Sal brasileiro.

Seu aniversário de 16 anos se aproximava e tudo que o jovem queria era largar seu velho celular companheiro de guerra Galaxy J5, já com a tela quebrada, e trocá-lo pelo recém-lançado Iphone 7. O garoto estava gostando de uma menina na escola e acreditava que o novo celular o deixaria mais “cool” e mais atraente. 

Seu pai, entretanto, talvez por reflexo de toda incerteza que passara nos anos anteriores, resolveu presenteá-lo com algo a ser desfrutado no futuro: 1.000 ações da Petrobras ON, adquiridas por aproximadamente 15 reais cada. 

Seu pai não conseguia esconder seu otimismo diante da presença de Pedro Parente à frente da estatal brasileira. Ao dar o presente para Matheus, seu pai disse: 

Hoje isso aqui é um papel, mas amanhã será uma casa!

O garoto jamais recebera presente de tamanho valor. Mesmo assim, era nítida sua frustração. Na tarde de seu aniversário, quando fui a sua casa parabenizá-lo, ele não aguentou e revelou que sua vontade era mesmo ter o mais recente lançamento da empresa fundada por Steve Jobs.

Estávamos jogando pingue-pongue, como sempre fazíamos, e eu, que estava pronto a entrega-lo a minha veterana e querida raquete Butterfly como presente de aniversário, me vi forçado a achar uma solução para a frustração do meu querido sobrinho.

Resolvi ensinar a ele uma técnica que não só poderia ser útil em sua vida profissional à frente, mas poderia permitir também a realização de seu sonho imediato.

Quando mencionei que havia uma maneira para gerar um ganho mensal através de suas recém-adquiridas ações, suficiente para comprar um Iphone 7 em alguns meses, despertei sua atenção e sua curiosidade de uma forma que deixaria seus professores com inveja. 

Explicar os meandros da bolsa de valores para um garoto já acostumado a monitorar o preço futuro do petróleo foi moleza. 

Então mostrei o que era um contrato de opção de compra de ações e como tal contrato poderia ser utilizado como forma de remuneração de seu investimento. Tamanho era seu entusiasmo com a possibilidade de ter um Iphone que ele simplesmente não deu a menor bola para a veterana “Butterfly” que acabara de receber.

Obtive o OK de seu pai e comecei explicando ao Matheus as nuances relacionadas com uma das operações mais tradicionais: a venda coberta de opções sobre ações. Ao estruturá-la na corretora escolhida por seu pai, expliquei as vantagens e desvantagens de tal operação e, mais importante, expliquei as motivações afetando as partes envolvidas (titulares e lançadores).

Consegui convencê-lo de que aqueles apostando em uma grande tacada normalmente pagam um “prêmio” elevado pela possibilidade de um enriquecimento rápido. Sendo assim, existia a possibilidade de atuar no mercado de opções de forma cuidadosa, gerando ganhos constantes independentemente do fato de sua ação estar subindo ou caindo.

Passamos a conversar diariamente. Aos poucos, aproveitava a oportunidade também para ensiná-lo a utilizar uma planilha de Excel. O surpreendente é que todo esse aprendizado era passado sem resistência alguma por parte de Matheus. Tudo por um Iphone

Em quatro meses, a conta corrente de Matheus já contava com aproximadamente 1.000 reais! 

Neste momento, diante de um certo marasmo na bolsa, aproveitei para ensiná-lo as benesses de uma operação conhecida como borboleta. Alocamos 400 reais de seus ganhos para a operação e expliquei que, pela natureza da operação, tal valor poderia ser perdido caso as ações da Petrobras se movessem de forma abrupta, tanto para cima como para baixo.

Expliquei que ao comprar tal “borboleta” estávamos embarcando em uma venda de volatilidade. Como muitos principiantes, Matheus contou com a sorte e viu o preço das ações da Petrobras caminharem em duas semanas para próximo do “miolo” de sua operação, praticamente gerando um lucro de 800 reais; 200 por cento de seu capital investido. 
     
Embora ainda houvesse “gordura” para ganhar na operação, ordenei que zerássemos tal estrutura, pois os dias que antecedem o vencimento dos contratos tendem a ser extremamente traiçoeiros. 
      
Zeramos as opções e rapidamente pedimos que o saldo fosse transferido de sua conta na corretora para sua recém-aberta conta no banco. Sabíamos que os 1.750 reais, combinados com os descontos oferecidos pela operadora de celular de seu pai, eram mais que suficientes para que Matheus finalmente pudesse desfilar de Iphone 7. 
     
Ao ver seu novo selfie postado no Instagram, não só mostrando seu sorriso, mas também seu novo brinquedo refletido em um espelho de elevador, não me contive e escrevi: Felicidades meu caro! Seja bem-vindo ao mundo das operações não-direcionais!
     
A certeza de que, mesmo com apenas 16 anos, Matheus sabia exatamente o que eu queria dizer com aquela mensagem, me encheu de orgulho.
     
Um abraço,
     
Marink.

Conheça o responsável por esta edição:

Olivia Alonso

Publisher

Especialista em investimentos, Publisher e CEO da Inversa. É formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais na FIA e especialização em Finanças e Negócios na Universidade de Macau. Vencedora do VI Prêmio de Educação ao Investidor da CVM e autora do livro “Criando Riqueza: um guia prático de investimentos e finanças pessoais para leigos”. Trabalhou em agências de notícias no Brasil e no exterior, no iG, no jornal Valor Econômico, na Empiricus e no Seu Dinheiro.

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