Voltamos a 1% ao mês

21 de outubro de 2021
O índice Bovespa e a taxa de câmbio são os indicadores protagonistas do mercado financeiro. No entanto, existe um indicador que afeta todo brasileiro, direta e indiretamente. Saiba os detalhes.

 

Voltamos a 1% ao mês

Por Rodrigo Natali

 

O índice Bovespa e a taxa de câmbio são os indicadores protagonistas do mercado financeiro. 

Estão na boca do William Bonner e outros noticiários, nos e-mails diários com o fechamento do mercado e até nos elevadores de prédios comerciais.

Isso faz sentido porque, na prática, as pessoas se acostumaram a ouvir esses dados, mesmo aqueles que não os operaram diretamente os reconhecem como um tipo de termômetro para a saúde da economia do país. 

E, hoje em dia, com milhões de pessoas físicas operando diretamente na B3, ou indiretamente, via fundos de ações, cambiais ou multimercados, existe um impacto direto no bolso de uma parcela bem relevante da população.

No entanto, existe um indicador que afeta todo brasileiro, direta e indiretamente, com uma abrangência muito maior que os mercados de renda variável ou câmbio somados: o mercado de renda fixa.

Nesse mercado, temos a parte curta, onde poucos tem acesso, a antiga taxa overnight, conhecida hoje como Selic, que está sendo lentamente aumentada pelo Banco Central e hoje se encontra em 6,25% a.a. 

E também as taxas mais longas, em que a maioria das pessoas e empresas tem seus empréstimos e financiamentos, e que geram impacto direto nos orçamentos do governo e do setor privado. 

Apenas como referência, vamos usar a taxa prefixada de 3 anos, por ser próxima ao prazo médio da dívida pública federal, de 3,7 anos, com um estoque, segundo os últimos dados de agosto, de R$ 5,480 trilhões de reais.

Nos últimos cinco pregões, incluindo a abertura de hoje, os juros para o prazo de 3 anos subiram 1,5 pontos percentuais (ou 150 basis), saindo de 10,02% ao ano para 11,52%. E é aqui que está o grande problema e o principal indicador da nossa economia. 

Como as pessoas físicas não costumam operar esses mercados que são, na maior parte do tempo, bastante estáveis, ele segue ignorado, já que pequenas variações têm pouco impacto no processo decisório de investimento das pessoas. 

No entanto, não estamos vendo um movimento pequeno; de início, a taxa prevista para o final de 2024 estava em 5,65% a.a. Agora, não só tivemos essa explosão recente, mas, com a alta de hoje, essa taxa mais que dobrou! 

E essas taxas baixas do começo do ano foram um dos grandes responsáveis pelas migrações de capital e consequentes alocações que estamos vendo hoje (a corrida dos investidores para o mercado de ações). De forma oposta, as taxas de hoje também poderão ser o começo de um novo movimento de realocação, que terá impacto direto nos outros coadjuvantes, o dólar e a bolsa.

Porque, na maior parte do tempo, o ator principal nessa história, o juros, não aparece. Mas quando se muda de patamar, fica clara a relevância.

Com a Selic a 2% ao ano, podia-se comprar qualquer coisa. E com juros a 1% ao mês líquido de imposto (por exemplo, LCA do BTG de 3 anos com cupom mensal), começa-se a reavaliar se realmente certos riscos fazem sentido.

Ouvi de vários economistas e colegas que nunca mais veríamos juros de 1% ao mês no Brasil. Isso seis meses atrás. 
Mas, com a ajuda de muitos deles, que apoiaram os erros que o Banco Central cometeu, chegamos lá.  
 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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