Nesta semana, as duas varejistas de eletrodomésticos mais famosas do país divulgaram seus resultados trimestrais e sofreram fortes desvalorizações de suas ações. Entenda o que preocupou o mercado e os desafios para o futuro.
Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), dona das Casas Bahia, são companhias com portes parecidos. Magalu registrou uma receita de R$35 bilhões nos últimos doze meses e Via R$32 bilhões.
Outra semelhança é que ambas atraíram muitos investidores pessoas físicas para suas bases acionárias. Via tem, hoje, mais 495 mil investidores pessoa física e Magalu 552 mil.
As semelhanças param por aí.
Atualmente Magazine Luiza é uma empresa muito mais estruturada que a Via e a precificação de cada uma delas mostra isso: Magazine tem valor de mercado de R$91 bilhões e Via negocia a um patamar quase 10 vezes menor, a R$9,8 bilhões.
O resultado da Via não foi bom: mais uma vez a empresa surpreendeu negativamente com um possível problema relacionado a processos trabalhistas no montante adicional de R$1,3 bilhão, totalizando assim R$2,5 bilhões em provisões para esse fim. Com isso, o prejuízo registrado pela companhia foi de R$638 milhões. Já o endividamento cresceu R$1,2 bilhão nos últimos doze meses, passando de R$2,4 bilhões no terceiro trimestre de 2020 (3T20) para R$3,6 bilhões no 3T21.
O mercado não gostou e as ações chegaram a cair 18% ontem, fechando a -12%.
Logo depois do fechamento, foi a vez de Magazine Luiza (MGLU3) divulgar seus resultados: ela apresentou um crescimento de receita de 12% na comparação ano contra ano, e um lucro recorrente de R$22 milhões, uma redução de 89% contra o terceiro trimestre de 2021 e abaixo das expectativas de mercado.
Hoje, as ações abriram com queda de -13%.
Embora Magazine Luiza seja uma companhia bem ajustada, também enfrenta o grande desafio de justificar o seu valor atual de mercado de 90 bilhões de reais. Com lucro recorrente de R$700 milhões nos últimos doze meses, ela está negociando a 120 vezes esse resultado.
A empresa precisa entregar um forte crescimento para que esse múltiplo faça sentido. No entanto, esse desafio é cada vez maior por dois motivos: (i) os investidores têm exigido um retorno maior para investir em ações, pois a taxa básica de juros subiu, o chamado prêmio livre de risco. (ii) as taxas de financiamento cobradas no mercado também subiram e ficou mais caro para a companhia se financiar.
Ou seja, tanto Via quanto Magazine Luiza enfrentam cenários desafiadores. No entanto, por motivos diferentes: Magazine enfrenta dificuldade para justificar seu valor de mercado e Via precisa ajustar sua operação para que não caia em um risco de continuidade de seus negócios em um horizonte de médio e longo prazo.
João Abdouni e Nícolas Merolas, analistas CNPI.