Tudo em falta

Quando olhamos um mundo em que tudo passa a ficar em falta, ficamos com a impressão de que não há uma palavra para descrever esse fenômeno, mas ela existe...

Tudo em falta

Por Rodrigo Natali
 

Um fenômeno interessante, que parece não parar de cessar, são sinais através do globo de faltas, quase que diariamente, em todo tipo de economia. São faltas de insumos e matérias primas, de vacinas, de chips, de meios de transporte e maquinário, de mão de obra, (ou de vagas, dependendo do lugar) e, mais recentemente, de energia.

A China provocou uma desaceleração forçada e parcialmente planejada antes dos outros países, freando tanto a atividade como um todo, como principalmente setores mais específicos, considerados menos importantes. Por isso está bem à frente de outros países no processo de normalização econômica e torna-se uma boa referência para aqueles que estão no meio do caminho ou apenas começando, como no caso dos EUA.

De forma bem-sucedida, a Xi-Jinping conseguiu jogar a inflação para baixo através de sua desaceleração forçada, com um número ao ano rodando em cerca de 2%. Além disso, a China conseguiu transformar sua matriz energética corrente de forma sensível, abrindo mão, principalmente, da produção de energia através do carvão, numa iniciativa que foca numa produção energética mais limpa e com uma urgência amplificada por causa dos jogos olímpicos de inverno que sediará.

Além disso, a indústria de construção levou um susto com o caso da Evergrande, principalmente pela reação da mídia internacional com a possibilidade de um calote e suas consequências para o investidor estrangeiro. Só que sabemos que o Governo chinês sempre iria entregar as casas e reativar o setor que hoje em dia está parado, não só pelo fato de que é responsável por um terço do crescimento do PIB, mas porque os problemas de financiamento local são bem fáceis de resolver pelo Governo.

É com esse cenário corrente que algo novo parece ter sido iniciado: a China fez a maior intervenção monetária expansionista desde janeiro, indo na direção contrária do que vinha fazendo. Esse movimento que pode sinalizar uma mudança de postura em direção a um fim do movimento contracionista pode ter diversos impactos, alguns locais e outros globais.

Pelo lado que nos interessa, se essa mudança estiver de fato ocorrendo, podemos ter uma reversão das expectativas com relação ao futuro das commodities, que vinham sendo bastante pessimistas. E naturalmente, aquelas que mais sofreram pela política anterior, seriam as mais beneficiadas pelo novo cenário. Afinal, a China tem alguma capacidade de influenciar, por exemplo, o preço do petróleo e do ouro, mas tem muito mais poder e impacto nas commodities como o minério de ferro, necessário numa retomada da construção civil.

Não a toa, nosso principal produto de exportação já subiu 30% desde as mínimas da semana passada, momento, aliás, em que muitas casas de análise rebaixaram os papeis da Vale, diferente de nós.

A relevância disso vem do fato de que existe uma expectativa generalizada que os preços das commodities vão cair dos níveis atuais, e se isso for revertido, teremos impactos das expectativas de inflação como um todo, afinal, as pressões de preços são a base da maioria das cadeias produtivas.

E quando olhamos um mundo em que tudo parece estar em falta, ficamos com a impressão de que não há uma palavra para descrever esse fenômeno, mas na verdade não, esse fenômeno tem um nome, e bem conhecido de nós brasileiros: inflação.

 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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