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Taper Tantrum: só leia se for um investidor sofisticado
Por Rodrigo Natali
No mercado financeiro, o termo “taper” vem do mundo do esporte, que é quando a carga de treinamento de um atleta é reduzida quando este está a pouco tempo de uma competição. O objetivo é que ele descanse para otimizar sua performance.
O verbo em inglês significa afunilar.
Dado esse contexto, em 2013, depois de uma robusta recuperação econômica, o Banco Central Americano, o FED, começou a “taper”, ou afunilar, seu estímulo quantitativo; ou seja, reduziu suas compras de ativos para normalizar o impacto da política monetária na economia, algo que, por seus termômetros principais, como desempenho do mercado de emprego, do mercado imobiliário e do mercado financeiro, vinha operando muito bem e fazendo máximas históricas, acima dos números vistos antes da grande crise de 2008.
Mesmo que plenamente sinalizado e esperado pelos agentes financeiros, o movimento de redução de compras de títulos, que, na época, não foi acompanhado por uma alta de juros, foi muito mal recebido pelo mercado, que sofreu uma repentina queda depois de meados de setembro, fazendo com que o índice S&P 500 chegasse a cair 9,84% e que a taxa de títulos de 10 anos saísse de 2,47% a.a. para 3,02%, dois movimentos substanciais.
Em face disso, o FED, que tem no fundo um terceiro mandato não declarado de prezar pela estabilidade (alta de preços) dos ativos financeiros, mudou o discurso e, com a mesma volatilidade com que os ativos caíram, eles voltaram a ser recuperar.
Esse episódio ficou conhecido como “taper tantrum”, uma brincadeira com a expressão “temper tantrum” que significa, em tradução livre, birra. Exatamente, birra. Aquela explosão de raiva que uma criança tem quando não conseguiu algo que queria.
A palavra “taper”, no jargão econômico, significa a redução gradual dos estímulos monetários, da mesma maneira que no mundo do esporte significa reduzir a carga de exercícios, mas aqui é mais diretamente às compras feitas pelo FED, atualmente na casa de 120 bilhões de dólares por mês entre títulos do tesouro e MBS (Mortgage-Backed Security, um instrumento financeiro garantido por créditos hipotecários).
Esse termo voltou a ser discutido porque no dia 27 de agosto, próxima sexta-feira, teremos o comunicado do presidente do FED, Jerome Powell, para outros bancos centrais, membros do FED e para os tesouros dos países após a famosa reunião em Jackson Hole, no estado norte-americano de Wyoming, que, como em 2020, será virtual por conta da pandemia da Covid-19.
Existe um pouco de receio, apesar de não estar muito refletido nos preços, de que ele possa anunciar um prazo para começar o “taper”, a redução do atual ritmo de estímulos, uma vez que, hoje, quase temos o mercado cumprindo novamente diversos requerimentos de seu mandato triplo: inflação acima da meta, mercado de emprego quase normalizado e bolsas na máxima.
Por isso, as pessoas aguardam esse evento a fim de ouvir o comunicado para entender se uma indicação para o fim dessas compras pode ser anunciada. No fundo, como estamos em mares nunca dantes navegados, nada podemos fazer além de observar o que pode acontecer.
Em 2013, era esperado e aconteceu o que aconteceu. Em 2021, aprendi a não fazer previsões, ainda mais sobre o inesperado.