Relatório Especial Inversa
Os dilemas do Copom
Por Ivan Sant'Anna
Como todo mundo sabe, ontem, após o fechamento do mercado, o COPOM – Comitê de Política Monetária do Banco Central – elevou a taxa Selic em 1% (100 pontos). O juro oficial passou de 4,25% ao ano para 5,25%. Foram 25 pontos a mais do que o número sinalizado na reunião anterior.
Nos últimos dias, com a divulgação de dados inflacionários maiores do que o esperado, a expectativa dos agentes econômicos passou a oscilar entre 75 e 125 pontos, com a grande maioria esperando 100.
Como quase sempre acontece, o BC “obedeceu”.
Pudera! Se fixasse em 75, seria considerado “frouxo” (dovish) demais. Na outra ponta, um aumento de 125 poderia ser visto como sinal de apavoramento (hawkish em excesso).
Espera-se agora nova alta de 100 pontos em setembro, mais 75 em outubro e mais 75 em dezembro, fechando o ano em 7,75% a.a., que poderá ficar pouco acima da inflação de 2021, tendo em vista os últimos dados divulgados do IPCA.
Às vezes o colegiado, ao invés de decidir o que é melhor para a economia no momento, se limita a fazer aquilo que desagrada menos. E não pode dar pelota para todo mundo.
Os empresários e sindicatos, por exemplo, são sempre contra qualquer aumento de juros. Já os investidores em renda fixa e caderneta de poupança, invariavelmente a favor.
Em julho de 1997, viajando na cabine de comando de um DC-10 da Varig (depois do 11 de setembro de 2001 isso ficou proibido), o comandante me explicou que mantinha a temperatura na cabine de passageiros em 23º C.
“É o número que desagrada menos”, explicou. “Abaixo de 23, mais gente reclama do frio. Acima de 23, do calor.”
Caso não ocorra nada de excepcional em 2022 (queda significativa na inflação, por exemplo), a taxa Selic de 2022 deverá permanecer estática, pelo menos até a realização do 2º turno das eleições presidenciais.
Um abraço,
Ivan Sant'Anna.