Obscuridade temporária: quando as notícias vêm de Brasília

Quando as notícias vêm de Brasília, o fluxo da informação entra na contramão. Como operar nesses momentos de obscuridade temporária?

Obscuridade temporária: quando as notícias vêm de Brasília

 

Por Rodrigo Natali

 

Em momentos ou locais mais civilizados, os mercados costumam gerar suas próprias notícias, dentro de um universo macro e microeconômico. Dessa forma, seus participantes estão na linha de frente e são os primeiros a interpretar e a reagir.

Para explicar melhor, trago dois exemplos:

            1.  Um índice de inflação vem, aparentemente, dentro do esperado, mas o mercado reage mal. Jornalistas e políticos ligam para as casas de análise ou bancos para entender, apenas para descobrir que, sob uma análise mais criteriosa, os números revelam um lado qualitativo mais preocupante do que à primeira vista. 

            2. Duas empresas anunciam uma fusão e, no dia seguinte, seus papéis variam em direções diferentes. De novo, os analistas e economistas que estão na linha de frente serão os primeiros a fazer as contas e entender o porquê do movimento, fazendo com que chegue no resto das pessoas em um segundo momento. 

Nesse tipo de ambiente, os traders, gestores e operadores tem uma certa vantagem competitiva, usam sua experiência e conhecimento para reagir antes, o que pode se provar definitivo e decisivo na performance em uma indústria tão competitiva.

Mas, às vezes, essas notícias vêm de Brasília. E quando isso acontece, a lógica se reverte.

 

Com o anúncio do auxílio emergencial de 400 reais, tivemos uma prévia de como isso funciona, algo que tem acontecido cada vez mais. 

Começa em Brasília, com os políticos, então chega nos jornalistas e só depois chega nos operadores.

Com essas notícias são, normalmente, de fácil análise, tanto as boas quanto as ruins, esse fluxo da informação se torna mais importante do que o processamento da notícia, que causa o efeito contrário: a linha de frente passa a ter uma desvantagem competitiva.

E isso é muito importante de ter em mente, porque estamos nos aproximando das eleições presidenciais de 2022 e teremos mais um tipo de fenômeno: as pesquisas eleitorais. 

Nesse caso, a gênese da informação fica entre o mercado e Brasília, surgindo em diferentes lugares, mas, de forma geral, longe de você, leitor. 

Podemos assumir que, na maioria dos casos, você dificilmente será um dos primeiros a saber, o que significa que alguns movimentos fortes e sem explicação podem acontecer, apenas para serem explicados horas depois: tal candidato está melhor em tal pesquisa, coisa assim.

 Agora, indo ao que interessa, como operar em um mundo assim, onde os movimentos chegam até nós antes que as razões para os mesmos? 

Acredito que a melhor forma é ter hedges, proteções para suas posições; e trabalhar com stops muito maiores que em anos ou momentos normais.

O desejável é que você não esteja morto quando a notícia finalmente vier à tona, para, então, poder decidir por conta própria. 

Ir contra os movimentos quando eles começam ou ter stops bem curtos pode parecer fazer sentido, mas, se pensar que esses períodos podem durar muito, isso pode significar deixar bastante dinheiro na mesa. 

E, finalmente, tenha caixa e menos risco para que possa ficar de olho em oportunidades de médio e longo prazo, que geralmente aparecem em momentos de volatilidade e na loucura dos excessos que vêm das coisas de Brasília.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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