O Brasil tem uma história eleitoral democrática curta. Mas se alguma lição é possível ser tirada, é que os governos tendem a ser menos austeros, indisciplinados fiscalmente e até mais populistas em anos que precisam da população para manterem seus cargos.
Assim, não foi uma surpresa o anúncio de 5% para os funcionários públicos do Poder Executivo na semana retrasada. No entanto, a quantidade de categorias e grupos que recentemente tem demonstrado insatisfação e ameaçado greves, como destacou hoje Rosa Riscala, em sua coluna diária no Bom Dia Mercado, além das diversas frentes potenciais das quais teremos mais notícias ruins para o volume de gastos do governo, demonstram um agravamento da situação fiscal de forma pronunciada.
Algumas fontes de mais despesas podem vir de acordos com as categorias que estão insatisfeitas com o aumento de 5% para os funcionários do Executivo, que incluem:
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A Polícia Federal entendeu o acréscimo como descumprimento do combinado, e vai sentar amanhã (19) com o Ministro da Justiça para negociar por mais aumento.
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A Receita Federal se manifestou dizendo que o aumento de 5% não repõe a inflação.
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No Tesouro Federal está marcada uma paralisação de protesto na quarta-feira, dia 20.
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No Banco Central, a greve continua.
Se houver acordos, mais categorias podem também se manifestar. Além disso, é questão de tempo para os funcionários dos Poderes Legislativo e Judiciário começarem a exigir um reajuste na sua remuneração. A estimativa é que, nesse caso, o gasto para este ano chegasse aos R$ 8 bilhões, cuja fonte de recursos ainda é desconhecida, dado que existe espaço no orçamento para apenas R$ 1,7 bilhão.
Diferente de outras despesas, esses aumentos são definitivos e como já estamos nos dirigindo ao meio do ano, tem um impacto bem maior no ano que vem, podendo enganar um pouco quando olhamos apenas para 2022. No entanto, o problema não é apenas o aumento na folha de pagamentos, temos outras demandas dos congressistas e acordos políticos que podem entrar na conta:
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Possível queda do veto à lei Paulo Gustavo: R$ 3,9 bilhões.
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Aprovação de repasses da lei Aldir Blanc: R$ 3 bilhões.
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Programa Emergencial do Setor de Eventos: R$ 2,5 bilhões.
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Repasse para agricultores de baixa renda: R$ 3 bilhões.
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Subsídio de tarifa de transporte para idosos: R$ 5 bilhões.
Esses valores e mais outros podem chegar em R$ 25,5 bilhões.
Como esses gastos estão sendo anunciados sem cortes equivalentes e sem os protestos do Ministério da Economia, como ocorreu no ano passado, a situação atual é bem mais complicada. Entretanto, percebemos que o mercado como um todo não está olhando esses dados de perto como no semestre passado, quando toda notícia fiscal era acompanhada com uma lupa. Na época, erámos menos preocupados que o mercado, dado que a solução encontrada foi uma mudança de prazo pontual. Hoje, o cenário se deteriorou bastante, mas as pessoas parecem complacentes. E é justamente nestas horas, quando os outros não estão olhando, que vale a pena ficar ainda mais alerta. Quando todos veem um risco, ele naturalmente, passa a entrar no preço dos ativos. Mas quando ele deixa de ser destacado, tem o potencial de surpreender.
Rodrigo Natali
Nota do editor: se você não quer ser surpreendido pelos movimentos do mercado, a dica é “blindar” seus investimentos com as ideias de quem realmente conhece o mundo das finanças. Ex-tesoureiro do banco Bradesco e diretor de Investimentos da Armor Capital, Alfredo Menezes viveu (e venceu!) as crises dos últimos 40 anos. Não por acaso, é um dos traders mais respeitados do País. Na série “Mão de Ferro — Imersão Total”, ele ensina a você como construir um patrimônio sólido, mesmo em um cenário de incertezas. Com os “ensinamentos valiosos” do Alfredo, você saberá como escolher os melhores produtos financeiros, de acordo com o seu perfil e seus objetivos. Clique aqui para saber mais.