Natura: não é fumaça, é fogo

17 de junho de 2022
A Natura adquiriu uma série de marcas ao redor do mundo na última década, sendo a maior delas a Avon, que passa por um momento de revitalização de suas operações. No entanto, a recuperação operacional da marca não está sendo tão fácil como o esperado. Entenda no Relatório Especial de hoje.

A Natura é uma empresa brasileira que obteve destaque no mercado de valores mobiliários brasileiro, entre outros motivos por conta da reconhecida qualidade de sua governança corporativa. Isso a permitiu uma capitalização junto ao mercado em 2020, por meio de um follow on, no qual captou um valor próximo a R$ 6 bilhões para realizar uma desalavancagem após a aquisição da Avon Internacional.

No entanto, quase dois anos depois desse evento, a Natura admite que os desafios na reestruturação e na integração da nova companhia são maiores do que o esperado e acabou entregando resultados abaixo do projetado, principalmente no primeiro trimestre de 2022. O mercado não tem observado com otimismo este processo de turnaround, com as ações da empresa caindo de R$ 60 para R$ 15, uma desvalorização de 75% ocorrida entre julho de 2021 e junho de 2022.

Os sinais de que a revitalização das empresas geridas pela Natura não estão indo bem continuam a ser emitidos por parte da administração: nesta semana, comunicaram ao mercado a mudança de seu CEO, com a entrada do então conselheiro e presidente do Comitê de Pessoas, Fábio Barbosa, substituindo Roberto Marques.

A empresa também comunicou, sem grandes detalhes por enquanto, um novo plano de reestruturação. Ela quer se tornar menos centralizada, dando maior autonomia e autoridade na tomada de decisão às marcas. Apesar de trabalharem no corte de custos, a ideia principal desse movimento é melhorar a geração de receitas, indicando, talvez, que a recuperação operacional venha a ocorrer principalmente por este instrumento e não tanto pela expansão de margem de lucro.

O fato é que, na maioria dos casos, quando esses planos de reestruturação são anunciados, há uma forte sinalização de que o processo parece não estar transcorrendo tão bem e que correções no rumo dos negócios se fazem necessárias. Outro ponto a considerar é que, embora o novo CEO tenha grande experiência e seja conselheiro da empresa desde 2017, ele não é um profissional que tenha atuado majoritariamente neste setor.

Sabemos que teses de investimento em turnaround são muito complexas e difíceis de serem executadas, ainda mais em um cenário inflacionário e de elevação de juros. Tudo isso acontece em um mundo cujas as consequências da pandemia ainda se mostram muito presentes, como fica evidenciado nas cadeias logísticas que ainda não se normalizaram. Também há uma guerra na Europa, afetando materialmente a confiança e a propensão do consumidor local a gastar, além da inflação galopante nos EUA e a política de Covid Zero na China.

Por fim, já se sabe que os resultados do segundo trimestre de 2022 serão fracos – a própria empresa tem sido bem vocal nesse sentido - talvez até piores do que o balanço do primeiro trimestre deste ano. Era esperado, porém, que as coisas melhorassem a partir da segunda metade deste ano, mas apesar do tom positivo, essa mudança anunciada pode indicar que problemas maiores se encontram no horizonte e que a melhora operacional demore ainda mais a se materializar. 

 

João Abdouni (CNPI)

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João Abdouni

Analista CNPI

Graduado em Contabilidade e administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, João possui grande experiência em auditoria contábil, trabalhando por anos na Ernst & Young, famosa empresa inglesa de consultoria. Apaixonado pelo mercado financeiro, integra o time de especialistas em investimentos da Inv e está à frente das séries Premium Caps, Ações Alpha dentre outras.

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