Na contramão do BC
Por Ivan Sant'Anna
Na última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central), realizada esta semana, o colegiado optou por um aumento de 1,5% na taxa Selic, elevando-a de 7,75% para 9,25%.
Essa decisão deveria ter sido neutra para a Bolsa, já que era exatamente o número que o mercado esperava. Acontece que o comunicado pós-reunião veio assustador. Usando palavreado extremamente hawkish, o Banco Central disse:
“Nós vamos trazer a inflação para a meta, nem que tenhamos que ferrar todo mundo.”
Claro que eles não usaram essas palavras. Isso é liberdade poética (para não dizer sadismo) minha.
A advertência veio em mercadês casto, mas não deixou dúvidas de que a política contracionista continuará em 2022, até que a inflação se encaminhe para a banda da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional: 3.5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Como não podia deixar de ser, a B3 se assustou com os termos enérgicos do comunicado. Por essa razão, ontem, 9 de dezembro, o Ibovespa caiu 1,67%, de 108.096 para 106.291. Praticamente toda a pedra fechou no vermelho.
Só que não há nada como um dia após o outro. Hoje pela manhã, antes da abertura dos mercados brasileiros, vieram os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
O número foi de 0,95% (esperava-se 1,10%), 0,30 ponto percentual abaixo do 1,25% de outubro, resultando num acumulado de 10,74% nos últimos 12 meses.
Embora não seja nenhuma estatística digna de se soltar foguetes, foi uma melhora, um esfriamento nas expectativas mais pessimistas e um possível sinal de que o pior da crise inflacionária já esteja no retrovisor.