E se o IPO do Nubank for adiado?
Por João Abdouni e Nícolas Merola, CNPI
O Nubank pretende abrir capital e listar suas ações na bolsa de valores de Nova York (NASDAQ). A ideia inicial é que a companhia vendesse suas ações a um valor de mercado maior que o do Itaú. Sendo assim, se tornaria o maior banco, em valor de mercado, de toda a América Latina. No entanto, já é noticiado que o banco considera reduzir o preço da oferta inicial de ações (IPO).
Com o cenário mudando nos últimos meses, o Banco Inter, que é uma empresa correlata, caiu 55% desde o mês de julho de 2021. Já com a Stone, que talvez seja um caso mais complicado, as ações vem sofrendo queda de cerca de 48% no seu valor de mercado, isso apenas desde o dia 16 de novembro de 2021, puxado principalmente por problemas na estratégia da distribuição do crédito e o aumento da concorrência no segmento de adquirência (máquinas de cartão).
Essa realidade de certa maneira acendeu um sinal amarelo para o principal risco das fintechs brasileiras. Como elas farão para rentabilizar suas carteiras?
Como essas instituições têm disponibilizado serviços com taxas praticamente zeradas para captar clientes, a expectativa é de que o retorno sobre o investimento, em tese, volte por meio da carteira de crédito.
No entanto, nosso país não tem o mercado de crédito concertado à toa, o Brasil é um grande cemitério de bancos, quem é mais velho certamente vai lembrar de bancos como Bamerindus, Banerj, Nacional, Econômico, HSBC entre outros.
A grande maioria desses bancos ou faliu ou foi vendida para os cinco grandes que conhecemos hoje, por problemas na gestão do crédito. Sim, o Brasil é um lugar difícil de conceder crédito, a questão é, quando forem fortemente capitalizadas, as fintechs terão que enfrentar essa batalha, mas dessa vez em grande escala.
O valuation inicial esperado no IPO do Nubank era de R$264 bilhões mas, como divulgado hoje, dia 30 de novembro, essa faixa indicativa foi reduzida para R$218 bilhões.
O banco Itaú, maior banco da América Latina, atualmente negocia por volta de R$210 bilhões e tem entregado há anos lucros na casa de R$26 bilhões, números que representam um longo caminho para os novos bancos alcançarem.
Dado o cenário de desvalorização dos seus pares, talvez o IPO do Nubank deva sair mais barato do que o esperado inicialmente e ainda corre o risco de ser adiado ou até de não ocorrer.
Em decorrência desse fato, podemos estar observando o final do ciclo de empresas brasileiras vestidas como empresas do NASDAQ e poderemos começar a observar o retorno do mercado a valorizar as empresas nacionais com características efetivamente brasileiras.