Deus, Pátria e Família
Por Ivan Sant’Anna
Ontem, quinta-feira, após ter aberto em alta, a B3 retomou a rota de baixa iniciada na quarta-feira, um minicrash (não tão mini assim) que refletiu os pronunciamentos de Jair Bolsonaro em Brasília e São Paulo durante as “comemorações” de Sete de Setembro.
Pois bem, na parte da tarde, o mercado foi surpreendido por uma Declaração à Nação assinada pelo presidente da República, na qual ele se retrata dos arroubos da véspera, principalmente os vitupérios contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Para costurar a cachimbada de paz com o Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro mandou um avião pegar em São Paulo o ex-presidente Michel Temer.
Como se sabe, Moraes foi ministro da Justiça de Temer, que por sinal o nomeou para o STF.
Até aí, tudo bem. O problema é uma expressão usada ao final do manifesto. Refiro-me a “Deus, Pátria e Família”.
Trata-se de uma armadilha. Ninguém pode protestar contra essas palavras.
Acontece, e aí é que está o "X" da questão, que Deus, Pátria e Família era o slogan do movimento integralista de Plínio Salgado que, nos Anos Trinta, apoiava o fascismo de Benito Mussolini e o nazismo de Adolf Hitler.
Ao usá-lo, Bolsonaro praticamente desdiz o que escreve acima.
Durante o regime nazista, os adeptos de Hitler tinham como hino a canção Deutschland über alles, cujo título significa “Alemanha acima de tudo”.
Pelo fato de se tornar um hino hitlerista, após a Segunda Guerra Mundial a expressão deixou de ser usada, pois tornou-se um vínculo com o nazismo.
É como se um candidato democrata nos Estados Unidos dissesse ou escrevesse America First. Isso virou uma expressão trumpista.
Isoladas, as palavras Deus, Pátria e Família são usadas o tempo todo em nosso dia a dia. Juntas, e nessa ordem, remetem a tempos sombrios.
Ivan Sant'Anna