O brasileiro vai às compras em dólares

13 de outubro de 2021
O investimento de brasileiros em portfólio no exterior não é algo novo, mas cresceu mais que o esperado.

O brasileiro vai as compras em dólares

Por Rodrigo Natali
 

Tradicionalmente, as pessoas gostam de olhar o fluxo cambial por alguns prismas mais conhecidos e com longos históricos, como a balança comercial ou os gastos de brasileiros no exterior.

Foi por serem otimistas com essas duas contas que a maioria dos analistas previu que a cotação do dólar, no final deste ano, fechasse em R$ 4,50.

Imaginavam que a balança seria melhor que o esperado: as revisões foram de 55 bilhões de saldo positivo para 70 bilhões, mas deixaram de levar em conta que grande parte do capital poderia não vir para o país, ficando em contas no exterior, o que não faria efeito na moeda.

Os motivos para isso são diversos, mas os juros reais extremamente negativos aqui, com certeza, tiveram um peso importante.
 


Por causa das restrições do Covid, os analistas também imaginaram que os brasileiros não fariam viagens e compras no exterior.

Realmente, a maioria não viajou, mas se enganaram novamente; o brasileiro foi às compras em dólares.

O investimento de brasileiros em portfólios no exterior não é algo novo, mas tivemos, de fato, duas maneiras recentes de fazê-los: via BDRscripto. Os BDRs foram abertos para as pessoas físicas em dezembro de 2020, ou seja, menos de um ano atrás.

Comprar um BDR de uma ação americana aqui na B3 tem o mesmo efeito cambial e prático de se abrir uma conta no exterior, e comprar a ação na Bolsa de Nova Iorque.

Nesse período, vimos uma explosão no volume de brasileiros com investimentos em ações norte-americanas, cerca de 6 bilhões de dólares.

Fonte: Banco Central do Brasil

Ao mesmo tempo, um fenômeno parecido pode ser visto com relação aos investimentos em criptoativos. No Balanço de Pagamentos, na parte de importação de mercadorias, ajustes, podemos ver uma linha “Criptoativos – mudança da propriedade de não residente para residente”, um saldo acumulado no ano até julho de quase 3,7 bilhões de dólares.

Isso seria equivalente a cerca de 10 bilhões de dólares (ou 55 bilhões de reais), sem considerarmos a valorização dos ativos ou possíveis alavancagens.

Se tentarmos entender os motivos para essa mudança, podemos levar em conta a disponibilização de novas tecnologias e formas de fazer esses investimentos que, hoje em dia, tornaram-se bem mais simples.

Mas também não podemos negar que a política de juros baixos do Banco Central teve um papel importante na busca de maiores retornos por parte dos brasileiros.

Essa taxa de câmbio, que o BC tão agressivamente tenta segurar através de suas intervenções, no fundo, só está assim por causa de políticas do próprio BC.

E agora que o brasileiro descobriu um mundo inteiro para investir, será impossível colocar o gênio de novo dentro da garrafa.

 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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