Bolsa e dólar: o que fazer de olho na CPI?
Por Rodrigo Natali
Contribuiu para esta edição: Antonyo Giannini, CNPI
Olá, leitor(a) Inversa!
Após fechar abaixo de R$ 5,00 em meados de junho - pela primeira vez em um ano -, o dólar subiu cerca de 7,5% nos últimos 12 dias úteis, saindo de R$ 4,93 para R$ 5,28.
Esse movimento foi bem contra consensual e pegou a maioria do mercado de surpresa, já que uma apreciação da moeda para patamares de R$ 4,50 era esperada, ao menos pela maioria.
Acreditamos que essa convicção da indústria financeira ocorreu por uma série de fatores pontuais e passageiros, que não vêm ao caso agora, mas que provocaram uma onda repentina de revisões de dados econômicos e preços-alvos para os ativos financeiros.
Vamos explicar melhor.
Tudo começou com a revisão das projeções para a balança comercial, que foi mais alta do que inicialmente estimado, mas que, ao final, não trouxe o fluxo de divisas esperado e a maior parte dos recursos ficou fora do país. Em tempo, o termo divisa, no mercado financeiro, se refere a uma moeda utilizada em fora de seu país de origem. Trata-se, geralmente, de moedas fortes. Neste caso, o dólar.
Bem, dando continuidade, houve uma animação com os números maiores de arrecadação e, consequentemente, melhora da relação da dívida/PIB; ambos podem ser explicados por uma alta da inflação, mais do que pela melhora econômica em si.
O Ministro da Economia, Paulo Guedes, também veio à mídia comunicar que o dólar iria cair, proferindo a famosa frase: “o gringo vai vender a R$ 5,30 e vai comprar de volta a R$ 3,50”.
Soma-se a isso um dólar que vinha se apreciando lá fora por medo de inflação nos EUA e uma bolsa americana batendo consecutivos recordes (de uma hora para outra), o resultado foi que um sentimento de segurança em relação à moeda norte-americana tomasse conta do mercado.
E nesse movimento de queda do dólar, olhando agora, podemos identificar que os principais vendedores foram os fundos locais. Isso é bastante relevante, porque ao abrirem mão dessa posição, permaneceram nos outros dois grandes ativos, bolsa e renda fixa, carregando posições otimistas. Com isso, deixaram de ter um hedge ou um seguro, ficando suscetíveis a qualquer deterioração.
Não é à toa que praticamente todos os fundos que acompanhamos caíram de terça para quarta; parecem ter a mesma posição.
Isso só aumenta o potencial de altas renovadas da moeda, pois agora podem buscar refazer seus hedges, e aumenta a chance de terem que se desfazer de posições em bolsa e juros por estarem possivelmente perto de “stopar”.
Com um cenário político bem mais complicado no Brasil, posição técnica ruim, reversão do movimento do dólar lá fora e consenso do mercado com relação à direção de um ativo, hoje temos um ambiente onde vale a pena ficar com menos risco de mercado: a bolsa pode sofrer e o dólar pode continuar subindo.
A esse cenário, podemos adicionar o aumento de preocupação nos mercados externos por dois motivos principais: a variante Delta do Coronavírus e indicadores da economia chinesa vindo mais fracos.
Nossas carteiras começaram a reduzir risco semana passada, focando em ativos que consideramos mais protegidos, como exportadoras. Sugerimos, inclusive, a compra do câmbio.
Acreditamos que essa postura deve ser mantida, porque, pelo o que estamos observando, o mercado ainda não se reajustou para esse mundo mais complicado e cheio de riscos.