Mercadores da Noite #296: Bandiera Rossa

1 de outubro de 2022
Aqui no Brasil, o PT escolheu o vermelho e, embora não se declare comunista, sempre foi prejudicado por essa opção cromática.

Olá, leitor(a),

Bandiera Rossa
Colore de Vino
Viva Stalino
Viva Stalino

Bandeira vermelha / cor de vinho / viva Stalin / viva Stalin

Esse é o início de uma canção comuno-anarquista italiana pós Segunda Guerra Mundial.

Eu poderia acrescentar mais alguns versos da música. Só que eles são por demais politicamente incorretos e não tenho a menor intenção de ser linchado, mesmo que metaforicamente.

Pois bem, a cor vermelha sempre foi um símbolo do comunismo. Basta ver as bandeiras da União Soviética, da China, da Coreia do Norte, do Vietnã etc.

Aqui no Brasil, o PT escolheu o vermelho e, embora não se declare comunista, sempre foi prejudicado por essa opção cromática.

Durante o comício das Diretas Já, no vale do Anhangabaú, em 16 de abril de 1984, em meio ao mar de gente que compareceu, havia uma profusão de bandeiras vermelhas com a estrela do PT, além do símbolo da foice e do martelo nas, também vermelhas, bandeiras do Partido Comunista Brasileiro.

A eleição de Tancredo Neves foi indireta. Votaram apenas parlamentares. Mesmo assim, Tancredo fez questão de fazer comícios nas grandes cidades do país. 

Pois bem, aqui na Candelária, no centro do Rio de Janeiro, eu assisti, de minha janela no banco Graphus, um deles, com a presença de enorme multidão. Eram bandeiras vermelhas por todos os lados: PT, PCdB, PCB, etc. 

No dia seguinte, em audiência com o presidente João Figueiredo, o candidato da situação, Paulo Salim Maluf, mostrou uma foto da multidão e das bandieras rossas tupiniquins. Maluf argumentou que Tancredo no Planalto seria a volta do regime de João Goulart, normalmente taxado de comunista pelos militares.

O PT nunca se mancou que seus símbolos dão ideia de comunismo puro-sangue, o que não é bem assim. No máximo, pode ser considerado um partido sindicalista de esquerda.

Certa vez, até que tentou subtrair o vermelho. Foi nas eleições presidenciais de 1998, quando Lula teve Leonel Brizola como vice na chapa. Sendo Fernando Henrique Cardoso franco favorito à reeleição, alguns dirigentes petistas tentaram trocar o vermelho pelo branco.

Brizola ficou furioso. “Mal começou a campanha e vocês já estão com bandeira de rendição!”, ele bradou. 

Na verdade, para o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, o vermelho era muito mais simbólico dos maragatos, civilistas gaúchos que lutaram no início do século 20 contra os chimangos. 

Resumindo, os petistas, socialistas, comunistas, maragatos e o que mais fossem levaram uma sova dos tucanos. 

O certo, repito, é que vermelho sempre representou comunismo. Isso não impediu que Lula e Dilma ganhassem quatro eleições seguidas para a presidência. Só que os eleitores não votaram com a intenção de fazer do Brasil um país comunista, mesmo porque esse sistema econômico tornara-se anacrônico com a dissolução da União Soviética e da chamada Cortina de Ferro.

Agora, numa tacada esperta dos marqueteiros de Jair Bolsonaro, seus partidários estão usando a bandeira do Brasil como símbolo. E ninguém pode criticá-los por isso.

Nas esquinas aqui do Rio de Janeiro, camelôs vendem bandeiras verde-amarelas. Vendem, e vendem muito.

Os carros que passam pelas ruas com essas bandeiras nas janelas deixam claro que por ali está seguindo um bolsonarista. O mesmo acontece no condomínio onde moro. Apartamento que tem bandeira brasileira na varanda significa que ali mora um eleitor do capitão-presidente.

Se, amanhã, durante a votação, grupos se reunirem agitando faixas vermelhas junto às seções eleitorais, isso poderá ser enquadrado como propaganda de boca de urna, o que é ilegal. 

Agora, se uma outra turma estiver empunhando bandeiras do Brasil, eles podem alegar que estão apenas celebrando o evento cívico, a vitória da democracia ou simplesmente dando uma demonstração de patriotismo.

De acordo com os institutos de pesquisa, Lula deverá ser o novo presidente, possivelmente com o resultado decisivo até saindo nas eleições de amanhã.

Só que, se realmente vestir a faixa no dia 1º de janeiro de 2023, terá de provar mais uma vez que não simpatiza com o comunismo, tarefa meio difícil para quem vive elogiando os regimes da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua.

Luiz Inácio não poderá se esquecer, em momento algum, que não foi absolvido em nenhum de seus crimes. Apenas os julgamentos foram anulados e retornaram à primeira instância.

A maioria inclusive está prescrevendo, pois na idade do candidato petista a prescrição acontece na metade do tempo.

Outra coisa que Lula não poderá esquecer é que grande parte dos seus votos virá de eleitores que simplesmente rejeitam Jair Bolsonaro.

Se o petista for eleito, ele terá de demonstrar-se favorável à livre iniciativa e às leis de mercado, tal como aconteceu na primeira vez, em 2003. Naquela época, por sinal, o mercado de ações experimentou um bull market formidável.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna
 

Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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