Mercadores da Noite #294: Todas as grandes potências são “brocháveis”

17 de setembro de 2022
Está dando tudo errado para os russos. Transcorridos sete meses, a cada dia que passa, tropas da Ucrânia, que estão defendendo solo pátrio, recuperam alguma região ou cidade.

Olá, leitor(a),

Ao contrário do Exmo Sr. presidente da República, todas as grandes potências são brocháveis.

Caro amigo leitor, acompanhe o raciocínio comigo.

Na segunda-feira, 24 de fevereiro deste ano, tropas russas invadiram a Ucrânia, cruzando a fronteira leste, na região de Donbass, e a divisa norte, através da Bielorrússia.

Tudo levava a crer que se tratava de um passeio, tal a desproporção de forças. A capital ucraniana, Kiev, seria tomada. A parte oriental do país, onde ficam as cidades de Donetsk e Luhansk, incorporadas à Rússia. Isso sem contar a península da Crimeia, que as tropas de Vladimir Putin já haviam subtraído em março de 2014.

Some-se a essas conquistas o controle da saída da Ucrânia para o mar Negro, cujos portos são vitais à sua economia.

Não parou por aí. O presidente russo exigiu que as forças armadas ucranianas depusessem o presidente do país, Volodymyr Zelensky, e depois se desarmassem. Simples assim.

Só que está dando tudo errado para os russos. Transcorridos sete meses, a cada dia que passa tropas da Ucrânia, que estão defendendo solo pátrio, recuperam alguma região ou cidade.

Bem armados, abastecidos pelos Estados Unidos e por alguns países europeus, eles já empurraram várias unidades russas de volta para seu território.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e apesar de algumas potências (Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha, França, China, Paquistão, Índia e Israel) terem se armado com bombas nucleares, ninguém ousou, e ninguém ousará usá-las.

Outro dia, assisti a um documentário francês, na Netflix, mostrando que já há capacidade acumulada nesse arsenal para se destruir o planeta Terra um milhão de vezes.

Vamos aos fatos:

No ano de 1953, em resposta a uma invasão da Coreia do Sul pela Coreia do Norte, os Estados Unidos, que detinham o maior poder bélico do mundo, entraram na península para tomá-la e unificá-la sob sua influência.

Após três anos de luta, a guerra terminou em empate, com a assinatura de um cessar-fogo.

É verdade que o general americano Douglas MacArthur, comandante militar do Japão, quis usar armas nucleares na guerra da Coreia. Mas foi impedido por Harry Truman (por sinal, o único presidente que usou bombas atômicas para valer, em Hiroshima e Nagasaki), após uma tensa conversa entre os dois em Honolulu.

Eisenhower, sucessor de Truman, obteve autorização do Congresso para intervir no Laos, intervenção essa que se expandiu para o Vietnã e transformou-se numa prolongada guerra que durou exatamente vinte anos (1955/1975).

Bombardeiros americanos lançaram 7,5 milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã do Norte (o dobro do que jogaram sobre a Europa na Segunda Guerra). Isso não impediu que sofressem uma derrota vexaminosa, já que o outro lado defendia solo pátrio (homeland). E isso faz toda a diferença.

Em nenhum momento, os ocupantes da Casa Branca nesse período (Eisenhower, Kennedy, Johnson e Nixon) cogitaram usar seu arsenal nuclear. Que, por sinal, pulverizaria Hanoi, capital do Vietnã do Norte. Mas não encerraria a guerra porque os vietcongues se misturavam à população das cidades do Sul, inclusive Saigon (atual Ho Chi Minh).

No dia de Natal de 1979, o poderoso Exército Vermelho invadiu o Afeganistão, para manter no poder em Cabul um governo comunista. O que parecia ser uma rápida intervenção, transformou-se numa guerra sangrenta que durou oito anos, com os soldados soviéticos combatendo, nas montanhas e desfiladeiros afegãos, os mujahedins (guerreiros sagrados do Islã), financiados e armados pelos Estados Unidos.

Entre esses guerrilheiros apoiados pela CIA, estavam Osama bin Laden e Khaled Sheik Mohammed, que mais tarde seriam os mentores dos ataques de 11 de setembro de 2001.

Apesar de terem levado uma sova dos afegãos, em nenhum momento os soviéticos pensaram em usar seu arsenal nuclear.

O mesmo aconteceu com Israel, num momento em que a guerra do Yom Kippur parecia perdida para o Egito e a Síria. Nessa ocasião, o estado judeu poderia desaparecer do mapa.

Mesmo assim, a primeira-ministra Golda Meir recusou a sugestão de seu ministro da Defesa, Moshe Dayan, de lançar bombas nucleares sobre o Cairo e Damasco.

“Esqueça isso”, foram as palavras da Sra. Meir.

Após o 11 de setembro, os Estados Unidos iniciaram uma guerra contra o Afeganistão, guerra essa que durou 10 anos e terminou com uma fuga desastrada no aeroporto internacional de Cabul, isso já no governo Joe Biden.

Sem uso de ogivas nucleares.

Ou seja, Vladimir Putin jamais lançará bombas atômicas ou de hidrogênio sobre a Ucrânia. E, mesmo que quisesse fazê-lo, seus generais o impediriam.

Por todas essas razões, acredito que a guerra ucraniana terminará em algum tipo de acordo entre as partes, nem que seja de um cessar-fogo.

Lembrando que o cessar-fogo provisório entre as duas Coreias completará 70 anos em 2023.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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