Mercadores da Noite #286: Considerações diversas sobre bear markets

23 de julho de 2022
Do fim da Segunda Guerra Mundial até hoje houve 14 bear markets de ações em Wall Street.

Olá, leitor(a),

Antes de mais nada, é importante salientar que este texto se refere apenas ao mercado de ações, mais precisamente o americano, que costuma trazer a reboque, tal como está acontecendo neste momento, as bolsas de valores dos demais países.

No momento estamos vivendo um bear market mundial. Podemos dizer que ele é causado pela resiliência da pandemia de Covid-19, pela invasão da Ucrânia pela Rússia, pela desaceleração do crescimento da China e pela inflação mundial.

Claro que esses quatro fundamentos são bearish para as bolsas de valores, mas o que faz mesmo os investidores e especuladores correrem da renda variável para a renda fixa é o início de um ciclo de aumento de taxas de juros por parte da maioria dos bancos centrais.

Esta semana o Banco Central Europeu subiu a taxa básica de juros de 0,50% negativos para zero.      

Do início de janeiro deste ano até as 12:45 (hora de Brasília) de quinta-feira, 21 de julho, que é quando comecei a escrever este texto, o índice Industrial Dow Jones caiu 13%.

Podia estar usando, como exemplo de meus comentários, o S&P500 ou o Nasdaq, que hoje em dia são mais representativos do mercado, mas como pretendo recuar nesta análise até antes da existência desses dois indicadores, preferi o Dow, que existe desde o século 19.

A queda do índice Dow Jones anterior a esta deste ano, ocorrida em 2020, foi um tombaço, quase um crash. E teve causa determinante bem esclarecida: o surgimento da Covid-19 na China e sua rápida migração para os Estados Unidos, onde acabaria por matar mais de um milhão de pessoas.

Com o tremendo recesso da economia americana, causado pelos lockdowns, o Dow, em apenas dois meses e meio, perdeu nada menos do que um terço de seu valor.

A solução encontrada foi distribuir dinheiro a torto e a direito para a população, que saiu às compras, inclusive de ações, o que pôs fim ao bear market.

Nessa mesma época, aqui no Brasil, o Ibovespa teve um comportamento bastante parecido: desabou nada menos do que 43 por cento, com a paralisação da maior parte das atividades dos setores industriais, comerciais e de serviços.

Pois bem, continuemos a recuar no tempo. O bear market significativo anterior ao da Covid aconteceu por ocasião da crise do subprime que provocou, entre outros danos, a quase falência das duas maiores sociedades de crédito imobiliário dos Estados Unidos: Fannie Mae e Freddie Mac (que foram encampadas pelo governo) e do banco Lehman Brothers (que Uncle Sam deixou quebrar).

Nesse reinado dos ursos, que durou 18 meses, o Industrial Dow Jones levou uma cacetada de 45%.

A subprime foi causada por pura ganância. Os bancos procuravam os proprietários de imóveis e ofereciam valorizar suas casas, apartamentos, fazendas e terrenos para poder aumentar as hipotecas. Pior: faziam isso de uma maneira extremamente alavancada.

Teria dado tudo certo se os preços dos imóveis subissem para sempre, o que, como todo mundo sabe, é impossível de acontecer. Evidentemente que os executivos dos bancos sabem também.

Só que, enquanto durou a febre especulativa, eles encheram os bolsos com polpudas gratificações, que obviamente não foram devolvidas quando sobreveio a crise. Nem mesmo as dos executivos do Lehman Brothers, que encheram o bolso de dinheiro, já sabendo que o banco iria quebrar.

No Brasil, onde o presidente Lula disse que a crise americana chegaria no país sob a forma de uma marolinha, o estrago na Bolsa foi assustador. Em seis meses, o Ibovespa se desvalorizou em 45%. Os IPOs desapareceram como que por encanto.

Nenhum bear market da idade moderna pode se comparar àquele iniciado no grande crash de outubro de 1929 e que durou até 1932. Nesse período, o Industrial Dow Jones da New York Stock Exchange perdeu quase 90% de seu valor (89,19%).

Como se não bastasse, o mercado ficou quase sem liquidez.

Em minha opinião, a Bolsa de Nova York só não fechou as portas no início da década de 1930 porque justamente naquela ocasião houve grande avanço nas indústrias fonográficas e cinematográficas.

Empresas como a Radio Corporation of America (RCA), Paramount e Columbia Pictures sustentaram o mercado, assim como os colossos Standard Oil Co, American Tobbaco, General Motors e United States Steel.

Do fim da Segunda Guerra Mundial até hoje houve 14 bear markets de ações em Wall Street.

Nos últimos dias, tenho sentido uma perda do ímpeto de venda. Em boa parte dos pregões, o mercado abre em baixa, mas se recupera ao longo do dia. Isso pode ser um sinal de que um fundo esteja se materializando.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna
 

Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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