Olá, leitor(a),
Há alguns anos, nesta mesma coluna Os Mercadores da Noite, recomendei alguns livros aos meus caros amigos assinantes. Alguns me escreveram pedindo mais sugestões. Então, volta e meia enviei outras.
Esta semana terminei de ler “Princípios para a Ordem Mundial em Transformação – Por que as nações prosperam e fracassam”, de Ray Dalio, que ganhei de presente do Pedro Cerize.
Poucas vezes em minha vida, ou talvez nenhuma, agreguei tanto conhecimento como na leitura desse livro.
Pudera! Dalio, além de ser fundador e co-CIO da Bridgewater Associates, o maior fundo hedge do mundo, tem uma cultura extraordinária e uma relação de amizades e intercâmbio de ideias com a nata da intelectualidade do planeta.
A revista Times o nomeou como uma das “Cem pessoas mais influentes do mundo”. Como se não bastasse, a Forbes o listou como um dos cinquenta filantropos mais generosos dos Estados Unidos.
Mas vamos a alguns tópicos interessantes do livro, que me motivaram a indicá-lo com tanto entusiasmo a vocês. Com um detalhe a mais: quem adquirir um exemplar, terá sempre uma prodigiosa fonte de consultas.
A obra é composta de três partes: “Como o mundo funciona”; “Como funcionou o mundo nos últimos 500 anos”; “O futuro”.
Detalhe importante, e isso vale para todas as pessoas: Na introdução, Ray Dalio afirma que “…aquilo que não sei é bem maior do que aquilo que sei.”
Em “Como o mundo funciona”, Dalio não só mostra que brevemente a China se tornará a maior economia do mundo, como já ocupou essa condição durante muitos séculos, até ser superada pela (acreditem) Holanda, a qual se seguiu o Império Britânico e, já no século 20, principalmente depois da Segunda Guerra, pelos Estados Unidos da América, que agora devolverão o cetro aos chineses.
Na parte II (Como funcionou o mundo nos últimos 500 anos), eu tomei a liberdade de transcrever três pequenos trechos:
“Quinhentos anos atrás, era possível viajar cerca de 40 quilômetros por dia a cavalo. Hoje, nesse mesmo tempo, é possível viajar para o outro lado do planeta. Os astronautas da Apollo foram até a lua e voltaram em um intervalo muito mais curto do que um viajante levava para ir de Paris a Roma em 1.500.”
Nos livros de História do Ocidente caolho, fala-se muito das inovações da explosão de cultura e avanço tecnológico (prensa tipográfica, por exemplo) na Europa dos séculos 15 e 16. Só que Dalio desmonta essa versão.
Segundo ele, “…muitas das inovações do Renascimento europeu já existiam na China havia séculos, porque os chineses descobriram muito antes os elementos fundamentais para produzi-las – por exemplo, a prensa tipográfica, o método científico e as nomeações meritocráticas em empregos.”
Para explicar como um país tão pequeno como a Holanda tornou-se o império mais poderoso do mundo, embora de relativamente curta duração (1625/1795), Ray Dalio comenta:
“Embora sua pequena população e seu diminuto território impedissem o país de ser a potência militar dominante no continente europeu, a Holanda mais do que compensou isso através de uma combinação de força econômica, sofisticação financeira e marinha forte, capaz de proteger seu grande império de feitorias e colônias em todo o mundo. Isso permitiu que a moeda deles, o florim neerlandês, emergisse como a primeira moeda de reserva mundial.”
A parte mais interessante do livro é a Terceira, na qual Dalio prognostica o futuro, baseando-se na realidade atual. Alguns dados são impressionantes.
Analisando os Estados Unidos da América, ele rotula a posição econômica e financeira como desfavorável, o peso da dívida muito alto, um crescimento esperado para os próximos anos de 1,1% a.a., aliados a um alto risco de ruptura da ordem interna.
Aqui tomo a liberdade de comentar que o confronto político-partidário nos Estados Unidos está se transformando em uma relação de ódio, que estão começando a surgir algumas ideias separatistas e que a Suprema Corte está interpretando a Constituição de acordo com as convicções pessoais e religiosas dos juízes e não com a isenção que deles se espera.
A população está começando a se revoltar com as decisões, o que não ocorria até algum tempo atrás.
Em contrapartida, Ray Dalio demonstra que a transição EUA/China não será tão fácil assim porque os americanos têm mercados e centros financeiros, assim como inovação e tecnologia, educação, poderio militar, status de moeda de reserva e produto econômico todos muito fortes.
Já para a China, Dalio espera um crescimento anual médio para os próximos anos de 4,3% a.a., comércio muito forte, produção econômica muito alta, educação sólida, inovação & tecnologia, custo de competitividade e poderio militar fortes, sendo que em quase todos esses itens a tendência é de alta.
Enfim, é um livro para se ler, se ter, se consultar e se orientar em decisões de negócios e de investimentos.
Recomendo enfaticamente a leitura.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna
