Olá, leitor(a),
No momento estou lendo Princípios para a Ordem Mundial em Transformação – Por que as nações prosperam e fracassam, de Ray Dalio.
Para quem não sabe, Dalio, além de ser um grande erudito, profundo conhecedor de história econômica, é um dos mais bem-sucedidos gestores de dinheiro do planeta. Fundou e participa da administração das carteiras da Bridgewater Associates.
No atual bear market internacional de ações, ele já faturou quase 10 bilhões de dólares vendido a descoberto, principalmente nas bolsas europeias.
Nesse livro, que ainda não terminei, aprendi muito sobre a Grande Depressão dos Anos Trinta, principalmente como ela transcorreu nos Estados Unidos.
A ideia (correta) que quase todo mundo faz desse período é que nos “Esfuziantes Anos Vinte” (The Roaring Twenties) ocorreu, na New York Stock Exchange, o maior bull market de ações de todos os tempos, tendo se iniciado em 1924 e terminado no final do mês de outubro de 1929.
Uns dizem que o momento mais trágico foi na terça-feira 29 de outubro de 1929, também conhecida como Black Tuesday. Outros apontam a quinta-feira, 24, portanto cinco dias antes, como o principal dia do crash. Aliás, essa quinta é conhecida, na falta de melhor imaginação, como Black Thursday.
Só que a ideia que permanece nas pessoas que gostam de história, de economia e de mercado é que, após o crash, os Estados Unidos entraram em depressão contínua, da qual saíram somente com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939.
O livro de Ray Dalio revela que não foi exatamente assim. Segundo ele, que demonstra sua tese com números irrefutáveis, a Grande Depressão deve ser dividida em duas partes.
A primeira delas foi de outubro de 1929 até março de 1933, tendo, portanto, uma duração de três anos e meio, nos quais os Estados Unidos foram atingidos pela Dust Bowl, a maior seca da história americana.
A interrupção do período depressivo só ocorreu quando os americanos elegeram Franklin Delano Roosevelt presidente e o estadista lançou o New Deal.
Entre outras medidas importantes, o governo Roosevelt contratou batalhões de desempregados para cavar buracos na beira das estradas de todo o país e outro grupo para plantar árvores nessas covas. Além de outros serviços braçais desse tipo.
A dosagem dos salários foi um exemplo de equilíbrio.
Não era tão pequeno que fizesse os homens preferir continuar vivendo do auxílio público, se alimentando nas filas de sopa gratuita e dormindo em albergues, também de graça.
Mas também não era grande o suficiente para que os cidadãos preferissem viver permanentemente daquela sucessão de cava e planta.
A ideia do programa era que esses contratados logo se interessassem por empregos melhores, abandonando a generosidade de Washington.
Com o dinheirinho das covas de plantio, logo recomeçou a surgir algum comércio e, com ele, as primeiras vagas de emprego. Como não podia deixar de ser, o bolo cresceu. O primeiro tempo da Grande Depressão havia acabado.
Veio então a grande e grata surpresa, da qual quase ninguém tem conhecimento hoje em dia. Entre 1933 e 1936 o mercado de ações subiu mais de 200%.
Sim, duzentos por cento. Ainda segundo o livro de Dalio, “a economia (nesse período) cresceu a uma taxa real média alucinante de cerca de 9% (ao ano, bem entendido)”.
Só que aí surgira uma inflação que teve de ser combatida com uma política hawkish (contracionista) do FED, que trouxe o segundo tempo da Grande Depressão. Este sim, encerrado com o início da Segunda Guerra que, como sempre, apesar da carnificina, trouxe pleno emprego na Europa e crescimento industrial nos Estados Unidos. Até que, em 1941, eles entraram na guerra após o ataque japonês a Pearl Harbor.
Foi nessa ocasião que se iniciou o que Ray Dalio chama de Império Americano, que nos próximos anos será, segundo o autor, substituído pelo Império Chinês.
Mas isso é assunto para uma crônica futura.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna