Mercadores da Noite #276: Cada bear market tem a sua história

14 de maio de 2022
Não é tão fácil encontrar bear markets. Isso é animador! Pode-se perceber que eles são raros e não duram para sempre. Muito pelo contrário. Costumam representar excelentes oportunidades de compra de ações.

Caro(a) leitor(a),

Uma coisa é certa e acho que ninguém pode discordar de mim. No mercado de ações, estamos atravessando um bear market global.

Além de comentá-lo neste texto, vou fazer um apanhado de alguns relevantes que o precederam, com destaque para seus fundamentos e sua duração. Me limitarei à B3 e à Wall Street.

De 4 de abril deste ano até o momento em que redijo estas linhas, o Ibovespa caiu treze e meio por cento, consequência da fuga para títulos de renda fixa de investidores em ações. O motivo é um só. A taxa Selic, fixada pelo COPOM, subiu de 2% para os atuais 12,75%, sendo que deverá subir um pouco mais nas próximas reuniões do colegiado do BC.

O bear market tupiniquim anterior ocorreu no segundo semestre do ano passado, mais precisamente de 15 de junho a 25 de novembro. Nesse período, o Ibovespa levou um tombo de 18,66%, causado pelo encolhimento da economia resultante do surto de Covid.

Passemos aos Estados Unidos, onde a queda das Bolsas veio para arrebentar. 

Tendo feito uma máxima de todos os tempos no dia 4 de janeiro deste ano, o índice industrial Dow Jones caiu 14% até agora. A situação do S&P500 foi ainda pior (para os touros, é claro). Praticamente no mesmo período, perdeu 18,36% de seu valor. Finalmente temos o Nasdaq. Assim como foi o que mais cresceu na época das vacas gordas, o índice composto principalmente de empresas de tecnologia, literalmente despencou de 16.000 para 11.150, uma queda de 30%.

Três fatores foram os responsáveis por esse bear market americano:

 - Inflação decorrente da monetização dos cidadãos com doações em dinheiro, provocando inclusive uma alta no custo da mão de obra semiqualificada (trabalhadores e entregadores de cadeias de fast food, etc.)

 - Demora do FOMC — Federal Open Market Committee (Comitê Federal de Mercado Aberto) — em agir preventivamente para evitar um surto inflacionário, que acabou se revelando o maior das últimas quatro décadas: 8,5% a.a. em março de 2022.

− Diminuição da produção industrial causada pela falta de insumos.

Regredindo ainda mais no tempo, e voltando a falar sobre o Ibovespa, tombaço mesmo ocorreu quando do surgimento da Covid-19 na China e sua irradiação pelo mundo, inclusive chegando ao Brasil. Esse bear market foi tão violento quanto fugaz. Em pouco menos de três meses, entre 6 de janeiro e 30 de março de 2020, o índice de ações da B3 caiu 40%.

Lá fora, no mesmo período, e com intensidade parecida, o Industrial Dow Jones desabou 34%, o S&P 500, 32% e o Nasdaq, 28%.

Todos esses bear markets mostrados acima tiveram como consequência o surto de Covid, a inflação decorrente da pandemia e, por fim, a guerra russo-ucraniana.

Os ciclos anteriores do urso foram causados por fatores totalmente distintos.

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O principal deles foi a crise do subprime. Melhor explicitando: uma bolha no mercado de hipotecas que resultou numa quase quebradeira de instituições financeiras nos Estados Unidos.

Esse “quase” ficou por conta do governo americano que salvou grandes empresas, como a General Motors, por exemplo, da falência, emprestando dinheiro à montadora de Detroit, tendo como garantia ações da própria companhia.

As duas maiores sociedades de crédito imobiliário, Fannie Mae e Freddie Mac, foram socorridas pelo Tesouro para não quebrarem. Quem não escapou foi o banco Lehman Brothers, que foi à falência.

Durante essa crise do subprime, que durou aproximadamente dois anos, no final da década de 2000, o Dow Jones caiu 45%, o S&P500, 43% e o Nasdaq quase 50%. Na época, o então presidente Lula disse que, se a crise chegasse ao Brasil, seria apenas uma marolinha.

Não foi propriamente assim: o Ibovespa se desvalorizou em 45%, o mesmo percentual de seus congêneres americanos, sem que houvesse nenhuma crise imobiliária por estas bandas.

De 1994 para trás, não adianta procurar bear markets no Brasil. O país era urso permanente. Vivíamos a hiperinflação e qualquer mês em que as bolsas de São Paulo e do Rio ficassem estáveis era uma perda colossal.

O negócio aqui era especular com ações da então Cia. Vale do Rio Doce (atual Vale) e da Petrobrás (atual Petrobras).

Pesquisando o passado das bolsas americanas, não é tão fácil encontrar bear markets. Anterior ao do subprime, o mais próximo é o decorrente dos ataques de 11 de setembro de 2001.

Só que ali foi uma coisa diferente, na qual corretoras, como a Cantor Fitzgerald, que ocupava cinco andares no alto da torre sul do World Trade Center e perdeu quase todo o seu corpo de funcionários, foram literalmente destruídas.

Retrocedendo até 1929 e a Grande Depressão dos Anos Trinta, não é tão fácil encontrar bear markets.

Isso é animador.

Pode-se perceber que eles são raros e não duram para sempre. Muito pelo contrário. Costumam representar excelentes oportunidades de compra de ações.

Um ótimo fim de semana para todos. 

 

Ivan Sant’Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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