Caro(a) leitor(a),
Bull trap, bear trap, são expressões muito usadas em Wall Street.
A primeira é quando o mercado dá sinais bem visíveis de que vai subir, os traders compram e, pouco depois, ou no dia seguinte, as cotações desabam.
Bear trap é justamente o contrário. Tudo indica uma baixa, os investidores e especuladores tratam de liquidar suas posições, ou até mesmo vendem a descoberto, e o mercado sobe feito um foguete.
Esta semana tivemos um exemplo claro desse fenômeno, no caso o bull trap.
Na quarta-feira, dia 4, o FOMC (Federal Open Market Committee, colegiado do Federal Reserve Bank, equivalente ao nosso COPOM), se reuniu para definir a dose de aumento da taxa básica de juros.
O mercado se dividiu. Alguns profissionais achavam que a alta seria de meio por cento (50 pontos), outros de 0,75% (75 pontos).
Criou-se então a suposição de que se o FOMC optasse pelos 50, seria Bolsa pra cima. Setenta e cinco, Bolsa pra baixo.
Deu 50 na cabeça. Como a opção do FED foi pela hipótese menor, os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq deram uma arrancada que perdurou até o fechamento.
Veio então a armadilha. Na noite de quarta para quinta, com a cabeça encostada no travesseiro, a maioria dos traders deve ter pensado algo como:
“Pô, que diferença faz meio por cento ou três quartos? O que interessa é que o FED está preocupado com a inflação ao mesmo tempo em que a economia cresce e o desemprego cai. Então eleva as taxas. Isso é bullish, muito bullish para o dólar.”
Dito e feito: o euro encostou nas mínimas de 20 anos, a libra esterlina, na cotação do auge da crise do Brexit e o franco suíço está se aproximando do par com o dólar.
Pois bem, como nos principais mercados todos os ativos são negociados em dólar, nada mais natural de que se depreciem.
Mas há exceções. O milho, por exemplo, está chegando à cotação máxima de todos os tempos, ocorrida há dez anos. Se a ultrapassar, e tudo indica que isso irá acontecer, o céu será o limite.
O gás natural, que tem a Rússia como segundo maior produtor mundial, só perdendo para os Estados Unidos, encostou numa máxima de 14 anos. Evidentemente que devido aos embargos do Ocidente.
Com relação às bolsas de valores, resta saber até onde é sensato elas caírem, sem que as ações se tornem uma pechincha.
Nesse cenário de queda abrupta de preços, e com a economia americana exibindo números de pleno emprego, logo os papéis de renda variável poderão reverter sua tendência em Wall Street.
No Brasil, a situação é diferente. Tudo indica que estamos no final de um ciclo de alta das taxas do COPOM.
Durante o processo, o spread de juros atraiu grande massa de capital externo especulativo, que trouxe a cotação do dólar de R$ 5,74 (21.12.2021) para uma mínima de R$ 4,60 (há exatamente um mês).
Temos aqui um paradoxo. Se nossas taxas de juros deixam de ser tão atrativas aos gringos, o capital começa a regressar às suas origens.
Nessa hipótese, que já está acontecendo, as ações brasileiras, mensuradas em dólar, ficam baratas. E, caso sejam de empresas exportadoras, têm seus lucros aumentados.
O mercado de renda variável no Brasil, no momento prejudicado pelos surtos de Covid em megalópoles chinesas, deve, em minha opinião, ser dividido em duas classes de papéis:
-
as que exportam sua produção e ganham com a alta do dólar e;
-
as que dependem do mercado interno. Estas, com algumas exceções, por enquanto devem ser deixadas de lado.
Um forte abraço e um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna