Mercadores da Noite #274: Small Ivan, Big Ivan

30 de abril de 2022
Acho esse negócio de bomba atômica de baixa potência muito perigoso. As grandonas, fora Hiroshima e Nagasaki, ninguém usou. Já esses mini artefatos, tenho lá minhas dúvidas.

Caro(a) leitor(a),

 

Na última quarta-feira, dia 27 de abril, o presidente russo Vladimir Putin ameaçou usar artefatos nucleares na guerra contra a Ucrânia caso os países da OTAN (NATO, nas iniciais em inglês) continuassem a fornecer armas convencionais de última geração às forças armadas ucranianas.

“Este é meu último aviso”, foram as palavras de Putin, que logo a seguir complementou: “Quero que todos saibam que não vamos ostentar nossas armas, mas vamos usá-las se for preciso. A resposta será rápida e certeira.”

Consta que hoje em dia existem bombas atômicas de baixa potência, cinicamente denominadas “armas táticas”. Elas podem destruir túneis, viadutos, estações de trem, quartéis e outros alvos dessa dimensão.

O problema é que já existem bombas de hidrogênio de mais de 50 megatons, infinitamente superiores às usadas em Hiroxima (Little boy) e Nagasaki (Fat man).

É evidente que se existe um artefato pequeno e outro descomunal é porque há uma enorme graduação entre um e outro.

Se a tal arma tática que Putin ameaça usar tem potência de 72 toneladas de TNT (ou 0,072 quilotons), suponho que, tanto a OTAN como a Rússia possuam artefatos de 0,1, 0,5 e até um quiloton inteiro, se é que podemos defini-lo assim.

No topo da escala, tem a russa RDS-220, mais conhecida por seus apelidos Tsar Bomb, King of Bombs e Big Ivan, com 100 megatons de capacidade.

Como qualquer pessoa sabe, essas armas servem apenas para dissuasão. É por isso que a Coreia do Sul nem ousa pensar em atacar sua irmã do norte.

Não acredito muito que Vladimir Putin tenha coragem de usar seus artefatos pequenos, pois seria o início de um processo que se sabe como começa, mas não como termina.

Embora preste alguma atenção às bravatas do presidente russo, o mercado está muito mais interessado em inflação, taxas de juros, perspectiva de recessão americana e europeia. Mas não deve se desligar do andamento dos combates extemporâneos que se travam entre Rússia e Ucrânia. 

Logo após o início da guerra fria, em 1949, quando a União Soviética explodiu sua primeira bomba no Cazaquistão, havia sério temor de uma guerra nuclear entre as duas potências.

Tanto é assim que, nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e na URSS havia milhares de abrigos nucleares subterrâneos.

Mais tarde, o arsenal atômico dos dois países tornou-se tão gigantesco que julgou-se, com razão, que jamais seria usado.

Houve exceções:

Por ocasião da crise dos mísseis de Cuba, em 1962, o presidente John Kennedy chamou os embaixadores dos países aliados (inclusive o brasileiro Roberto Campos) à Casa Branca e lhes alertou sobre a possibilidade de uma guerra atômica caso Nikita Khrushchev insistisse em instalar bases de foguete na ilha caribenha.

Nessa oportunidade, o índice Dow Jones caiu sete por cento ao longo de vários dias, o que, diga-se de passagem, não é lá grandes coisas se as pessoas realmente acreditassem numa destruição total, ou quase total, dos Estados Unidos.

Onze anos se passaram até que o alerta DEFCON 3 (grau intermediário numa escala de risco de conflito nuclear que vai de 1 a 5) fosse decretado, durante a guerra do Yom Kippur (outubro de 1973).

Eu narro esse episódio na página 213 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa:

“Agentes ocidentais, localizados no estreito de Dardanelos, captaram emissões de nêutrons procedentes de cargueiros soviéticos em rota para o Mediterrâneo. As Forças Armadas americanas entraram em estado de prontidão DECTON 3.”

O mesmo alerta nível 3 se repetiu em 11 de setembro de 2001. Simplesmente porque ninguém sabia o que havia por trás dos ataques a Nova York e Washington.

No momento atual, as ameaças de Vladimir Putin aos ucranianos e à OTAN não estão sendo consideradas pelos Estados Unidos como risco nuclear para o território americano.

Mas sugiro aos caros leitores que fiquem atentos ao desenvolvimento da guerra no leste europeu. 

Com um detalhe: Acho esse negócio de bomba atômica de baixa potência muito perigoso. As grandonas, fora Hiroshima e Nagasaki, ninguém usou.

Já esses mini artefatos, tenho lá minhas dúvidas.

Um ótimo fim de semana para todos.
 

Ivan Sant’Anna
 

Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., o Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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