Caro(a) leitor(a),
Na última quarta-feira, dia 27 de abril, o presidente russo Vladimir Putin ameaçou usar artefatos nucleares na guerra contra a Ucrânia caso os países da OTAN (NATO, nas iniciais em inglês) continuassem a fornecer armas convencionais de última geração às forças armadas ucranianas.
“Este é meu último aviso”, foram as palavras de Putin, que logo a seguir complementou: “Quero que todos saibam que não vamos ostentar nossas armas, mas vamos usá-las se for preciso. A resposta será rápida e certeira.”
Consta que hoje em dia existem bombas atômicas de baixa potência, cinicamente denominadas “armas táticas”. Elas podem destruir túneis, viadutos, estações de trem, quartéis e outros alvos dessa dimensão.
O problema é que já existem bombas de hidrogênio de mais de 50 megatons, infinitamente superiores às usadas em Hiroxima (Little boy) e Nagasaki (Fat man).
É evidente que se existe um artefato pequeno e outro descomunal é porque há uma enorme graduação entre um e outro.
Se a tal arma tática que Putin ameaça usar tem potência de 72 toneladas de TNT (ou 0,072 quilotons), suponho que, tanto a OTAN como a Rússia possuam artefatos de 0,1, 0,5 e até um quiloton inteiro, se é que podemos defini-lo assim.
No topo da escala, tem a russa RDS-220, mais conhecida por seus apelidos Tsar Bomb, King of Bombs e Big Ivan, com 100 megatons de capacidade.
Como qualquer pessoa sabe, essas armas servem apenas para dissuasão. É por isso que a Coreia do Sul nem ousa pensar em atacar sua irmã do norte.
Não acredito muito que Vladimir Putin tenha coragem de usar seus artefatos pequenos, pois seria o início de um processo que se sabe como começa, mas não como termina.
Embora preste alguma atenção às bravatas do presidente russo, o mercado está muito mais interessado em inflação, taxas de juros, perspectiva de recessão americana e europeia. Mas não deve se desligar do andamento dos combates extemporâneos que se travam entre Rússia e Ucrânia.
Logo após o início da guerra fria, em 1949, quando a União Soviética explodiu sua primeira bomba no Cazaquistão, havia sério temor de uma guerra nuclear entre as duas potências.
Tanto é assim que, nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e na URSS havia milhares de abrigos nucleares subterrâneos.
Mais tarde, o arsenal atômico dos dois países tornou-se tão gigantesco que julgou-se, com razão, que jamais seria usado.
Houve exceções:
Por ocasião da crise dos mísseis de Cuba, em 1962, o presidente John Kennedy chamou os embaixadores dos países aliados (inclusive o brasileiro Roberto Campos) à Casa Branca e lhes alertou sobre a possibilidade de uma guerra atômica caso Nikita Khrushchev insistisse em instalar bases de foguete na ilha caribenha.
Nessa oportunidade, o índice Dow Jones caiu sete por cento ao longo de vários dias, o que, diga-se de passagem, não é lá grandes coisas se as pessoas realmente acreditassem numa destruição total, ou quase total, dos Estados Unidos.
Onze anos se passaram até que o alerta DEFCON 3 (grau intermediário numa escala de risco de conflito nuclear que vai de 1 a 5) fosse decretado, durante a guerra do Yom Kippur (outubro de 1973).
Eu narro esse episódio na página 213 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa:
“Agentes ocidentais, localizados no estreito de Dardanelos, captaram emissões de nêutrons procedentes de cargueiros soviéticos em rota para o Mediterrâneo. As Forças Armadas americanas entraram em estado de prontidão DECTON 3.”
O mesmo alerta nível 3 se repetiu em 11 de setembro de 2001. Simplesmente porque ninguém sabia o que havia por trás dos ataques a Nova York e Washington.
No momento atual, as ameaças de Vladimir Putin aos ucranianos e à OTAN não estão sendo consideradas pelos Estados Unidos como risco nuclear para o território americano.
Mas sugiro aos caros leitores que fiquem atentos ao desenvolvimento da guerra no leste europeu.
Com um detalhe: Acho esse negócio de bomba atômica de baixa potência muito perigoso. As grandonas, fora Hiroshima e Nagasaki, ninguém usou.
Já esses mini artefatos, tenho lá minhas dúvidas.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna
Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., o Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!