Caros(as) leitores(as)
Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que esta crônica está sendo escrita após a invasão da Ucrânia, pela Rússia, e antes da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que apreciou o evento.
Pode ser que, para alguns leitores, o texto seja meio primário, mas suponho que para outros (principalmente os mais jovens) esclareça os fatos que precederam este conflito.
Antes mesmo do final da Segunda Guerra Mundial, na qual a União Soviética foi aliada dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, os dois lados começaram a se estranhar.
O primeiro-ministro inglês Winston Churchill chegou a ventilar, em conversas com seu parceiro ocidental Franklin Delano Roosevelt, a possibilidade de rearmar o exército alemão e, junto com esse contingente, continuar o avanço das tropas britânico-americanas rumo ao leste.
Com isso a fronteira entre as Europa Ocidental e Oriental seria movida em direção à fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. Roosevelt foi totalmente contrário a ideia, que não prosperou.
Adolf Hitler se suicidou em 30 de abril de 1945; a Alemanha se rendeu aos aliados oito dias mais tarde.
Imediatamente, soviéticos e aliados do Oeste passaram a se estranhar. A Alemanha foi dividida em quatro partes: americana, britânica, francesa e soviética. As três primeiras se uniram num único bloco, sobrando a quarta para os russos.
Como a capital, Berlim, ficava na zona destinada aos soviéticos, lá foi feita a mesma divisão. Daí ter surgido Berlim Oriental, mais tarde capital da República Democrática (ditaduras adoram pôr “democrática” no nome) Alemã (RDA).
Berlim tornou-se o primeiro ponto de atrito entre soviéticos e aliados ocidentais. Primeiro os russos demarcaram uma estreita faixa de terra através da qual os americanos, britânicos e franceses podiam se deslocar de sua zona para Berlim. Mais tarde, esse corredor foi fechado.
Berlim Ocidental passou a ser abastecido pela famosa Ponte Aérea de Berlim, que durou de 24 de junho de 1948 a 12 de maio de 1949.
Durante um discurso proferido no Westminster College, na cidade de Fulton, Missouri, em 5 de maio de 1946, Winston Churchill cunhou a expressão Cortina de Ferro, que dividia as duas Europas: capitalista e comunista.
Entre 6 de agosto de 1945, quando o bombardeiro americano B29 Enola Gay lançou a bomba atômica sobre a cidade de Hiroxima, e 29 de agosto de 1949, dia em que os soviéticos fizeram seu primeiro teste nuclear, em Semipalatinsk, no Cazaquistão, só havia uma superpotência: os EUA.
A partir daí, russos e americanos passaram a ter a capacidade de se destruir mutuamente.
Como já não havia possibilidades de guerra total entre as duas partes, iniciou-se a Guerra Fria. Essa expressão, por sinal, havia sido criada pelo escritor inglês George Orwell.
Para organizar a aliança ocidental, foi constituída a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), NATO nas iniciais em inglês. No início, os membros eram Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Grã-Bretanha e Estados Unidos.
Mais tarde, outros países se juntariam a eles.
Em represália, a União Soviética constituiu o Pacto de Varsóvia, tendo como integrantes, além dela própria, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia e República Democrática Alemã (Alemanha Oriental).
Durante sua existência, a OTAN só atuou na guerra dos Bálcãs, após o esfacelamento da antiga Iugoslávia.
Por seu lado, o Pacto de Varsóvia entrou em combate duas vezes, impedindo uma revolução na Hungria (1956) e outra na Tchecoslováquia (1968).
Com o colapso da União Soviética, o Pacto sofreu morte natural. Sobrou a OTAN, que não parou de receber novos “sócios”, entre eles antigos membros da aliança comunista, como Hungria, Bulgária, Polônia e os países bálticos.
Era para esse time que a Ucrânia queria entrar, quando Vladimir Putin se insurgiu. Não queria a OTAN colada em suas fronteiras.
Desculpem-me se fui muito acadêmico neste texto, mas é bom que o caro amigo leitor saiba os acontecimentos que antecederam os fatos que agora se desdobraram no conflito russo-ucraniano.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna
Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em Podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., o Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!