Mercadores da Noite #265: Europa em guerra

26 de fevereiro de 2022
É bom que o caro amigo leitor saiba os acontecimentos que antecederam os fatos que agora se desdobraram no conflito russo-ucraniano.

Caros(as) leitores(as)

Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que esta crônica está sendo escrita após a invasão da Ucrânia, pela Rússia, e antes da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que apreciou o evento.

Pode ser que, para alguns leitores, o texto seja meio primário, mas suponho que para outros (principalmente os mais jovens) esclareça os fatos que precederam este conflito.

Antes mesmo do final da Segunda Guerra Mundial, na qual a União Soviética foi aliada dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, os dois lados começaram a se estranhar.

O primeiro-ministro inglês Winston Churchill chegou a ventilar, em conversas com seu parceiro ocidental Franklin Delano Roosevelt, a possibilidade de rearmar o exército alemão e, junto com esse contingente, continuar o avanço das tropas britânico-americanas rumo ao leste.

Com isso a fronteira entre as Europa Ocidental e Oriental seria movida em direção à fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. Roosevelt foi totalmente contrário a ideia, que não prosperou.

Adolf Hitler se suicidou em 30 de abril de 1945; a Alemanha se rendeu aos aliados oito dias mais tarde.

Imediatamente, soviéticos e aliados do Oeste passaram a se estranhar. A Alemanha foi dividida em quatro partes: americana, britânica, francesa e soviética. As três primeiras se uniram num único bloco, sobrando a quarta para os russos.

Como a capital, Berlim, ficava na zona destinada aos soviéticos, lá foi feita a mesma divisão. Daí ter surgido Berlim Oriental, mais tarde capital da República Democrática (ditaduras adoram pôr “democrática” no nome) Alemã (RDA).

Berlim tornou-se o primeiro ponto de atrito entre soviéticos e aliados ocidentais. Primeiro os russos demarcaram uma estreita faixa de terra através da qual os americanos, britânicos e franceses podiam se deslocar de sua zona para Berlim. Mais tarde, esse corredor foi fechado.

Berlim Ocidental passou a ser abastecido pela famosa Ponte Aérea de Berlim, que durou de 24 de junho de 1948 a 12 de maio de 1949.

Durante um discurso proferido no Westminster College, na cidade de Fulton, Missouri, em 5 de maio de 1946, Winston Churchill cunhou a expressão Cortina de Ferro, que dividia as duas Europas: capitalista e comunista.

Entre 6 de agosto de 1945, quando o bombardeiro americano B29 Enola Gay lançou a bomba atômica sobre a cidade de Hiroxima, e 29 de agosto de 1949, dia em que os soviéticos fizeram seu primeiro teste nuclear, em Semipalatinsk, no Cazaquistão, só havia uma superpotência: os EUA.

A partir daí, russos e americanos passaram a ter a capacidade de se destruir mutuamente.

Como já não havia possibilidades de guerra total entre as duas partes, iniciou-se a Guerra Fria. Essa expressão, por sinal, havia sido criada pelo escritor inglês George Orwell.

Para organizar a aliança ocidental, foi constituída a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), NATO nas iniciais em inglês. No início, os membros eram Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Grã-Bretanha e Estados Unidos.

Mais tarde, outros países se juntariam a eles. 

Em represália, a União Soviética constituiu o Pacto de Varsóvia, tendo como integrantes, além dela própria, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia e República Democrática Alemã (Alemanha Oriental).

Durante sua existência, a OTAN só atuou na guerra dos Bálcãs, após o esfacelamento da antiga Iugoslávia.

Por seu lado, o Pacto de Varsóvia entrou em combate duas vezes, impedindo uma revolução na Hungria (1956) e outra na Tchecoslováquia (1968).

Com o colapso da União Soviética, o Pacto sofreu morte natural. Sobrou a OTAN, que não parou de receber novos “sócios”, entre eles  antigos membros da aliança comunista, como Hungria, Bulgária, Polônia e os países bálticos.

Era para esse time que a Ucrânia queria entrar, quando Vladimir Putin se insurgiu. Não queria a OTAN colada em suas fronteiras.

Desculpem-me se fui muito acadêmico neste texto, mas é bom que o caro amigo leitor saiba os acontecimentos que antecederam os fatos que agora se desdobraram no conflito russo-ucraniano.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna


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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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