Mercadores da Noite #264: Tête-à-tête em Moscou

19 de fevereiro de 2022
O que será que Bolsonaro foi fazer em Moscou, se o assunto Rússia neste instante é uma forte divergência com a OTAN?

Caros(as) leitores(as)

Antes da recente viagem de Jair Bolsonaro a Moscou, o presidente foi ridicularizado por boa parte da mídia.

“Vai se submeter a diversas humilhações, entre elas cinco testes de Covid, um deles meia hora antes do encontro com Putin”, publicou um jornal.

“Eles vão pôr Bolsonaro a dez metros de distância do presidente russo”, debochou outro. 

Vieram então as filmagens e fotos. Ambos sem máscara, Vladimir e Jair trocaram apertos de mão. Se sentaram a pouco mais de um metro de distância durante as conversas.

Ao final, fizeram declarações à imprensa em pódios situados lado a lado.

Quem esperava ver os dois chefes de governo sentados às cabeceiras de uma mesa gigante, tal como aconteceu nos encontros de Vladimir Putin com Emmanuel Macron (presidente francês) e Olaf Scholz (chanceler alemão), quebrou a cara. 

Fiquei pensando com meus botões: o que será que Bolsonaro foi fazer em Moscou, se o assunto Rússia neste instante é uma forte divergência com a OTAN?

Muito cá entre nós, nesse entrevero de cachorros grandes a opinião do Brasil não tem a menor importância. Muito menos temos condições de pleitear a condição de mediador.

Foi nesse momento que me deu um estalo na cabeça:

“E se Bolsonaro foi lá justamente para aparecer pertinho do colega russo, inclusive dando-lhe a mão, e usar a foto durante a campanha eleitoral?”

“Ambos sem máscara”, antes que eu me esqueça. 

Bolsonaro não diz que a vacina é inócua e até prejudicial? Não fala que máscara é um acessório inútil? Não se cansa de se aglomerar com populares, inclusive comendo pastel na feira, com o rosto totalmente descoberto?

Quem melhor para legitimar essas afirmações e atitudes espúrias de nosso exótico presidente do que o Czar de Todas as Rússias?

Imaginem essas imagens nas mãos de um bom marqueteiro, que pode até ser Carlos Bolsonaro, o Número 2, que por sinal integrou a comitiva que foi a Moscou.

Ninguém vai se lembrar que, antes de Jair Messias, estiveram com Putin no Kremlin os presidentes argentino Alberto Fernández e turco Recep Erdogan. Ambos sem máscara. Ambos de mãos dadas com o colega russo.     

O que Vladimir Putin fez foi tratar com desdém o presidente francês e o chanceler alemão, parte de sua estratégia para evitar que a Ucrânia se junte à OTAN. 

Supostamente, a pauta do encontro Brasil/Rússia seria a compra de fertilizantes, produto do qual eles são nossos maiores fornecedores. Fosse essa a verdade, então por que nossa comitiva não levou nenhuma autoridade dos setores agrícola e econômico? 

Na quinta-feira, dia 17, matei a charada ao ler o site de O Globo.

O único acordo assinando entre Brasil e Rússia, durante a viagem de Bolsonaro ao Kremlin, foi um protocolo sobre a nomenclatura de documentos, função essa que poderia ter sido exercida por um funcionário da embaixada brasileira em Moscou e outro do ministério russo das Relações Exteriores.

O tête-a-tête do capitão com o czar foi apenas uma jogada política das muitas que teremos até as eleições de outubro.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna


Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em Podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., o Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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