Caros(as) leitores(as)
Antes da recente viagem de Jair Bolsonaro a Moscou, o presidente foi ridicularizado por boa parte da mídia.
“Vai se submeter a diversas humilhações, entre elas cinco testes de Covid, um deles meia hora antes do encontro com Putin”, publicou um jornal.
“Eles vão pôr Bolsonaro a dez metros de distância do presidente russo”, debochou outro.
Vieram então as filmagens e fotos. Ambos sem máscara, Vladimir e Jair trocaram apertos de mão. Se sentaram a pouco mais de um metro de distância durante as conversas.
Ao final, fizeram declarações à imprensa em pódios situados lado a lado.
Quem esperava ver os dois chefes de governo sentados às cabeceiras de uma mesa gigante, tal como aconteceu nos encontros de Vladimir Putin com Emmanuel Macron (presidente francês) e Olaf Scholz (chanceler alemão), quebrou a cara.
Fiquei pensando com meus botões: o que será que Bolsonaro foi fazer em Moscou, se o assunto Rússia neste instante é uma forte divergência com a OTAN?
Muito cá entre nós, nesse entrevero de cachorros grandes a opinião do Brasil não tem a menor importância. Muito menos temos condições de pleitear a condição de mediador.
Foi nesse momento que me deu um estalo na cabeça:
“E se Bolsonaro foi lá justamente para aparecer pertinho do colega russo, inclusive dando-lhe a mão, e usar a foto durante a campanha eleitoral?”
“Ambos sem máscara”, antes que eu me esqueça.
Bolsonaro não diz que a vacina é inócua e até prejudicial? Não fala que máscara é um acessório inútil? Não se cansa de se aglomerar com populares, inclusive comendo pastel na feira, com o rosto totalmente descoberto?
Quem melhor para legitimar essas afirmações e atitudes espúrias de nosso exótico presidente do que o Czar de Todas as Rússias?
Imaginem essas imagens nas mãos de um bom marqueteiro, que pode até ser Carlos Bolsonaro, o Número 2, que por sinal integrou a comitiva que foi a Moscou.
Ninguém vai se lembrar que, antes de Jair Messias, estiveram com Putin no Kremlin os presidentes argentino Alberto Fernández e turco Recep Erdogan. Ambos sem máscara. Ambos de mãos dadas com o colega russo.
O que Vladimir Putin fez foi tratar com desdém o presidente francês e o chanceler alemão, parte de sua estratégia para evitar que a Ucrânia se junte à OTAN.
Supostamente, a pauta do encontro Brasil/Rússia seria a compra de fertilizantes, produto do qual eles são nossos maiores fornecedores. Fosse essa a verdade, então por que nossa comitiva não levou nenhuma autoridade dos setores agrícola e econômico?
Na quinta-feira, dia 17, matei a charada ao ler o site de O Globo.
O único acordo assinando entre Brasil e Rússia, durante a viagem de Bolsonaro ao Kremlin, foi um protocolo sobre a nomenclatura de documentos, função essa que poderia ter sido exercida por um funcionário da embaixada brasileira em Moscou e outro do ministério russo das Relações Exteriores.
O tête-a-tête do capitão com o czar foi apenas uma jogada política das muitas que teremos até as eleições de outubro.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna
Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em Podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., o Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!