Mercadores da Noite #249: Minhas encruzilhadas – Epílogo

6 de novembro de 2021
Foi um privilégio ter escrito esta crônica em quatro capítulos. E mais ainda ter percorrido os caminhos que aqui narrei.

Caro(a) leitor,

Nos primeiros episódios de Carga Pesada, trabalhei sob a orientação de Leopoldo Serran, que era o principal roteirista da série (havia outros), cabendo a mim o trabalho, e os créditos, de colaborador.

Passados alguns meses, Serran se desentendeu com a direção da Globo e foi demitido. Após dois ou três episódios solo, nos quais fui meticulosamente avaliado, fui promovido a roteirista. Mais tarde me transferiram para a série Linha Direta.

Em setembro de 2007, fui demitido por telegrama. A direção da emissora decidiu não incluir o Linha na grade de 2008 e optou por dispensar toda a equipe. Não cheguei a ter dor de cotovelo, pois o Carga Pesada também acabou na mesma ocasião.

Felizmente eu publicara, pela editora Objetiva, Bicho Solto, livro no qual fui ghost writer de meu sobrinho Fred Pinheiro. Ele, menino de classe média alta, se viciara em drogas pesadas dos 11 aos 19 anos, época essa em que chegou a ser bandido de morro.
    
Quase morreu ao injetar nas veias água da lagoa Rodrigo de Freitas misturada a pó de cocaína, o que lhe valeu uma hepatite C.

O que interessa é que ficou totalmente curado, da doença e da dependência química. Hoje mora em Belo Horizonte, onde divide seu tempo entre as profissões de fotógrafo e artesão de joias.

Como sou workaholic e nunca durmo no ponto, escrevi Plano de ataque, sobre os atentados de 11 de setembro, livro que novamente me pôs na lista de best-sellers.

Em nome de Sua Majestade, Projeto Maratona, Perda Total, Herança de Sangue, 1929, O Terceiro Templo, Bateau Mouche... eu me transformara numa máquina de escrever. Trabalhava também para a BM&F, onde redigia a coluna Bulls & Bears.

Em 2008, vendi os direitos autorais de Os Mercadores da Noite para a R. T. Features (Rodrigo Teixeira). Recebi uma boa grana, mas o filme até hoje não foi produzido.

A mesma R. T. me convidou para passar 40 dias no Paquistão, Afeganistão e Qatar, numa viagem de pesquisas para o livro Terra de Fronteira, com a intenção de transformá-lo em filme. Só que ainda não saiu.

Mas valeu a pena percorrer o subcontinente asiático e parte do Golfo Pérsico.

Tive a oportunidade de conhecer Islamabad, Rawalpindi, Lahore, Faisalabad, Multan, Karachi, Mohenjo Daro (com mais de 5 mil anos de história), Quetta e o passo Khyber, de onde passei para o Afeganistão, tal como fizeram Ciro, o Grande, Dario, da Pérsia, Genghis Khan e 30.000 ingleses dos quais morreram 29.999 no reinado da rainha Victoria.

Em Doha, no Qatar, fiquei preso por 17 horas por ter entrado no país sem visto, até que a cônsul brasileira, Cláudia, conseguiu me liberar e pude conhecer o país.

De volta ao Brasil, o novo marco em minha vida foi Voo Cego, livro que escrevi em parceria com o comandante Luciano Mangoni.

Foi um tremendo sucesso? Não.

Toda vez que lanço um livro, no primeiro dia após a publicação já sei se será sucesso ou não, pela quantidade de e-mails que recebo de leitores.

Se em Caixa-preta já encontrava minha caixa-postal lotada ao ligar o computador pela manhã, Voo Cego foi o oposto.

Por uma tremenda coincidência, no dia seguinte ao do lançamento de Voo Cego, a direção da Inversa me convidou para ir a São Paulo, onde me fariam uma proposta de trabalho.

Me esqueci de dizer que sofro de arritmia cardíaca e que já passara por uma ablação. Pois bem, enquanto conversava com o pessoal da Inversa, um relógio especial que uso no pulso marcou frequência cardíaca de 132 batidas por minuto.

Me sugeriram correr para o Hospital Albert Einstein.

“Pra morrer”, eu disse, “prefiro que seja no avião ou no Rio.”

Do aeroporto Santos Dumont já segui de ambulância para a Casa de Saúde São José, onde eu havia nascido 76 anos antes. Fui direto para o CTI e, de lá, para um centro cirúrgico.

Sob anestesia geral, fui submetido a um ecodopplercardiograma transesofágico que mostrou a necessidade de novo procedimento de choques no coração, o que foi feito imediatamente, aproveitando a sedação.

Daqui a três meses completo cinco anos de Inversa. Nesse tempo, escrevi quase duas mil crônicas. Participei de palestras presenciais e online, escrevi séries, minisséries, três livros (10 Crônicas de um Trader, 30 Lições de Mercado e Coração de Trader), este último a ser lançado no mês que vem ou em janeiro de 2022.

Gravei uma série de aulas sob o título de Seu Mentor de Investimentos. Fiz algumas viagens, sempre acompanhado do laptop.

Num voo diurno de 12 horas entre Londres (onde mora minha filha caçula) e o Rio, produzo no mínimo três crônicas. O mesmo fiz nas areias brancas da ilha de Barbados ou na fazenda de um amigo.

São 63 anos ininterruptos de trabalho.

Às vezes me iludo pensando que ainda terei tempo de escrever mais uns dez livros e, quem sabe, uma série televisiva ambientada numa trading desk.

Foi um privilégio ter escrito esta crônica em quatro capítulos. E mais ainda ter percorrido os caminhos que narrei aqui.

Um forte abraço em todos vocês, caros amigos leitores e leitoras.

Até o próximo sábado.

Ivan Sant'Anna

 

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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